Luisa 06/04/2023
Deixei passar um bom tempo da leitura pra resenha, então vão ficar as memórias que tenho do que queria escrever assim que terminei :)
em a casa dos sonhos, carmen maria machado expõe seu relacionamento abusivo com mulher que inicialmente parecia, de fato, um sonho. ?ela não é a primeira mulher por quem você se apaixona, nem a primeira mulher que você beija, nem mesmo a primeira mulher com quem você transa. mas é a primeira mulher que deseja você desse jeito - com um quê de obsessão.?
carmen conta essa história de uma maneira muito única. os capítulos não seguem uma ordem cronológica, nem mesmo seguem a mesma estrutura: ?casa dos sonhos como um, casa dos sonhos como aula sobre o subjuntivo, casa dos sonhos como thriller de espionagem.?
ao longo do texto, ao narrar eventos felizes, tristes ou mesmo assustadores de seu relacionamento, por diversas vezes carmen destaca nas notas de rodapé o ?Motif-Index of Folk-Literature?, um catálogo de seis volumes dos mais variados elementos (se é que posso chamar assim) literários que se repetem em narrativas.
logo no prólogo, carmen deixa claro o quanto foi difícil identificar os absurdos desse relacionamento e os abusos da namorada, mesmo depois do fim, por falta de referências, pelo apagamento histórico de vivências queer. nas palavras dela, ?buracos que impedem que alguém encontre um contexto para si.?
fiquei me perguntando se o uso do motif-index poderia ser uma forma que ela encontrou de elaborar o abuso vivido, como uma referência alternativa entre várias outras que ela cita, em filmes, livros, etc. que a ajudaram a perceber o que aconteceu já que havia a dificuldade da pouca referência de abuso em relacionamentos queer (na literatura, no cinema, em estudos, enfim).
pra não prolongar ainda mais essa resenha, eis meu resumo: a casa dos sonhos é um livro brutal, muitíssimo bem escrito e merece ser amplamente lido. fiquei realmente encantada com a escrita da carmen e tenho certeza que esse livro vai ficar na minha cabeça por um bom tempo.