Thaisa 18/04/2024
Noemí, uma bela e jovem socialite que vive na Cidade do México nos anos 50, recebe uma importante missão: após Catalina, uma prima próxima, se casar com um desconhecido e mudar rapidamente para uma pequena cidade do interior, ela escreve uma carta para a família totalmente confusa, estranha e enigmática, demonstrando estar com a saúde mental abalada e pedindo a companhia de Noemí. É assim que ela embarca em uma viagem para a cidadezinha, conhecendo a nova e antipática família de Catalina, afim de passar algumas semanas neste macabro casarão enquanto tenta ajudar, de alguma forma, a prima, que além de ter sido diagnosticada com tuberculose, recita palavras incompreensíveis e frases pouco coesas - mas seu marido, o aristocrata Virgil Doyle, parece não estar abalado pelo comportamento da esposa...
Noemí, então, recorre à outros meios para ajudar Catalina, mas quanto mais ela revolve este casarão e seus moradores, mais acontecimentos estranhos irão se revelando; e entre sonhos febris e incoerentes, uma inexplicável conexão com antigas moradoras e as falas e os atos indizíveis de membros da família, Noemí cairá, mais e mais, em um buraco do qual talvez não consiga sair.
O título é perfeito, já que a ambientação gótica e a cultura mexicana são importantes na construção narrativa. Além disso, a autora decide apresentar uma trama com diversas camadas, desde a superficial, onde encontramos uma história de terror clichê, até uma grande analogia sobre a sociedade machista, racista e xenofóbica, abordando temas como o colonialismo, o sexismo, a luta pelo poder, a mentalidade de colmeia, os relacionamentos abusivos, a toxicidade familiar, a objetificação da mulher, o absurdo da eugenia, a sororidade como libertação, entre outros.
Garcia também utiliza elementos como a abelha e a cobra para representar o mal que ronda essa casa e como o sobrenatural pode ser muito menos assustador do que a crueldade humana.
Gostei bastante da escrita da autora, apesar de achar que, em alguns momentos, a história se arrasta mais do que deveria e poderia ser muito mais concisa.
Também é importante mencionar que "Gótico Mexicano" presta homenagem à diversas obras marcantes do horror (pela narrativa ou pelas temáticas) e é possível vislumbrar uma amálgama de "O Papel de Parede Amarelo", de Charlotte Perkins Gilman, "O Bebê de Rosemary", de Ira Levin, "Drácula", de Bram Stoker, "O Caso de Charles Dexter Ward", de H. P. Lovecraft, "A Assombração da Casa da Colina", de Shirley Jackson, entre muitos outros.
No geral, além de ter gostado bastante do livro, achei ele necessário e intrigante, já que a autora soube como explorar o cenário mexicano da época e transformar os pesadelos da vida real em uma narrativa fever dream aterrorizante em toda a sua loucura.
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