O avesso da pele

O avesso da pele Jeferson Tenório




Resenhas -


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Leila de Carvalho e Gonçalves 08/01/2021

Tiro Na Cabeça
Em O Avesso da Pele, seu terceiro romance, Jefferson Tenório eviscera o processo de construção e introjeção do racismo em nosso país, ao colocar em pauta a morte de um negro durante uma abordagem policial.

Um assunto que reporta a uma conjuntura inaceitável: o racismo como política de Estado. Conforme relatório produzido pela Rede de Observatórios da Segurança Pública, pretos e pardos são as principais vitimas da violência no país e representam ?75%? do total de mortos pela polícia.

A bem da verdade, O Avesso da Pele é o romance certo na hora certo. Afora a pandemia, 2020 será lembrado pela onda de protestos que varreu o planeta, após o brutal enforcamento do afrodescendente George Floyd por um policial branco durante o cumprimento de uma ordem de prisão, nos Estados Unidos. Um episódio emblemático cuja letalidade infelizmente faz parte do nosso dia a dia, escancarando as diversas nuances de um racismo estrutural que Tenório soube explorar com habilidade ao trazer para a ficção.

Tendo como cenário Porto Alegre, cidade que se destaca pela grande desigualdade social entre brancos e negros, a narrativa gira ao redor de um homem comum. Nem herói nem vilão, Henrique é um professor de literatura cujo único único legado são as aulas que deu para seus alunos.

Quem narra sua vida é Pedro, o único filho. Ou melhor, ele ?reinventa? a vida do pai recém-falecido, já que Henrique foi um pai pouco presente, ?não sabia ser pai da forma que o jovem esperava?, mas por quem nutre um grande afeto. Fugindo de qualquer idealização que possa tornar a perda mais aceitável, esse subterfúgio é capaz ?capaz de por Pedro de pé? diante da tragédia e como ele mesmo explica: ?Eu sei que essa história pode estar apenas na minha cabeça, mas é ela que me salva?.

Para tanto, ele estabelece um diálogo intersubjetivo com o pai morto, usando com frequência o vocativo ?você?, o que confere empatia com o leitor. De acordo com Tenório: ?trata-se de uma falsa segunda pessoa?, inclusive, também há uma terceira pessoa, empregada para narrar fatos da vida de Martha, mãe do jovem. Enfim, apesar de parecer simples, O Avesso da Pele exibe uma estrutura engenhosa e até complexa.

Outro aspecto que merece a atenção é a presença de inúmeras referências literárias ao longo da narrativa, algo compreensível, à medida que seu protagonista é um professor de literatura. Pouco antes da morte, Henrique planejava incluir em suas aulas ?Kafka, Cervantes, James Baldwin, Virginia Woolf e Toni Morrison?. Hamlet, de Shakespeare, que também se debruça sobre o assassinato de um pai, no caso, rei da Dinamarca, está na epígrafe e influenciou o primeiro capítulo. Já Crime e Castigo, de Dostoiévski, ao propor a investigação de uma mente criminosa, não só fascinou Henrique ainda adolescente, como depois de décadas continua fascinando seus alunos. Por outro lado, a culpa e o medo, que dominam Raskólnikov, pode ser percebida no policial responsável por disparar o tiro derradeiro, direto na cabeça do professor.

Finalmente, concluo com Henrique: ?É necessário preservar o avesso. Preservar aquilo que ninguém vê. Porque não demora muito e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina nosso modo de estar no mundo. E por mais que sua vida seja medida pela cor, por mais que suas atitudes e modos de viver estejam sob esse domínio, você, de alguma forma, tem de preservar algo que não se encaixa nisso, entende? Pois entre músculos, órgãos e veias existe um lugar só seu, isolado e único. E é nesse lugar que estão os afetos. E são esses afetos que nos mantêm vivos.? ??

Nota: Optei pelo e-book e recomendo.
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nat do pj 13/10/2023

Demorei um pouco pra me apegar ao livro. o final não me surpreendeu muito, mas ainda assim eu chorei em algumas partes! to meio ????
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Mateus Ferreira 29/01/2023

De início foi meio lento para mim, só consegui pegar o ritmo e entender como era a narrativa em 30%, depois não consegui mais largar.

Um Livro necessário, e em alguns momentos lembrava de acontecimentos parecidos com pessoas próximas a min e até comigo mesmo.

