Desi Gusson 16/08/2022
Foi terrível. Eu amei
Então, eu não estava preparada para esse livro.
Meu psicológico não imagina que seria abalado, minhas emoções não estavam prontas para tantos golpes. Foi terrível.
Eu adorei.
Melhor começar dizendo que se você está pegando No Coração da Bruxa porque gostou de Magnus Chase (eu te entendo), ou porque adora o Loki do Tom Hiddleston (ai, como te entendo), sugiro repensar sua decisão. O livro de Genevieve Gornichev traz a mitologia nórdica crua, sem cobertura açucarada e sem adaptações engraçadas. Sim, sim, ela reimagina o papel da Angrboda por trás da lenda, torna-a mais humana em seus sentimentos e reações, mas a humanidade para por aí. Todas aquelas maluquices de deuses virando éguas e parindo cavalos de oito patas, conselheiros sendo mortos, mas tendo as cabeças preservadas pra continuar a servir, um lobo tão grande que a bocarra aberta tocava o céu e a terra ao mesmo tempo... tudo isso nós temos aqui. E é revigorante.
A Genevieve simplesmente deu uma banana pra essa nossa necessidade de explicar coisas inexplicáveis e só seguiu o fluxo. Quer um esquilo gigante pulando numa árvore pré-histórica que conecta nove mundos inteiros? Toma! Faz o que você quiser com ele, nós estamos aqui pra contar a história de uma mulher que perseverou.
Ressalto, essa não é uma história de amor. Ao menos não como estamos acostumados.
Você pode até esperar romance quando um certo trapaceiro devolve o coração de uma bruxa recém queimada e apunhalada, por aparentemente nenhum motivo, e quando eles rapidamente parecem se entender e apoiar. Pode esperar, ninguém vai te julgar. Mas o que vem em seguida é bem mais complexo, e angustiante, que isso.
A coisa com esse livro é que, apesar de se passar em terras de gigantes e florestas de bruxas, você conhece os personagens. Você já teve um ex como o Loki, uma amiga como a Skadi e com certeza uma amiga como a Gerda. Você já passou pano pras coisas questionáveis que as pessoas queridas do seu coração (queimado ou não) fazem, e aguentou um pouquinho mais, como a Boda. As alegrias e tristezas, a incerteza sobre a própria identidade, as necessidades físicas e da alma, tudo isso foi muito humano, muito reconhecível e identificável. Me peguei odiando com todas as fibras do meu ser o Loki (aquele bunda mole), aplaudindo de pé a coragem da Skadi (#teamskadi) e com o coração na mão por tudo que jogavam pra cima da nossa heroína, e que heroína!
E, sim, tem o pequenino problema das visões da Angrboda, e de toda a tristeza que elas parecem causar. E da parte que ela simplesmente não morre, apesar e terem tentado MUITO. Mas falar sobre isso seria um spoiler, e eu preferiria enfrentar um Thor doidão de hidromel a dar um spoiler voluntário pra alguém. Apesar de já conhecermos como a lenda acaba, No Coração da Bruxa é uma sucessão de reviravoltas que contrapõem a tranquilidade de uma mulher vivendo da terra, então há muitas e muitas surpresas no caminho do leitor. É tão volátil quanto os deuses e gigantes caprichosos que se esgueiram pelas páginas.
Um livro movimentado e ao mesmo tempo profundo, que consegue extrair uma sensação de amplitude tremenda a partir de uma caverna. No Coração da Bruxa não é a sua leitura leve pra passar a tarde, ele foi queimado e apunhalado três vezes e voltou. Aconselho respeito, eu mesma fui queimada e apunhalada. E eu amei.
P.S.: Loki, eu te odeio, você mereceu.
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