Leila de Carvalho e Gonçalves 24/04/2022
O Eclético Quarteto
O Clube Do Crime Das Quintas-Feiras é o primeiro livro de Richard Osman, um nome bastante conhecido dos britânicos à medida que ele já apresentou diversos programas de televisão e atualmente tem seu próprio game show na BBC.
Entretanto, sua popularidade não basta para explicar o sucesso alcançado em sua estreia como escritor. O Clube Das Quintas Feiras, lançado em 2020 e publicado no ano seguinte no Brasil, já vendeu mais de 1 milhão de cópias, atingiu o topo da lista dos livros mais vendidos do New York Times e teve seus direitos cinematográficos vendidos para a Amblin Entertainment (Steve Spielberg).
Essa conquista é resultado de uma história cuja força motriz é um eclético quarteto formado por simpáticos velhinhos que se reúnem todas às quintas-feiras, para discutir assassinatos sem solução, tentando mudar o rumo desses casos.
Da teoria à prática é um pulo, quando um violento homicídio, de autoria ignorada, perturba a paz de Fairhaven, a cidadezinha onde residem. Entretanto, quando uma segunda morte ocorre em circunstâncias suspeitas, todo o cuidado é pouco, pois o perigo parece estar mais próximo do que se supunha.
Dividida em duas partes e com 115 capítulos curtos, a narrativa possui dois narradores: um deles em terceira pessoa e o outro é Joyce Meadowcroft, uma enfermeira aposentada que é a mais recente integrante do clube e quase ia me esquecendo, os demais membros são a misteriosa Elizabeth Best, uma antiga espiã, o ex-sindicalista Ron Ritchie e Ibrahim Arif, um emérito psiquiatra.
Um aspecto interessante é como se estabelece a relação do grupo com o Departamento de Polícia local. Em especial, como eles conseguem se aproximar da policial Donna de Freitas e do inspetor-chefe Chris Hudson, já que qualquer intromissão de civis, particularmente, em assassinatos, não é permitida. E verdade seja dita, se a dupla não contasse com a colaboração dos quatro, é bem possível que esse caso fosse arquivado.
Outra explicação para o sucesso do livro é a maneira que Osman conduz a narrativa. A velhice é apresentada com suas limitações e, sobretudo, dignidade, portanto sem vãs esperanças nem vitimismo. Ao mesmo tempo, também é uma leitura divertida e algumas situações rendem boas risadas.
Por sinal, o escritor desenvolve vários assuntos que, a princípio, parecem não ter qualquer ligação com os crimes e, no devido tempo, comprova-se o contrário. Paralelamente, ele também reúne muitas informações que são meras curiosidades e, ao longo do tempo, esse estratagema pode tornar-se cansativo. Trata-se do ponto nevrálgico do livro, afinal, nem todos estão interessados no ganho de peso do inspetor ou como se chega a Coopers Chase, um retiro de luxo para aposentados que é pano de fundo de boa parte dos acontecimentos.
Finalmente, se você procura um thriller, isto é, uma ficção policial tensa, com muita adrenalina, surpresas e plot twists, esqueça O Clube Das Quintas-Feiras. Ele é um ?whodunit? ? uma ficção cujo propósito é descobrir o assassino ? que como um intrincado quebra-cabeças deve ser montado sem pressa, com paciência, e não é por acaso que Poirot e Miss Marple são mencionados ao longo da narrativa, sem dúvida, Agatha Christie é uma das referências do autor. Divirta-se!
Obs: Richard Osman já publicou outros dois livros com os mesmos protagonistas: ?O Homem Que Morreu Duas Vezes? e ?The Bullet That Missed? ainda inédito no Brasil.