spoiler visualizarBia 20/06/2014
Quem é Você, Alasca? [John Green]
> 1ª pessoa, protagonista homem
> Sem imagens
> PONTO POSITIVO: além da capa bonita (da menina), acredito que o fato de o personagem ser viciado em últimas palavras e o grande “enigma” que ronda o livro após Miles conhecer Alasca: como fazemos para sair deste labirinto?
> PONTO NEGATIVO: infelizmente, descobri que John Green aparentemente tem ideias parecidas para livros. Sempre a perda do “par romântico” do protagonista – como aconteceu em A Culpa é das Estrelas – de uma forma ou de outra.
Muito bem. Eu preciso dizer, antes de tudo, que só comecei a ler esse livro após meu questionamento ao final de A Culpa é das Estrelas: “será que os outros livros do Green fazem sucesso porque eles são realmente bons ou porque se apóiam no sucesso de A Culpa é das Estrelas?”.
Assim sendo, eu resolvi começar meu “método científico/literário” e baixei todos os outros livros do autor para ver se eles eram realmente bons, se tinham histórias parecidas ou se eram ruins e se apoiavam somente no sucesso de ACEDE.
Não houve um motivo muito seletivo para minha investigação ter começado por Quem é Você, Alasca?, vou somente o primeiro livro que eu consegui baixar. Nenhum tipo de preferência e pretendo ser o mais imparcial possível – confesso que impliquei um pouco com Teorema Katherine, porque achei a sinopse e a proposta do livro simplesmente uma das mais idiotas que já vi, mas isso não me impediria que ter começado com o livro.
Quem é Você, Alasca? não nos mostra, claramente, o protagonista. Na verdade, logo de cara fica bem clara a intenção de John Green: colocar toda a atenção e foco na menina Alasca, que iremos conhecer somente quando Miles/Gordo for estudar no internato. O que me levou a interpretar que Miles seria um daqueles protagonistas “passivos”, que não tem tanta influência na história e que só estão ali para presenciar os acontecimentos e “transmitirem” todas as coisas importantes – que acontecem e vem de outros personagens – para o leitor. Eu, sinceramente, não gosto muito de protagonistas assim – que não vivem absolutamente nada – gosto de protagonistas que tenham certa atitude, e tenham certo nível de profundidade para passar aos leitores ou seus próprios traumas, etc, etc.
Com o começo da leitura, logo percebemos que Miles é mais um daqueles garotos solitários que não têm muitos amigos e que são extremamente influenciáveis e fazem qualquer coisa somente para se “integrarem” com o grupo ou ficar perto de alguém. Não suporto gente assim, meu primeiro desejo era de que Miles morresse de cara. Quem sabe ele não poderia morrer? John Green adora matar pessoas, pelo que andei sabendo.
Mas como meu objetivo não era analisar parcialmente a história, eu me aprofundei muito mais nas mensagens, complexidade dos personagens e escrita do John Green, além, é claro, da história em si para poder comparar todos esses aspectos com A Culpa é das Estrelas e saber se o livro realmente merecia tanto sucesso assim – não, não acho que eu seja a Deusa da Literatura para poder julgar se livros são ou não merecedores de sucesso, mas acho injusto quando livros fazem sucesso apoiados no sucesso de outros.
A escrita de Quem é Você, Alasca? é bem parecida, de fato, com a de A Culpa é das Estrelas. Bem jovial, livre e espontânea. Sem amarras de ‘formalidade’ ou algo do gênero. O livro não possui tantas referências locais (como acontece com Celular, do Stephen King. Há inúmeras referências locais à Boston e outros locais dos Estados Unidos e quase sempre eu tinha que conferir as notas de rodapé para entender a piada que ele fez ou qualquer outra menção. Isso me irrita), o que é uma benção, e também não possui muitas “piadas não-traduzíveis” – como acontece com “A Maldição do Tigre”: muitas piadas só têm graça porque estão na língua em que foram feitas, e quando se traduz, perde totalmente a graça. Isso acontece especialmente com trocadilhos. O autor faz um trocadilho em inglês, mas quando se traduz... Fica extremamente tosco (por isso é interessante que a pessoa leia o original, para entender a graça e até ter outra impressão sobre o livro – quando for possível, é óbvio).
Também temos aqui personagens não muito complexos. Miles, especialmente, é o menos complexo ali. O garoto é um livro aberto e nem seus pensamentos e dúvidas são complexos o suficiente. Coronel talvez seja um pouco mais, mas com certeza o personagem mais complexo e ilegível era Alasca.
