becka 24/04/2021
Escrever essa resenha foi difícil porque tem tanta coisa que quero dizer que foi difícil reunir tudo em um texto só, mas enfim vou tentar. A ambientação é algo que realmente me incomoda nesse livro, porque apesar de se passar em 1991; você não sente que está em um tempo diferente do nosso, não se sente ambientado em uma época diferente nem em um lugar diferente com costumes e valores diferentes, e referências musicais não constituem uma boa ambientação, você pode ouvir música ?antiga? em qualquer época, alguns colegas que leram o livro até esqueceram que se passava em 91 pela ambientação ser bem... rasa, pra dizer o mínimo.
O romance me incomodou, muita gente odeia instalove então definitivamente não seria o livro certo pra muitos, mas eu gosto de instalove desde que seja bem feito, desde que o autor saiba mostrar que apesar de uma conexão inicial forte, ele sabe construir o casal e me fazer sentir a conexão deles durante essa construção e pessoalmente não consigo gostar de um casal se eles não tem uma boa construção, já que pra eu torcer por um casal enquanto estão juntos eu preciso me apaixonar por eles antes de estarem juntos, então não rolou comigo, já que a autora parece achar que por bastante cena de sexo é realizar uma construção de casal; o livro tem sim bastante sexo, mas o que estranhei foi a maneira como o sexo se organiza na história; literalmente parece que a construção de casal nessa proposta é o sexo, afinal enquanto não estavam juntos rolava sexo o tempo inteiro e quando ficaram parou, o que mostra que nessa história construir é igual a sexo e isso não faz muito sentido.
Outro ponto é a representatividade bissexual, primeiro lugar: o autor ser bissexual não torna ele um escritor que sabe escrever representatividade, pra escrever qualquer coisa mesmo que você seja parte da comunidade, você tem que estudar e etc e pessoas cometem erros mesmo assim, então esse tipo de discurso que muita gente faz não tem sentido, mas enfim; me remetendo ao livro, a representatividade é meio... duvidosa, as cenas de sexo antes deles ficarem juntos eram em suma maioria entre três personagens de gêneros opostos, era quase como se a história gritasse: somos muito bissexuais olha nosso sexo a três, não teria problema ter sexo a três contanto que não passasse essa mensagem, que definitivamente não é boa. E outra coisa que me incomodou, foi que por ?coincidência? ou não, a maior parte dos personagens não mono citados na história estavam envolvidos em situações que os faziam não serem confiáveis: Kold traiu a confiança e estava em uma relação com a namorada do amigo, a namorada do amigo que também não é mono também estava traindo ele e era a ?má? da história e a ex da Chloe também esteve envolvida em situações de manipulação e outras coisas, sendo coincidência ou não; é muito estranho logo os personagens bissexuais estarem nessas situações, a única que não está envolvida em situações duvidosas é a protagonista, que ?coincidentemente? é uma das que está nas várias cenas de sexo a três que a história parece gritar: olha como somos bissexuais, fazemos sexo com pessoas de gêneros diferentes. Sem ser que a definição usada pra definir o gosto de uma pessoa é no mínimo.... duvidosa, falando que gostam de pessoas independente do gênero delas, é uma definição em discussão na comunidade por meio err.
Agora falando sobre a construção de mundo, essa foi a parte que definitivamente menos me agradou. Nada fazia sentido, nem parecia se esforçar pra ter um sentido na verdade, a organização do inferno não foi realmente explorada; mas sem ser isso outras inúmeras perguntas aparecem, como um demônio pode morrer? A própria definição de ser um demônio diz que ela não pode so sumir, tem que ir pra um lugar ou pra outro e como é uma criatura advinda do inferno, não tem sentido a história dar a desculpa de só sumir pra chocar o leitor com algo que não tem sentido, a história apesar de dizer que cada religião acertou um pouco; da indícios de que segue mais a religião católica/evangélica pela formação de céu e inferno e as maiores citações e referências serem da Bíblia; se não for isso, fica ainda pior porque a história literalmente não fala sobre os próprios conceitos direito, então você tem de adivinhar já que nada nesse mundo é explicado direito e quando é explicado é de forma conveniente, enfim as perguntas sem respostas... Noah altera as regras do inferno e coloca a Chloe como rainha, como ele pode fazer isso? Como ele pode alterar as regras do inferno se ele só foi posto em um lugar e tecnicamente não poderia fazer isso? Como demônios podem so sumir? Por que tem uma arma que pode matar o diabo e por que o diabo a possui?(isso literalmente não faz sentido nenhum) se Deus é onipotente, onipresente e onisciente como ele não viu que Lilith tinha enganado o Noah e porque a pior punição foi pro Noah se esse foi o caso? são várias e várias perguntas que não tem resposta, de uma história que não se esforçou pra fazer sentido. Até a questão do pai da Chloe, não tem uma explicação decente pra ele ter conseguido deixar de ser parte do céu e passar a viver entre humanos, anjos supostamente não tem gênero definido também então como ele virou pai?
Eu poderia ficar ok sobre as coisas se a história oferecesse alguma explicação sequer sobre o mundo que fez, mas não tem; pelas referências você assume que ela segue a estrutura de religiões, mas se seguir nada faz sentido e se não seguir; é como se fosse um mundo vazio de uma história vazia. O Noah também é um incômodo, porque a história parece se esforçar pra eximir ele da culpa de tudo que fez, como se ele fosse um cara bonzinho que tem muito rumor ruim a respeito dele e não fosse responsabilidade do mesmo tudo que já fez, sendo que a proposta de ler isso era... encontrar o diabo??? Sim, ele não precisa ser todo malvadão, mas como ele é... só é meio... decepcionante, a maturidade dos dois aliás também parece ser a mesma, mesmo que o Noah tenha séculos e séculos de idade e a Chloe 21 anos, o que deixa as coisas meio vazias entre eles pra mim.
Toda a participação da Lilith também não fez muito sentido, se Lilith enganou todos como Deus não viu isso? Como encaixaram machismo em um acontecimento de tanto tempo atrás onde isso não se encaixava? Parece que a pessoa que escreveu isso olhou uma thread sobre Lilith no twitter e colocou na própria história pra ficar legal, mas só soou vazio assim como muitas outras coisas. A Chloe inclusive ir confrontar a Lilith foi bem... burro; tipo, como fazem uma mortal falar como uma imortal daquele jeito? Fiquei me perguntando porque ao invés de fazer aquele papinho de filme com vilao contando plano maléfico só não mataram ela logo. Sem ser ela indo fazer com os dois demônios pra arrancar informações deles fingindo que já sabia de tudo e eles entregando tudo pra ela de bandeja, parecia uma cena de um filme de sessão da tarde.
A história também parece ter um problema com o propósito dela, parece andar em círculos em torno de si mesma e que o cenário fantástico foi só uma desculpa pra fazer personagens gostosos e muito fodões; já que você vai andando e andando e não tem bem um propósito, até parece que o diabo é mais uma pessoa qualquer e o final da Chloe foi extremamente conveniente, apesar de dar gancho pra um segundo livro em partes e eu entender um pouco da decisão, a execução so deixou todo o cenário conveniente demais e pareceu que queria chocar o leitor, quando eu só fiquei... sério? Matar personagem pra reviver no mesmo livro e deixar eles poderosos é a coisa mais conveniente possível, eu até gostei da cena dele pedindo pra ela voltar mas em geral não funcionou direito.