nsantos06 19/03/2023
Ser branco é viver sem se notar racialmente, numa estranha neutralidade. É o outro que é cor.
O livro traz um conceito pensado pela sua autora, Cida Bento, que é o pacto da branquitude. Um pacto narcísico, silencioso e não verbal, feita pela branquitude como maneira de garantir, reforçar e reproduzir os seus privilégios historicamente ganhos. Esses que foram garantidos ao longo do tempo pelo processo da escravidão no Brasil e seus malefícios ainda são vistos na sociedade brasileira.
A branquitude se entende como sendo a identidade racial branca e um lugar de de privilégios simbólicos, subjetivos e objetivos, isto é, materiais palpáveis que auxiliam a construção social e reprodução de preconceito racial, discriminação racial “injusta” e racismo. A autora diz que esse pacto narcísico não é feito pela branquitude em reuniões ou em encontros secretos às cinco da manhã.
Um tema tratado pela escritora e se relaciona com o pacto, é a meritocracia. Além de ser um termo que parte de uma premissa falsa para um resultado igualmente falso, ele exclui contextos históricos, econômicos e sociais de seus grupos ou indivíduos. Ademais, a meritocracia é um tema a ser atravessado pelo debate racial. O “sucesso” de um determinado grupo “racial” é visto de maneira diferente em relação a seu oposto. Aqui, o “sucesso” da branquitude é enxergado como mérito individual, um lugar de merecimento, enquanto do indivíduo negro, sua “falha”, é enxergado como culpa do próprio indivíduo.
Ao se pensar que os brancos estão em cargos de elite, de prestígio e de mando, é compreendido pela sociedade que estão lá por que merecem, ou que deles existe um talento natural para liderança, não que seja algo que não ocorra, mas, o fato é que ter privilégios lhe faz estar mais perto do topo. Por outro lado, ao analisar a falta de lideranças negras em diversos ramos da sociedade, lê-se esse vazio como questões morais dos negros e não como questões estruturais da sociedade.
A autora também destaca algumas leis que sustentaram privilégios para suas elites e para a branquitude. Tudo isso em detrimento das péssimas e intencionais condições dos recém libertos. É mencionado a Lei do Ventre livre que previa indenização aos escravocratas. Após a abolição da escravidão, no primeiro governo republicano governado por Marechal Deodoro da Fonseca, é decretado a lei de imigração de 1890, onde esse decreto permite que conhecemos a política de embranquecimento onde o governo brasileiro pretendia realizar ao trazer imigrantes brancos para povoar sua terra.
O capitalismo é um sistema que se nutri desse conceito de meritocracia. Um sistema em que é baseado no acúmulo de lucro e no capital, existindo uma lógica de exploração e ao mesmo tempo, uma lógica de raça, etnia e gênero para a expropriação.
Dentro de todo esse pacto, não obstante, temos os agentes que propagam essa supremacia branca. A autora aborda a personalidade autoritária, a masculinidade branca e o nacionalismo e diz que movimentos como o Trumpismo, fortalece a supremacia branca, o militarismo, o desprezo por leis e instituições, o machismo e o racismo, além disso, o ódio a intelectualidade e artistas. São líderes que espalham ódio a estrangeiros e os desprezam.
O privilégio branco é algo que está ligado inerentemente ao indivíduo branco, quer ele saber ou não, usufruindo dessa condição ou não. É um estado passivo que lhes garantes facilidades durante sua vida.
“Ser branco é viver sem se notar racialmente, numa estranha neutralidade.[...] é o outro que é de cor.”
O branco ao se definir como “universal”, ao mesmo tempo define o outro, o negro, como “oposto”, como um ser contrário à sua existência. Todas as referências na sociedade serão de indivíduos e grupos brancos, os espaços de poderes serão ocupados por eles, o mundo é pensado por eles e para eles.
Ao se confrontar com a realidade, e ao perceber a ocupação do negro em espaços majoritariamente dominados por brancos, este último, sente que está perdendo um leque de privilégios garantido pela sua raça, queira ele ser nomeado de branco ou não. Um exemplo é o sistema de cotas nas universidades, que garante uma pequena faixa das vagas a alunos(a) negros, pardos e indígenas. Esse sentimento que os brancos têm, de perda de privilégio, é nada menos que a igualdade de oportunidades posta na realidade.
Definitivamente é um livro na qual a branquitude têm que ler, e repensar seus privilégios, mas não nos enganemos, eles não o farão por livre e espontânea vontade.