spoiler visualizarGuilherme 16/05/2023
Resenha Aurora Ascende de Amie Kaufman e Jay kristoff
Aurora Ascende é o primeiro volume do ciclo aurora lançado em 2019 e chegou ao Brasil pela editora Rocco. Quanto aos autores eu ja conhecia Jay Kristoff pelo livro Nevernight, mas nunca havia lido nada de Amie Kaufman. A edição que li possuía 468 páginas, o livro é dividido em 3 partes.
Li este livro após ouvir recomendações de que seria semelhante a skyward do Brandon Sanderson, mas não procurei a fundo para não atrapalhar na experiência.
Eu gostei do livro no geral, mas tem algumas coisas nele que realmente não funcionam para mim. Dito isso passarei para a análise ponto a ponto.
Construção de Universo.
O livro constrói seu universo através de duas ferramentas. A primeira é a descrição dos personagens ao longo dos capítulos e a segunda por notas (como se fossem folhas do manual dos cadetes) ao final de cada capítulo, de forma a apresentar detalhes e curiosidades quanto ao mundo a que a história se situa sem ter que forçar demais os diálogos para tanto. Isso funciona no começo, mas devo confessar que atrapalha um pouco a fluidez e já na metade do livro eu passei a pulá-los, pois por mais que sejam divertidas, não se mostraram realmente necessárias.
Essa história se passa bem a frente no quesito conquista espacial, em um ponto onde a humanidade já dominou a viagem espacial e já fez contato com outras espécies no universo. Ainda existem desavenças mas não é o cenário de ‘’guerra permanente’’ comum em livros como guerra do velho e tropas estelares.
A viagem espacial se dá por meio de portões de dobra (similares aos de Cowboy Bebop) que ficam espalhados pelo universo conhecido. Esses portões são construídos, mas também podem ser encontrados de forma natural. Apesar disso, somente visitamos um planeta durante o livro. No mais a história se situa em estações espaciais e emaranhados de naves. Isso não é ruim, mas me pareceu uma chance perdida, era a oportunidade de dar asas à imaginação e criar um mundos únicos e loucos, mas os autores preferiram ficar no seguro aqui.
Vale frisar que os autores optaram por não descrever muito o ambiente. Apenas uma noção geral do local onde estão as personagens. O mesmo pode ser dito das naves, limitando-se a informar o tamanho e a função/classe.
Personagens
Os autores optaram por colocar múltiplos pontos de vista neste livro. Como sempre digo isso torna a história um pouco menos fluida, mas enriquece a experiência como um todo. Acredito que não teria terminado este livro caso eles tivessem optado por um ponto de vista único da Aurora.
Temos sete personagens principais; Aurora, Tyler, Kal, Cat, Scarlett, Finian e Zila. Apesar do que disse acima, existe aqui um protagonismo indiscutível da Aurora, todos acontecimentos se movem por causa e em razão dela e isso reflete na duração mais longa de seus capítulos.
Em contrapartida, a personagem Zila possui capítulos de 3 linhas. Trata-se de uma piada referente ao modo de vida alienado e um tanto psicótico da personagem. Infelizmente isso torna difícil que nos afeiçoemos com ela para além de seu estereótipo.
O resto do esquadrão possui capítulos mais equilibrados. Tyler é o líder da equipe, Finan o garoto tech, Kal é o tanque do grupo e Scarlett a diplomata. A função de cada um acaba por definir também a personalidade dos personagens. Isso garante diferentes modos de pensar e abordagens únicas de cada um para solução dos problemas.
Devo dizer que de todos personagens a protagonista é a menos interessante. Os autores estavam tão focados em nos fazer criar empatia por ela que exageraram e a tornaram um personagem irritante e carente. Ela é envolvida por um casulo de autopiedade. Todos os capítulos com seu ponto de vista somos lembrados de que ‘’ela é do passado e perdeu todos que amava, que ela não se encaixa, que ela se arrepende de ter brigado com o pai’’.
O fato dela ser o ponto central da trama torna isso ainda pior, pois geralmente até mesmo fora dos seus capítulos temos de lidar com a personagem e sua crise existencial. Outro fator desfavorável são os poderes especiais da personagem. Todos os demais membros do grupo têm habilidades resultantes de trabalho árduo e estudo. Ela no entanto desenvolve habilidades telecinéticas e isso passa a ser o seu diferencial, o que me passou a sensação de pouco merecimento .
A personagem da Cat representa um contraponto à protagonista, infelizmente ela também é a traidora do grupo (devido a falta de fé na protagonista e no que ela representa). Eu fico um tanto surpreso de que ela seja a única do grupo a efetivamente questionar o fato de estarem abandonando o esforço de uma vida por uma estranha.
Tyler e Kal apenas estão desempenhando sua função O inimigo oculto de Kal me pareceu um tanto forçado. Já Tyler enfrenta os dilemas de manter a coesão no grupo enquanto evita um relacionamento mais íntimo com Cat. Ambos no geral usam da missão como distração, rezando para que isso resolva seus problemas.
Gosto dos personagens Finian e Scarlett. São os mais orgânicos ao meu ver e existe potencial para desenvolvimento.
História
Basicamente aqui temos a formação de um grupo que toma ciência de uma ameaça a todo o universo conhecido, mas aparentemente mais ninguém acreditaria neles, então cabe a esse pequeno grupo descobrir a origem da ameaça, como isso se relaciona ao poderes da protagonista e como salvar o universo enquanto aprendem a lidar com suas diferenças e criar relacionamentos entre si. Não é o enredo mais original, mas funciona. Consegue deixar o leitor interessado em ver o que vai se desenvolver.
Existe um momento desconectado do resto da história. Me refiro a parte dois do livro onde temos o roubo do gatilho na nave do mundo. Não achei essa parte convincente . Ao meu ver a solução vem fácil demais e a traição de Cat não tem nenhum efeito na dinâmica do grupo, é completamente inócua. Essa parte poderia ser retirada do livro e não faria diferença.
Conclusão
Aurora Ascende é um livro de ficção científica bastante focado no público adolescente. Não existe uma crítica social ou conceito filosófico embutido aqui como vi em Duna, Guerra do Velho ou Cavernas de Aço. Tampouco um mistério como em encarcerados, leviatã desperta ou o Enigma de Andrômeda.
Minha principal crítica ao livro é o baixíssimo grau de desenvolvimento e aprendizado dos personagens. Basicamente, apenas a protagonista evolui. O resto deles é basicamente o mesmo durante todo o livro.
Apesar disso o livro cumpre ao que se propõe, sendo um romance de naves despretensioso, focado nas relações interpessoais do grupo principal, com uma pitada de mistério.