Bela Calli 31/10/2022
"A morte é um caminho sem volta."
Meia-noite no Parque é um conto que traz um pouco de tudo o que torna o Halloween minha data preferida. É um livro pequeno, mas consegue ser envolvente, divertido e claro, deixa com um gostinho de quero mais.
A história é narrada sob a perspectiva da protagonista, Tamires, a editora-chefe do jornal da escola, que decide ir com seu grupo até o Mundo Encantado, exatamente treze anos depois do fechamento, para fazer uma matéria sobre seu declínio misterioso. O problema é que tal empreitada aconteceria exatamente no Dia das Bruxas, dia qual foi o estopim para o parque encontrar sua ruína — ao menos, é o que dizem as más línguas.
Antes de mencionar minha opinião sobre a leitura, gostaria de destacar como a experiência de parceria foi divertida e interessante! Principalmente os e-mails temáticos da Helena e o cuidado em fazer ingressos antecipados. Isso me fez envolver ainda mais com o livro. Realmente, uma ótima forma de imersão ao mundo que ela cuidadosamente criou.
A escrita da autora é realmente muito boa! Traz detalhes e uma descrição precisa dos elementos do parque, algo que ajuda o leitor a visualizar as cenas e, consequentemente, sentir na pele a tensão do lugar, especialmente nos pontos altos onde Tamires, nossa narradora e protagonista, avista algum fantasma de aparência perturbadora. Além disso, ela também consegue passar as emoções, como angústia, através das palavras.
"Muitos letreiros já nem estão anexados às suas fachadas, era o caso do IMAX, o grande cinema 4D do parque, que nunca funcionou plenamente. Mas que agora parecia estar aberto ao público de capivaras e gatos."
Algumas vezes, é difícil se envolver com os personagens em histórias curtas, mas não é o caso aqui. Em determinados momentos, eu pensei "pelo amor de Deus, não entre nesse brinquedo!", porque me afeiçoei a todos os personagens, em especial a Giovanna, a irmã da narradora. Não sei exatamente o porquê, talvez seja seu carisma. Mas para falar a verdade, todos os personagens são carismáticos, com suas próprias personalidades e nuances. Isso torna mais fácil o envolvimento com a história e com o grupo que, pouco a pouco, encontra mais adversidades... e mais caos.
Não é uma leitura pesada. As mortes não são gráficas, apesar das cenas bem descritas que causam um arrepio. É um equilíbrio perfeito e casou muito bem com esse tipo de obra. Além disso, as referências de clássicos do horror mencionadas trouxeram um certo charme, além de uma familiaridade por estarmos acostumados a ver personagens como Jason, de "Sexta-feira 13".
Acho legal ressaltar também a representatividade que a autora colocou nessa obra, por trazer, em meio àquela confusão de corpos, mistérios e fantasmas, algumas pitadas de romance sáfico. É como um refresco, um sopro de ar limpo para destrancar nossos pulmões que estreitam pela tensão. O próprio estilo narrativo também tem seus momentos de descontração, causado especialmente pelas marcas do pensamento de Tamires que, com sua linguagem simples e despojada, traz à narrativa uma proximidade que certamente agradará o público jovem.
Enfim, esse é um ótimo conto para se ler num fim de tarde, ou durante à noite do Dia das Bruxas. Uma experiência fantástica que vai divertir e causar um friozinho na barriga, tal como se andasse na Montanha-Russa. Mas pegue meu aviso, e lembre-se com carinho: nunca entre em brinquedos de um parque abandonado, não importa o que aconteça.