Coruja 08/07/2010AlternânciaOlha, se nada mais de positivo vier desse livro além do fato de apresentar ao leitor Rilke, eu já fico satisfeita. Já disse aqui antes que não sou uma aficionada por poesia, mas Rilke é um daqueles raros poetas que te arrebatam. O fato de nosso lobinho volta e meia declamá-lo contou muitos pontos para esse livro.
Eu gostei da forma como a autora narra a história, a cadência das palavras – há qualquer coisa de singelo, de terno, quase poético em sua forma de escrever. Não sei se isso é ou não mérito da tradução – talvez eu tenha de dar uma lida na versão em inglês depois para descobrir isso.
Ainda assim, eu tenho um porém com Calafrios. A autora escolheu escrever seu livro em primeira pessoa, alternando os pontos de vista dos protagonistas Sam e Grace. Eu acredito que ela teria acertado mais se tivesse escrito em terceira pessoa onisciente.
A questão é que quando você escreve em primeira pessoa, você dá vida ao personagem; mais que uma personalidade adivinhada através das entrelinhas do texto, ele tem voz e estilo próprios. Um tom que é apenas seu.
Essa é uma diferença que pode ser muito sutil, mas que deveria estar presente. Cada pessoa tem sua forma de pensar (eu, por exemplo, penso em listas e fazendo conexões bizarras entre coisas que não têm nada a ver. Talvez eu devesse dizer que penso em forma de palavras cruzadas...) e de se expressar.
Se há uma alternância de pontos de vista, também deveria haver uma alternância de vozes – o que não acontece entre os capítulos de Sam e Grace. Eles se expressam da mesma forma, no mesmo tom. Não há qualquer diferença de discurso entre os dois, eles são como uma única entidade.
Mas, bem, tem o segundo volume vindo por aí; talvez ele corrija essa pequena falha... Talvez não...