Um livro que ficará marcado em min por muitoooo tempo.

" É necessário preservar o avesso, você me disse. Preservar aquilo que ninguém vê."
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Oliveira263 22/02/2023

O Avesso da Pele
Esse livro é foda. No começo achei um pouco confusa a descrição da narrativa, mas depois me acostumei. Refleti bastante durante a leitura deste livro e posso dizer que a leitura ficará marcada.
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J.â­ 14/03/2024

Simplesmente espetacular, conta uma trsite história baseada em nossa sociedade, um conto triste, mas incrível, apagaria da minha memória pra que eu pudesse sentir novamente o prazer que foi lê-lo a primeira vez
Fernanda3048 14/03/2024minha estante
Uma obra fantástica, que infelizmente caiu nas garras dos fanáticos políticos e religiosos. Não me recordo ao certo, mas esse livro está sendo banido de algumas escolas brasileiras , o pretexto é o mais absurdo possível.




sullen 17/07/2023

Essencial
O autor cria uma narrativa onde as palavras deslizam, o que é muito difícil de se fazer quando se trata de assuntos pesados iguais aos que são apresentados no livro. Acho que nunca vou esquecer esse texto e certamente recomendo a todas as pessoas!!
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Larissa 08/02/2023

Me fez refletir sobre a realidade de muitas pessoas. E é muito triste pensar nisso, que ainda hoje pessoas são condenadas pela cor da pele.
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liaentrelivros 07/05/2024

No sul do país, um corpo negro será sempre um corpo em risco
Eu quis reler algumas partes dessa obra antes de fazer a resenha, pois, durante a leitura estava passando por uma semana de caos na faculdade. Chorei tudo o que eu não tive tempo de chorar antes.

"Na primeira vez que ouviu falar em consciência negra, você não compreendia que a sociedade se importava mais com a sua cor do que com o seu caráter."

Pedro começa a história no dia em que precisou ir até o apartamento de seu pai recém-falecido, e entre objetos e lembranças nos narra a trajetória de seus pais - Henrique e Martha - na cidade de Porto Alegre. Os capítulos são narrados entre a infância e adolescência de um e de outro, o encontro e a separação de duas pessoas marcadas por um cotidiano reduzido a esteriótipos e regras de convivência de uma sociedade racista.

"Quando pela primeira vez você ouviu a palavra 'negritude', o seu entendimento sobre a vida tomou outra dimensão, e você se deu conta de que ser negro era mais grave do que imaginava."

Formado em Letras, Henrique dedicou a vida ao magistério, outra luta árdua contra a escola e o desinteresse dos alunos pelos livros. Desencantado com a profissão, foi aos poucos se tornando apenas um operário, até começar a lecionar Português para uma turma noturna do EJA e se deparar com sobreviventes de um sistema que corrobora para que os jovens da periferia abandonem os estudos. E em uma aula sobre Crime e Castigo ele finalmente consegue a atenção desses alunos. Uma chama de esperança se acende, tão forte, tão intensa, que ele nem percebe, a caminho da escola, quando os policiais fazem a abordagem pela milionésima e última vez.

"Quando você morre, quando seu coração para, não importa o que você fez com sua vida, não importa quantos planos você deixou para trás, quantas pessoas você magoou, quantas te magoaram, quantas vezes você perdeu ou ganhou. Importa apenas o que você estava fazendo no momento da sua morte."

Pedro termina sua história contando a relação que tinha com os pais separados: de um lado, a mãe controladora, que descontava nele a insegurança do abandono de um casamento falido, e do outro lado, o pai pouco afetuoso de quem ele tentava se aproximar e ganhar a mesma importância que seus livros. É aí que está o avesso da pele, o que você significa para os outros, o que você carrega dentro de si e o que a sociedade não pode tocar. O abismo de viver confinado aos limites do que lhe é permitido de acordo com o seu tom de pele.

Não é à toa tanta polêmica em torno de O Avesso da Pele, não é preciso ter lido para saber o que constrange de verdade os falsos moralistas. É mais fácil censurar um livro do que chamar os jovens à discussão sobre assuntos tão pertinentes do nosso cotidiano. O incômodo de ler sobre cenas de sexo deveria ser menor do que se reconhecer em falas e atitudes racistas, mesmo quando despretenciosas. É saber que fazer parte do coro "bandido bom é bandido morto", muitas vezes é concordar com a violência policial cada vez mais normalizada nas estatísticas. É apagar sonhos de quem tenta fazer a diferença na vida das pessoas, seja através da educação, seja através da arte. É se conformar com a dor de quem perdeu um familiar por um erro, mas que precisa continuar, porque é vida que segue.

