Edmar Lima (@literalgia) 17/06/2020
Um milhão de finais felizes
Jonas mora em Santo André, mas viaja todos os dias até a capital paulista para trabalhar na Rocket Café e ainda não sabe o que quer fazer da vida. Carrega consigo um caderninho aonde anota ideias para os livros que quer escrever, porém ele nunca conseguiu passar de algumas palavras. Jonas ainda precisa lidar com uma família muito conservadora. Sua mãe é uma religiosa fervorosa e reza diariamente para que o filho volte a frequentar a Igreja com ela e o pai de Jonas dificulta ao máximo a vida do menino com suas discussões, criando um ambiente desconfortável em casa. O único lugar em que Jonas se sente bem é em seu próprio quarto, rodeado de seus livros.
A vida de Jonas se resume aos turnos na Rocket, aos raros encontros com os amigos de escola e aos sonhos sobre sua carreira como escritor até que um rapaz aparece no Café e abala o mundo do protagonista. Arthur é o cara mais bonito que Jonas já conheceu e sua barba ruiva leva o escritor a pensar em piratas gays, uma possível ideia para os seus livros. Quando os dois começam a se relacionar, Jonas percebe que não suporta mais viver sob as expectativas dos pais, fingindo ser uma pessoa totalmente diferente em casa. O que ele vive com Arthur é puro e bonito e não merece ser escondido. Contando com o apoio de seus amigos, de seu namorado e de seus personagens, Jonas entenderá que o conceito de família abrange múltiplos significados e que as histórias que ele cria têm o poder de mudar o mundo (pelo menos, o seu mundo)!
O primeiro dia de junho marca o início do mês do orgulho e é muito importante que demos espaço à literatura LGBTQ em nossa jornada como leitores. Já fazia um tempo que queria ler uma obra de Vitor Martins e percebi que não haveria momento melhor para fazer isso do que agora. Martins é um autor gay, brasileiro e uma das novas vozes da escrita nacional. O livro é narrado pela perspectiva de Jonas, protagonista da história. Ele é um rapaz com muitos sonhos, que mora em um ambiente conservador e sente que está vivendo uma mentira. Todos os dias, ao voltar para casa, quando sobe as escadas do seu prédio, Jonas precisa assumir uma heteronormatividade forçada, que vai contra tudo o que ele pensa. Em diversos momentos da narrativa eu, como leitor LGBTQ, me senti representado por essa dualidade de vida, dentro e fora de casa. Muitas vezes o ambiente em que vivemos não é propício para que possamos nos expressar da maneira que desejamos (e precisamos ser). Por isso repito que não poderia haver melhor tempo para ler esse livro que agora. O autor explora todos os questionamentos que acometem os jovens de hoje, passando pela religião e a autoestima. Um dos pontos mais importantes que considero na leitura é a ideia de família que Martins traz, pois muitas pessoas não encontram acolhimento em seus lares e formam uma nova família com seus amigos, unidos pelo amor e pela empatia. Dito isso, queria deixar claro minha satisfação em conhecer um pouco mais sobre Vitor Martins e já me considero um fã de seus livros. Nada me deixa mais feliz que notar que a literatura queer está encontrando seu espaço no cenário nacional e que somos muito bem representados por esses autores.