beatriz 11/08/2023
"Cegos que, vendo, não vêem."
Leitura densa e agonizante, não só pela escrita em si, como também pelo conteúdo descrito.
Retrato cru e genuíno do ser humano em sua mais pura essência, com uma narração capaz de provocar no leitor os mais diversos sentimentos acerca dos acontecimentos relatados no livro, mas predominantemente desconforto e desespero. Além das inúmeras reflexões sobre a condição humana em sociedade, e a necessidade e complexidade dos vínculos e relações criados nesse ambiente.
"Há muitas maneiras de tornar-se animal, pensou, esta é só a primeira delas."
"Na verdade ainda está por nascer o primeiro ser humano desprovido daquela segunda pele a que chamamos egoísmo, bem mais dura que a outra, que por qualquer coisa sangra."
"Não há no mundo nada que em sentido absoluto nos pertença, outra não menos transparente verdade."
"Não seria, seria só uma fadiga infinita, uma vontade de enrolar-se sobre si mesma, os olhos, ah, sobretudo os olhos, virados para dentro, mais, mais, mais, até poderem alcançar e observar o interior do próprio cérebro, ali onde a diferença entre o ver e o não ver é invisível à simples vista."
"Este é o retrato do meu corpo, pensou, o retrato do corpo de quantas aqui vamos, entre estes insultos e as nossas dores não há mais do que uma diferença, nós, por enquanto, ainda estamos vivas."
"Todos temos os nossos momentos de fraqueza, ainda o que nos vale é sermos capazes de chorar, o choro muitas vezes é uma salvação, há ocasiões em que morreríamos se não chorássemos"