Jana 02/04/2013
Quem precisa de Londres quando se tem Pagford?
Eu não queria ler esse livro. J.K. Rowling é responsável por uma das maiores alegrias da minha vida (Snape, te amo!) e, quando eu soube que seu livro inédito de afastava completamente da proposta de Harry Potter,adquiri um pré-conceito terrível. Achei que ia ficar decepcionada.
Mas, claro que se tratando da tia Rowling, algo assim jamais iria acontecer.
A primeira coisa que se deve ter em mente (e creio que todas as críticas estão dando esse mesmo aviso) é: esqueça Harry Potter. Esqueça a magia,os personagens puros. Não espere encontrar qualquer homenagem ou correspondência - o único elemento que temos em comum entre as obras é que a autora é a mesma. E acaba por aí.
Em Morte Súbita, temos um típica cidade pequena, onde todos se conhecem e sabem da vida de todo mundo. Nas proximidades de Pagford, temos uma vila problema chamada Fields, que está sob a jurisdição do imaculado vilarejo. E, no meio de tudo isso, temos o Conselho de Pagford. Um local tranquilo e supostamente entendiante,até que um dos conselheiros mais importantes - Barry Fairbrother - cai duro de forma prematura. E a partir dessa morte, todos os acontecimentos futuros são desencadeados.
Barry morre nas primeiras páginas, mas seu nome é citado no livro todo. É partir da morte desse cara que o vilarejo pacífico vai se revelando, assim como seus moradores. Todo mundo conhece todo mundo? Acho que não é bem assim.
Nesse livro temos diversos personagens e somos apresentados a todos no decorrer das primeiras páginas. Claro, é difícil se lembrar de todos os nomes o no início, mas, conforme suas histórias vão se aprofundando, percebemos elementos íntimos da personalidade de cada um. Logo, me peguei odiando alguns e amando outros. Mas, independendo do sentimento, nos envolvemos na vida desses moradores de Pagford de uma forma impressionante - e é aí que reside a beleza da obra de Rowling. Cada personagem consegue despertar algo no leitor, uma reação profunda que faz com que a história fique ainda mais real.
Porque Morte Súbita é, sem dúvida, um livro realista. Cruel até. Temos de tudo nele: sexo, drogas, juventude e maturidade transviadas, traição, relações familiares distorcidas.É muito forte e com cenas, inclusive, detalhistas. Cada personagem tem suas motivações, seu passado, seus desejos e segredos. E todos eles estão relacionados de alguma forma: nenhuma fala ou ação é descartável e existem diversas ligações, mesmo que indiretas.
E com tantos personagens, acaba acontecendo também uma identificação. Pequenas características que fizeram com que eu encontrasse um pedacinho de mim em alguns deles. Por isso, eu me descobri tensa com o destino que os aguardava, o que mostra o grau de envolvimento que tive com essa história. Tenho que destacar as páginas finais, nas quais Rowling utiliza pequenas cenas, aparentemente desconectadas, para culminar num acontecimento que transformará o modo que muitos dos personagens estavam agindo até então. Foi incrível.
Eu, sinceramente, amei esse livro. J.K. Rowling provou que sua habilidade não pode ser limitada por um gênero: ela assumiu os riscos e lançou mais uma obra de extrema qualidade. Sério, leia esse livro. Talvez você não goste, talvez se decepcione. Mas vale os riscos. Eu ri, quase chorei, me indignei e fiquei com raiva. Valeu a pena. Longa vida á Pagford.