Sem dúvidas nenhuma dá para compreender porque o título do livro é “Quem é Você, Alasca?”. 1) a Alasca é o único personagem complexo naquele maldito livro, a única que parecia ter vida própria e a única que tinha algum nível de profundidade sentimental ou emocional, 2) convenhamos, Alasca era muito mais interessante que Miles ou Coronel. Se o livro fosse “Quem é Você, Miles?”, acha que alguém iria ler? Absolutamente que não e 3) Miles é um “pé no saco”, se o livro fosse especificamente sobre ele eu estaria absurdamente morta de tédio.
De qualquer forma, esses foram claramente os argumentos mais importantes para o fato de que o livro tem toda a sua atenção voltada para Alasca, peitos de Alasca, como Alasca é doida, como ela é profundamente maluca, como suas emoções são fora de controle, como ela não bate bem, como sua família é complicada e como sua história é meio triste. Alguém mencionou Miles/Gordo? Acho que ninguém se interessa por ele, na verdade.
O nosso protagonista é um daqueles garotos que... Passa em branco. Apesar de ele até ser interessante – gostar de últimas palavras, por exemplo, é um dos hobbies mais exóticos e interessantes que já vi – e bem certinho, além de ávido por amigos, Miles é um garoto que passa em branco. Ele passou por aquela escola, mas não deixou nenhuma marca. Ele passou por Alasca, mas não deixou nenhuma marca.
E se tudo o que acontece com Alasca, acontecesse com ele? Alguém sentiria falta? Acredito que não.
Alasca é uma garota que deixa impressões nas pessoas. Não somente por ela ser forte, mas por ela ser interessante, instigante, por ela ser... Exótica e misteriosa (e não preciso comentar que eu invejei demais a grande estante dela).
De qualquer forma, tirando os personagens e o porquê do título ser este de foco, acredito que o que tenha realmente me interessado no livro inteiro foi a grande questão levantada por Alasca: como saímos deste labirinto?
Acho que esse foi um dos temas mais interessantes que eu já vi em livros adolescentes por aí. Como saímos deste labirinto? Morrendo? Será que essa era realmente a resposta de Alasca? Será que foi isso que ela quis dizer o tempo inteiro desde o começo do livro, ao fumar seus cigarros desmedidamente? A gente precisa morrer para se ver livre? O que precisamos fazer, afinal de contas?
Gostei muito, muito mesmo dessa discussão e dessa reflexão. Ainda mais, gostei muito de verdade da reflexão final: proposital ou não? (quem leu, sabe do que estou falando). Para mim, em um dado momento, foi proposital sim.
Pensem comigo. Tudo aquilo havia acontecido, e ela finalmente se deu conta do que Miles e o resto se dão mais tarde (a data). Pensamentos sobre sua vida, as mortes, o futuro, ela mesma... E fim. Saiu do labirinto. Não é tão mais fácil? Basta ter uma centelha de coragem, e tudo acaba. E você sai do labirinto.
Mas será que sair do labirinto é a saída? Será que tudo o que importa é sair mesmo do labirinto? Acredito que o que importa seja chegar ao final do labirinto, chegar à saída sem arrebentar as paredes pelo caminho – que eu acredito que tenha sido o que aconteceu.
Eu gostei muito desse debate interno que John Green nos proporcionou. Acho que foi uma das melhores partes do livro inteiro, e o que fez valer a pena a leitura. Fora isso, sinceramente, nada valeu. Achei Miles influenciável, achei a parte da escola, em si, entediante e foi uma grande “encheção de lingüiça para chegar ao ponto onde John Green queria” e achei que, sinceramente, muitas vezes o autor queria tocar num assunto, mas... Ele lembrava que crianças de 12 anos iriam ler e então mudava de assunto. Quero dizer. Por que ele não amadurece as histórias dele?
Por que John Green não escreve para adultos? Ele tem tantos bons temas em mente, tantas coisas realmente interessantes, mas... Ele insiste em escrever para crianças de 12 anos, com boa parte das histórias sendo idiota e quando vai entrar em assuntos verdadeiramente interessantes (como religião, neste livro mesmo!), ele desvia.
É decepcionante.
Então, chegando a minha conclusão. Acho que este livro até vale o sucesso que tem. Ele proporciona muitas reflexões sobre diversos temas e não é tão parecido assim com A Culpa é das Estrelas, o que me faz pensar que justamente por isso ele merece o sucesso que teve: se fosse parecido com A Culpa é das Estrelas, não mereceria o sucesso já que seria uma cópia-cola do outro.
Vamos ver os outros.
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