Rmello 22/09/2023
O tempo leva tudo consigo e todas as coisas desaparecem. Pessoas, papéis, nomes, canções, pintuas e… memórias. Tudo cede ao tempo. Essa é uma regra e ninguém no mundo é capaz de alterá-la.
Desde que deparei com a perfeição dessa capa nas minhas redes sociais, meu interesse pela leitura desse livro foi imediatamente despertado. Isso foi ainda mais impulsionado pelas resenhas positivas e pelas inúmeras recomendações que recebi no twitter.
Iniciei a leitura cheia de emoção. As frases eram notáveis, e a história de amor entre Atlas e Finnick era verdadeiramente encantadora. No entanto, senti uma certa desconexão com os demais personagens, especialmente com o interesse romântico do protagonista.
A profundidade da trama pareceu diminuir consideravelmente após a metade do livro, principalmente quando o enredo principal começou a se desenrolar, resultando em eventos como o desfecho que pareciam apressados e careciam da devida atenção que mereciam.
Consegui compreender a dor de Atlas, especialmente porque conheço o sofrimento de isolamento, de sentir um grande vazio existencial. No entanto, algumas de suas atitudes pareceram desarticuladas e completamente fora do caráter que fora apresentado nas primeiras páginas.
Tenho algumas críticas a fazer: o autor negligenciou a exploração da racialidade de Atlas. Na verdade, ele agiu como se fosse um jovem branco comum em uma narrativa de época, o que sabemos ser uma visão simplista, considerando as vastas diferenças no tratamento entre um jovem branco e um jovem coreano, especialmente em Londres do século XVIII. A única indicação de que o personagem era coreano surgiu em breves passagens que descreviam atos racistas contra ele, mas não houve nenhuma descrição de sua aparência até cerca de 70% do livro (quando ele menciona o racismo que enfrenta devido ao formato de seus olhos). Em contrapartida, o autor detalhou exaustivamente as características físicas das pessoas brancas. Faltou uma pesquisa mais aprofundada e uma maior responsabilidade na representação de Atlas.
Outro aspecto que me incomodou foi uma subtrama que envolve um príncipe norueguês com um nativo, quase como uma fanfic gay de Frozen. O problema reside no fato de o autor se referir a esse personagem cortador de gelo que vive fora da cidade como "SELVAGEM" ao mencionar um possível membro de um povo originário europeu. Quando o príncipe expressou seu racismo inicialmente, eu pensei: "Ok, espero que o autor mostre como é errado chamar um povo originário de selvagem", mas infelizmente, isso não ocorreu. Tanto que o próprio personagem nativo se autodenomina e refere-se ao seu povo como selvagens (sendo que o autor nem se deu ao trabalho de pesquisar a etnia), e até mesmo utiliza a expressão "príncipe selvagem". Isso parece uma romantização do racismo.
O que é verdadeiramente NOTÁVEL é que o autor se dedicou a criar uma atmosfera autêntica de Londres, fazendo referências a diversos pontos turísticos para conferir autenticidade à época retratada. No entanto, quando se tratou de explorar questões raciais e étnicas, essa mesma dedicação não foi evidente.
Também sinto que a questão do livro mágico não foi suficientemente desenvolvida, e o desfecho relacionado a ele pareceu carecer de sentido, considerando a natureza mágica e poderosa do livro.
Em resumo, um livro com um grande potencial desperdiçado, devido a uma escrita frágil e a um desenvolvimento mal conduzido.