Lene Colaço 07/09/2017No inicio do ano tracei uma meta para ler os livros que eu não queria ler. Aqueles livros que ganhei ou comprei em um momento de empolgação e que foram deixados de lado. Já fugi total dessa meta porque não funciono bem com regras, e o ultimo que li dessa classe foi “As Três Marias”. Uma leitura um pouco morna, mas com um tema interessante.
"Na cama – tudo calado – (...) minha tristeza afinal explodiu, e chorei, chorei até esgotar todos os soluços, todas as lágrimas, chorei até dormir, exausta, desarvorada, rolando a cabeça dolorida, sem repouso, no travesseiro quente e duro."
Maria Augusta é uma menina de 12 anos que perdeu a mãe bem cedo e o pai acabou casando novamente. Sua madrasta a trata bem, mas decide mandá-la para um colégio interno. Guta chega nesse lugar novo carregada de estranhamento, saudade de casa e alvo da curiosidade de outras meninas. Com o passar dos dias ela conhece Maria da Gloria e Maria José, e as três desenvolvem um forte laço de amizade, mesmo tendo suas diferenças. Cercadas pelos muros do internato, elas dividem sonhos, expectativas e até a sensação do primeiro amor. Então a vida adulta chega e elas precisam sair, viver, e lidar com as expectativas que criaram e a dureza do mundo real.
"Ele começou a namorar com Glória, logo que entendeu os olhos com que o olhava, e foi como se nos namorasse a todas, porque todas a três começamos a amá-lo, embora Maria José e eu nunca o tivéssemos visto."
O livro é cheio de personagens femininas, e cada uma, por menor que seja a aparição na historia, tem suas particularidades e contribuem para a proposta de Rachel que é mostrar o papel da mulher na sociedade. Se hoje esse tema está sendo amplamente discutido, mesmo que ainda encontre um pouco de resistência, fazer isso em 1939 foi algo muito corajoso. O livro nos mostra que nem toda mulher quer casar, ter filhos e cuidar da casa. Ela pode querer só trabalhar, se aventurar e ter apenas responsabilidades consigo mesma. Mas a sociedade não estava pronta para essa mulher, e ainda hoje duvido que esteja. Fica claro que só existem três posições para a mulher: casamento, religiosidade ou “prostituição”. De um lado temos a ideia bonita de casamento, do outro lado temos os casamentos desfeitos, seja por mau trato do homem para com a mulher, ou porque esse abandonou a casa e foi viver com outra. Mas parece não importar muito o que o homem faz, desde que a mulher permaneça dentro de casa cuidando dos filhos. Nada de novo.
Resenha completa no blog Bala de Limão
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http://baladelimao.blogspot.com.br/2017/08/resenha-as-tres-marias-de-rachel-de.html