spoiler visualizarCassia26 12/08/2023
Ao vencedor, as batatas
Este livro conta inicialmente a história de Quincas Borba o filósofo humanista, cujo melhor amigo era um cão, seu herdeiro, inclusive de mesmo nome. Além disso, possuía um grande amigo, Rubião, professor, e em certo aspecto, discípulo de Quincas Borba. Quincas Borba apresenta desvaneios, desatinos, o que que faz Rubião temer a opinião pública, tendo em vista que deixara suas atividades para dedicar- se ao amigo. Quincas Borba decide viajar, revisitar suas origens, por lá morre, não antes sem ter deixado testamento dos seus bens. Sem esperar, mas ao mesmo tempo esperando com temor e expectativa, Rubião descobre-se herdeiro integral das riquezas do amigo, com único adendo e requisito, cuidar do cão com zelo, sem reservas. Não por gosto, ele assim o faz, não sem antes tentar ver-se livre da obrigação moral de cuidar do cão. Rubião logo ve-se inquieto, desejoso de novos ares e experiências, viaja ao Rio de janeiro. A caminho conhece um casal, Palha e Sofia. Essa amizade se desenrola ao longo do livro, cresce, alterna-se entre apreço, luxúria, avareza, aproveitamentos e uma boa dose de concessões e favores mútuos. Rubião, por sua clara simplicidade e desapego, vê se rodeado de supostos amigos. Chega ao ponto de já nem mais ser senhor e gestor de suas finanças. Sua casa torna- se pousada de urubus, interesseiros amigos, visitantes assíduos, inclusive, a despeito da presença do dono. Rubião segue a vida solteiro ate o fim, mas não passa ileso a uma forte e proibida paixão. Ama secretamente, embora nem tanto, Sofia, a esposa do seu amigo. Sofia por sua vez, devociona com astúcia e falsos pudores o marido, mas guarda em si desejos proibidos por um certo Carlos Maria, a quem casa com sua prima. Como Quincas, Rubião enlouquece, loucura sabida por todos e friamente ignorada, tolerada, aproveitada e explorada. Ao contrário de sua personalidade natural, nos acessos de loucura, via-se grande, imperador, encarnando personagem, falas, modos e barba de Napoleão, por vezes, outros. Termina seus dias alternando entre consciência e delírio. Enfim, Machado de Assis trata de temas muito relevantes e delicados, como: casamentos e amizades por conveniência e interesses, ainda que mesclados por desejos sinceros; loucura; conflitos morais diversos do ser humano; solidão; ócio ;luxúria; dissimulacões; avareza; política; e muitas desventuras e peças pregadas pela vida. Toda a narrativa sustenta-se em uma simples e sagaz afirmação: "ao vencido, ódio ou compaixão, ao vencedor, as batatas".
Gostei muito da linguagem. O livro é quase que completamente escrito em terceira pessoa. Da "trilogia" este ficou no 2 lugar do meu ranking, logo após Dom Casmurro e seguido de Memórias Póstumas. É muito interessante ver as interconexões entre os três livros.