Ramiro.ag 02/11/2023
"Morrer é simples; não viver é que é horrível."
"As pessoas oprimidas não olham para trás. Elas sabem muito bem que a má sorte as segue."
Eu simplesmente não sei como desenvolver uma resenha que esteja à altura desse livro, o que eu sinto nesse momento é apenas privilégio. Privilégio por poder ter tido acesso a uma obra da literatura tão grandiosa, privilégio por poder ter em mãos não só um livro, mas um pedaço vivo de história.
Foi uma experiência que me trouxe muitas emoções, que me puxou ao limite, me fez sentir medo, esperança, indignação, pena e empatia. Não brinco quando digo que existia uma versão de mim antes desse livro, e uma versão de mim depois desse livro.
"É sempre a mesma história. Aqueles pobres seres, aquelas criaturas de Deus, a partir de então sem apoio, sem guia, sem abrigo, foram entregues à própria sorte, quem sabe? Cada um a seu modo, talvez, afundando pouco a pouco na fria bruma que engole os destinos solitários, mornas trevas onde tantas cabeças desafortunadas desaparecem sucessivamente na sombria marcha do gênero humano."
A obra nos estapeia com a realidade dura e crua, sem adoçar nada, escancarando com as duas mãos a podridão da sociedade, a injustiça social, a hipocrisia, a desigualdade e o abandono. Esse último, o abandono, nunca me fez refletir tanto quanto agora, ele não escolhe hora nem lugar, criança ou velho, simplesmente agarra um indivíduo e o leva até o subsolo da existência, abandonado pela sociedade, pelos entes, e por ele mesmo.
No entanto, apesar de tanta miséria, a luta do homem com ele mesmo fica bem presente, a luta contra sua consciência, e a tentativa de cumprir seu dever consigo mesmo apesar da situação caótica. Personagens como Jean Valjean e o Gavroche vão ficar comigo pelo resto da vida, o primeiro por sempre batalhar contra a sua consciência, o segundo por ser luz mesmo frente a um abismo.
Enfim, poderia comentar sobre inúmeras passagens do livro, sobre inúmeros personagens e inúmeras cenas, mas nunca seria suficiente. Que livro, meus amigos, falo com todas as letras: uma obra prima.
"Escuridão, sujeira, tristeza; e de tudo isso emanava uma impressão austera e augusta, porque nisso se podia sentir essa grande invenção humana que se chama lei e essa grande invenção divina que se chama justiça."