"Tenho Ogum em minhas mãos porque agora é a minha vez."
@bibliotecadedramas 08/05/2024minha estante
caramba que resenha bem feita!


liaentrelivros 08/05/2024minha estante
Obrigada, Ju! ??




fernanda.panetta 27/03/2024

Leitura obrigatória
Que escrita envolvente! Precisa, com detalhes, quase se sente a dor dos personagens
Triste história que se repete com frequência no Brasil.
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Cayo.Fellype 10/04/2024

?Vocês não eram equilibrados o suficiente. Vocês eram equilibristas. A corda bamba como terreno dos afetos.?

Fico pensando como uma diretora qualquer teve a capacidade de fazer uma crítica tão superficial sobre esse livro, que tem uma discussão tão profunda e atual, por simplesmente o livro ter algumas palavras explícitas. Me pergunto se ela é tão inocente ou só ignorante por achar que adolescente nunca falou na vida palavras como p** e b*****.

Tão triste que temas que deveria ter ficado no século passado, ainda ser tão atual e forte. Se você leu esse livro e não conseguiu refletir ou sentir algo sobre a gravidade das coisas que ainda acontecem no nosso país, me desculpa, mas tem algo de errado.

Um livro essencial e necessário, uma leitura fundamental para discussão da sociedade brasileira e uma oportunidade de aproximação com o racismo que tantas vezes é colocado de lado e uma obra linda, emocionante e potente. Não é uma leitura leve, apesar de extremamente fluida.
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Felipe 16/03/2024

Acredito que esse livro seja sobre ausências. Ausência do poder do Estado em dar melhores condições de trabalho aos professores, e consequentemente maior qualidade no ensino para os alunos; ausência de afeto que os personagens tiveram durante sua vida toda, e quando em alguns momentos tiveram o mínimo, não sabiam lidar com esse sentimento, e por conta disso, tornaram as relações entre eles, difíceis e doloridas; ausência de debates sobre os males que o racismo, que está impregnado em nossa sociedade, vem causando ao longo da história da humanidade, e por conseguinte ausência de soluções para esses males.

Em geral, a tentativa de silenciamento dessa história no Brasil, é também a tentativa de não querer dialogar sobre as feridas que permanecem abertas acerca das questões raciais, violência policial e baixa qualidade do ensino no país.
helioojunior 22/03/2024minha estante
??




Alessandra.Murari 19/03/2024

Apenas leiam.
Livro totalmente necessário! Retrata a realidade dos negros em várias etapas de suas vidas. Quem nao faz parte do grupo de minorias, vive e não chega nem perto de sentir o que se passa na pele de quem sente.
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Day-n 05/02/2022

Necessário, doloroso, profundo e realista.
A forma como o avesso da pele é narrada provavelmente seja algo que não agrade muito, como no começo pareceu um empecilho para mim. No entanto, é uma leitura tão necessário para entender o que é negritude, o que exatamente seria "raça" que não consegui abandonar. É necessário, porque me fez enxergar mais além, desde que decidir parar de viver em uma bolha porque achava o racismo cruel demais, entendi que só estava me machucando em não aceitar que vivemos em um sistema falho. É doloroso, mas consegue ser mais quando você prefere se enganar. Não chorei, como imaginei que iria, mas a tristeza vai estar sempre presente.
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LetAcia1104 15/03/2024

Eu acredito que um dia alguém que entenda mais (de tudo) vai ler esse livro e dar nome a um novo sentimento.
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Julia 09/06/2023

"Você sempre dizia que os negros tinham de lutar,
pois o mundo branco havia nos tirado quase tudo
e que pensar era o que nos restava. É necessário
preservar o avesso, você me disse. Preservar
aquilo que ninguém vê. Porque não demora muito
e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina
nosso modo de estar no mundo. E por mais que
sua vida seja medida pela cor, por mais que suas
atitudes e modos de viver estejam sob esse
domínio, você, de alguma forma, tem de preservar
algo que não se encaixa nisso, entende? Pois entre
músculos, órgãos e veias existe um lugar só seu,
isolado e único. E é nesse lugar que estão os
afetos. E são esses afetos que nos mantêm vivos".
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