Mrs. King 20/09/2023Atenda ao telefone!Há séculos, o horror assombra as civilizações. Ele se manifesta em múltiplas faces - cada tipo, uma faceta que se mascara de forma misteriosa para não ser descoberta. O primeiro tipo de horror, o mais ancestral de todos, é o horror cósmico, vasto e infinito; o horror sobrenatural traz o inexplicável, como fantasmas, entidades e seres que fogem da explicação racional; o horror gótico, com seus castelos sombrios, corredores lúgubres e criaturas ocultas traz à nós uma nostalgia quase serena; no horror psicológico, a mente é o terreno onde demônios internos ganham vida. Todos os horrores são capazes de perturbar a ordem natural das coisas, mas um deles não faz cerimônia ao enfiar uma estaca afiada em nosso cérebro - o horror cotidiano.
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Um menino inflável que corre risco de "morte" a todo momento, um forte de papelão que esconde um mundo vasto e sombrio, um telefone preto que recebe ligações dos mortos sem nem ao menos estar funcionando... representações claras de um horror sobrenatural dos bons, certo? Errado. Dentre todos os horrores aqui citados, a coletânea "O Telefone Preto" usa e abusa da falta de moral e ética que aflige a sociedade desde a época em que o mundo era mundo. O horror cotidiano faz morada em cada conto, deixando cada vez mais claro que nosso maior medo provém daqueles em quem deveríamos confiar - nossos semelhantes.
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- "𝘖 𝘛𝘦𝘭𝘦𝘧𝘰𝘯𝘦 𝘗𝘳𝘦𝘵𝘰", coletânea de contos do autor Joe Hill, apresenta uma atmosfera densa, que nos transporta aos confins do lado sobre-humano. As histórias são relativamente rápidas, com uma pegada corrida, ponto altamente negativo desta obra: cada narrativa começa e termina absolutamente do nada, deixando vaga a compreensão do enredo. Faltou cor (proposital? Talvez), faltou emoção, faltou... linearidade. O horror está presente em todas as páginas, mas a intenção de assustar passou longe. Uma ou outra história se salva nessa coletânea, o que não é suficiente para salvar o livro todo.