Claire 06/07/2021
Kerri Maniscalco não deveria escrever fantasia.
A sinopse do livro é promissor e a proposta é muito boa. Mas o livro não atinge expectativas, nem mesmo aquelas que são mais baixas. A escrita de Kerri é direta e simples, algumas vezes, isso é ruim. E no caso de Kingdom of The Wicked, é do jeito ruim. É uma fantasia, esperamos por momentos mágicos e cenas épicas, mas o livro falha miseravelmente nessa entrega.
A autora parece não ter se decidido no que queria colocar no livro, então, ela coloca diversas criaturas diferentes, mas não tem interesse nenhum em explicar sobre elas ou sequer colocar uma introdução ou algo que encaixe na história. É como um mágico, tirando um coelho da cartola, mas sem a magia verdadeira. Eu tinha grandes expectativas para a criação de mundo, já que a cultura italiana é um dos únicos pontos fortes do livro, é bem introduzida e utilizada. Não existe quase nenhuma descrição de cenário e isso dificulta na hora de se introduzir na história, você não consegue visualizar, mas isso não é o maior dos problemas.
Não é possível fazer uma conexão ampla com a história e os personagens, tudo acontece meio jogado. Parece que a autora teve preguiça de escrever diálogos e cenas. O livro é em primeira pessoa, então, deveríamos entender e perceber quando a protagonista chega em uma conclusão. Mas isso não acontece. No final de um capítulo, somos deixado de um modo e no começo do outro, tudo mudou e a protagonista tem um novo elemento da história, que não existia antes e sequer foi apresentado na história ou mencionado muito rápido. Enquanto coisas mais óbvias e mencionadas, a protagonista ignora como se ninguém tivesse dito nada. Coisas que estavam muito óbvias e ditas em palavras, mas a protagonista não para pra analisar ou pensar sobre elas.
A protagonista Emília, é uma criança muito burra e é difícil se conectar com ela. Sua personalidade muda constantemente e embora a autora justifique isso pela sua repentina perda, não é possível visualizar essa mudança de forma positiva. É muito mal feita e mal escrita. Não transmite seu luto, não transmite quase nenhuma emoção. Apesar dos avisos de sua avó, ela se mantém cética, mesmo quando o óbvio bate na cara dela e deveria ao menos gerar uma desconfiança, ela se faz de idiota e finge que estão errados, preferindo uma teoria sem lógica nenhuma. Ela é guiada pelo seu luto e por seu desejo de vingança. Mas na hora que finalmente chega em uma conclusão e precisa criar um confronto, ela recua e desiste. Promete morte e vingança, mas é a última coisa que ela faz. Escolhe a "misericórdia" por até um príncipe do inferno ser misericordioso. Isso não faz o menor sentido, estava disposta a matar, promete e não faz nada, tentando se apoiar em uma situação que era COMPLETAMENTE diferente.
Seus diálogos são pobres, sua construção é muito pobre também e mal desenvolvida. Acredito que muitos dos diálogos eram para ser chocantes e passarem uma ideia de rainha poderosa, mas só me fez dar risada do quão tosco aquilo era. O quão tosco ela conseguia "vencer" príncipes do inferno e ser mais "astuta", quando ela claramente não estava sendo. Poucos foram os momentos que você poderia dar crédito para ela sobre algo inteligente, e mesmo assim, não eram grandes coisas.
Uma das coisas que mais me irritou, era na confiança seletiva dela. Uma hora ela confiava e na outra, desconfiava pelos motivos mais toscos possíveis. É compreensível que em livros de romance, tenha uma reviravolta onde o mocinho e a mocinha brigam, tem uma confusão. Mas aqui, o motivo foi tão ridículo e sem nexo, não deu nem para levar a sério. Ela insistia em dizer que sua confiança foi traída, mas o motivo era sem sentido nenhum.
Foi tudo muito pobre aqui. Me irritou muito toda vez que a autora colocava algo novo e a protagonista pensava sobre isso do nada, sendo que não existia nada ali para que ela pudesse ter usado pra chegar naquela conclusão. Além dos vilões previsíveis e muito mal feitos, foi um desserviço. Vejo muita gente enaltecendo seus livros sobre serial killers, mas para quem tem um pé nesse estudo e nesse meio, ela não soube desenvolver assassinatos misteriosos e vilões. Não soube desenvolver quase nada.
Não conseguimos sentir pena da Vittoria ou tristeza por sua partida. Wrath é o melhor personagem que aparece (e isso não significa grande coisa, é um mocinho cativante e só). Conhecemos dele muito pouco. E para o príncipe do inferno, inimigo da Emília e entre outras coisas, ele me pareceu muito molezinho e sem recursos. Os recursos dos príncipes do inferno, em um geral, só apareciam quando a autora queria para criar uma enrascada. Mas misteriosamente, a Emília conseguia dobrar todos eles em seguida.
A coisa que mais me decepcionou, foi o jeito que as coisas se concluíam. Cenas de ações, onde a protagonista se via sem saída, resolvidas por coisas ridículas e sem sentido. E o final, foi o ápice da burrice da Emília e ainda é tratado como um grande golpe de mestre.
É bem interesse o ponto sobre bruxas e sobre os príncipes do inferno, só é triste que a autora tenha preguiça de ter desenvolvido e adicionado detalhes nisso. É bem promissor, só faltou desenvolvimento e falta de preguiça.
Sei que minha resenha pode fazer parecer que eu odiei, mas não. Não por completo. Talvez eu leia o segundo livro, tem bons elementos. Só faltam ser desenvolvidos. A interação da protagonista e do protagonista, são muito boas e por um tempo, foi um bom enemies to love, até desandar. Se Kerri tivesse um revisor e um editor para avisar, se eles tivessem conseguido estruturar melhor e Kerri não tivesse preguiça de escrever, tinha potencial para ser um livro de fantasia incrível. No entanto, é bem meia boca.