Phelipe Guilherme Maciel 23/12/2016Uma crítica social pesada disfarçada de romance.Jorge Amado teve duas épocas específicas de sua vida, a primeira durante o engajamento político, fez grandes livros de cunho social, tais como O País do Carnaval, Cacau, Capitães da Areia, Jubiabá, etc. A segunda fase é fortemente de cunho regionalista, livros tais como Dona Flor e Seus Dois Maridos, Farda & Fardão & Camisola de Dormir, Gabriela Cravo e Canela, O Sumiço da Santa, etc.
Estamos falando aqui de um livro da época de critica social. Jorge Amado aqui mistura todas as raças, todos os credos, todos aqueles que vivem a pobreza. Conta a história de jovens que sofrem, que sentem fome, a dor do abandono, a desilução, e cuja única arma é ser um fora da lei. Mas que lei é essa, que só serve para alguns?
Para escrever este livro, Jorge Amado precisou morar com os moleques favelados da Bahia, para entender como realmente era a vida e o modo de vida que eles levavam. Seus livros foram queimados em praça pública, considerados perigo nacional. Realmente era. A crítica feita aos ricos, aos poderosos, aos homens de farda, era demasiado forte. No livro, Amado não faz distinção entre negro, banco, imigrante, nordestino, sulista, ali naquela Bahia de Todos os Santos, havia moleques de toda parte, convivendo com a mesma pobreza.
A estrutura do livro é linda. Inicia com o que seria notícias de jornais, com a visão dos ricos, dos policiais, de um padre pobre, de uma mãe de moleque pobre, sobre os capitães da areia. A primeira parte do livro, conta as historias dos molequinhos, seus roubos e aventuras. A segunda parte da história é um romance curto e sofrido que envolve toda a molecada. E a terceira etapa do livro mostra o destino dos pequenos fora da lei.
Um livro com certeza modificador de caráter, que te faz pensar, e infelizmente, ainda muito atual. Como eu queria dizer que NOS TEMPOS DE JORGE AMADO SE PENSAVA ASSIM E ASSADO. Infelizmente, 80 anos após o lançamento de Capitães da Areia (considero-me já em 2017), ainda vivemos numa sociedade que vive e pensa como aquela de 1937.
Esse romance é mais antigo que meu avô, que nasceu em 1945, e permanece atual, jovial como os moleques safados do Trapiche.
Poderia ser diferente. Leitura obrigatória.