SamellaFonseca 15/07/2023Ficção cristã e distopia nunca combinaram tanto!Como o título do livro, eu queria conseguir definir o que essa leitura foi pra mim em uma palavra também. Mas a verdade é que elas, de certa forma, me faltam até agora, mesmo semanas depois de ter tido o prazer de betar essa história. Acompanhar seu lançamento, após outras ótimas experiências prévias com histórias da Vitória, tem sido lindo, e espero conseguir passar ao menos um pouquinho desse sentimento nessa resenha.
Aurora é, antes de tudo, uma leitura tanto intensa quanto intimista e sutil em uma área ou outra. Não cheguei a ler os livros, mas se ter assistido alguns dos filmes de Jogos Vorazes e Divergente contar, penso que Aurora seja uma versão repaginada tanto com o viés cristão pelas simbologia que a autora traz, quanto pelo quão recentes são alguns dos tópicos e debates trazidos por ela aqui também, desde a pandemia de 2020 e seus efeitos até hoje e pautas sociais, ao incluir representatividade negra e PcD como é característico de suas histórias já, é sempre com muita naturalidade e real importância no enredo como um todo.
Helsye e Loryan são protagonistas de polos opostos; ela um tanto desacreditada da vida e até de si mesma dada as circunstâncias em que inicia o livro, enquanto ele tenta provar o seu valor após um deslize passado desconhecido ao leitor. Ainda assim, desde o início faíscas rolam entre as interações dos dois, e em meio ao estranho suscitar de reações com os quais ambos estão desacostumados a lidar, vai se formando uma conexão gradual que tanto diverte o leitor, pela acidez ou atrevimento da Helsye, quanto nos deixa tensos quanto à certas atitudes ou inconstâncias do Loryan. Acrescente algumas boas doses de impulsividade da garota também e, em meio à missão vigente, temos um prato cheio de adrenalina e muitas emoções mais no decorrer da leitura.
Mas nem tudo é só o que se vê na superfície. Aurora é e tem tudo isso que falei acima, mas, mesmo em meio à ação, estratégias e reviravoltas de tirar o fôlego, também é uma história sobre paternidade, sobre pertencimento, sobre se encontrar na caminhada que é a vida. Sobre Recomeço e perdão, e a forma como lidamos com nossos erros e acertos, bem como também dos demais ao nosso redor, em meio às expectativas e imagens que por vezes projetamos errônea ou equivocadamente neles. Afinal, somos seres humanos e, portanto, falhos, mas como Aurora também deixa claro, ora com simbologia, ora de formas mais diretas com um toque poético, a misericórdia do Grande Pai segue ao nosso redor, basta a gente reconhecer que precisa dela, que mesmo nos momentos mais estáveis, não somos e nem precisamos ser autossuficientes o tempo todo, com um Pai disposto a nos estender a mão, seja para nós erguer de uma queda, impulsionar a um passo novo ou simplesmente confiar e seguir em frente.
Eu poderia falar ainda muito mais sobre essa história e seus personagens aqui, mas acho que parte da experiência também está em descobrir tudo por conta e ver por si mesmo a construção de enredo que Vitória Souza se propôs aqui. Agradeço a Deus pela vida dela e oro para que, assim como fez comigo, Aurora venha a tocar muitos leitores mais - a começar por você que está lendo essa resenha.
"Não demoraria tanto a passar pelas águas se eu soubesse que a misericórdia me esperava do outro lado."