@blogleiturasdiarias 08/09/2020Leitura favorita do ano!!É incrível o quanto sou conquistada pela escrita da Leigh Bardugo, sempre. Sendo sua primeira aventura em fantasia adulta, Nona Casa chega ao Brasil pelo selo Minotauro da editora Planeta. É o primeiro volume da série Alex Stern, e traz brilhantemente uma história inovadora, eletrizante que para mim tornou-se a melhor leitura do ano!
Galaxy "Alex" Stern agora é uma estudante de Yale, e uma Dante na Lethe. Ainda que não saiba explicar como alguém com o seu passado possa ter conseguido essa segunda chance, ela agarra com unhas e dentes a nova oportunidade — nem que para tal tenha que esconder seu verdadeiro eu. Darlington tem a tarefa de ensinar a Alex os caminhos do Lethe e seu papel quanto as sociedades secretas de Yale, conhecidas como Casas do Véu. Ao todos são oito casas ancestrais, cada qual com uma habilidade específica e sua própria tumba, que mexem com o extraordinário e o impossível. Quando Alex se depara com um caso de assassinato em que sua intuição diz não ser mera coincidência com o dia que transcorre os rituais, algo sombrio e poderoso acaba entrando em jogo, causando consequências terríveis para ela e Darlington.
Tenho que admitir que estava sentindo saudades de ter algum lançamento da autora por aqui, e com isso a obra veio com uma carga de expectativas muito alta — era tanta, que o meu medo de decepção andava alinhado a ela. No entanto, tudo deu certo. É um desenvolvimento que demora a engrenar por conta da grande quantidade de informações iniciais, e a medida que o andamento das páginas ocorreu, a leitura tornou-se fluida e cadenciada. Literalmente não parei até chegar ao fim.
O livro aborda assuntos amplos que basicamente podem ser enquadrados no significado de magia negra, entretanto acho o termo limitante porque a ambientação vai além — temos temática de sobrenatural, predestinações, necromancia, teriantropia, magia de portal entre outros aspectos. Eu mesma precisei de diversas tentativas para conectar todos esses elementos inseridos, principalmente para entender o que seria esse universo da Lethe e seus objetivos. Quando as coisas começaram a se encaixar, passei a ter admiração com a criatividade da conjuntura. É nítido a complexidade e o alto nível de detalhamento, o que demanda extrema atenção — podendo ser um fator negativo a quem não conseguir se prender a esses pormenores.
"Embora a Lethe tivesse sido criada para monitorar as atividades das sociedades secretas de Yale, sua missão secundária era desvendar os mistérios do que ficava além do Véu. Por anos tinham documentado histórias de pessoas que podiam de fato ver espectros, algumas confirmadas, outras pouco mais que rumores. Então, se o conselho tinha encontrado uma garota que podia ver essas coisas e se pudesse fazer com que ela se comprometesse com eles...Bem, era isso. Ele deveria ficar feliz em conhecê-la." pág. 37
Uma das maiores qualidades da escrita da autora é seu grupo de personagens, e aqui não foi diferente. Dando destaque ao protagonismo da Alex, ela é uma personagem enigmática. Não creio que tenha uma personalidade fácil de agradar, porém é natural compreendermos suas atitudes e motivações. Conforme vamos entendendo seu passado, as escolhas e explicações, melhor assimilamos seu modo de agir e pensar, e essa trajetória foi o que me conquistou. Temos um enredo com problemas reais, jovens que sofrem, sentem medo, são movidos por desesperos e convicções. Tanto ela, quanto Turner, Dawes e Darlington possuem essas qualidades de serem críveis.
E este último citado, é alguém que também me apeguei demais no contexto e espero ansiosamente que ele seja melhor explorado no sucessor. Em todas as cenas que aparece é extremamente cativante, mostrando um grande potencial de brilhar. Um adendo a se fazer, é que apesar de flertes e pequenos trechos que possam possibilitar a construção de um relacionamento, teremos praticamente zero cenas de romance no título.
Inclusive, preciso salientar que é um exemplar que elabora conteúdos adultos: uso abusivo de drogas e álcool, abuso sexual, abuso psicológico, cenas descritivas de violência e assassinatos. Acredito que possa ser gatilhos para alguns leitores, então fica o alerta.
E como se não fosse suficiente todos os elogios anteriores, brilhantemente teremos a presença de uma pegada eletrizante pelo meio — um mistério que primeiramente seria algo pequeno, acaba se tornando intrincado e cheio de nuances. Foi meu maior motivo de não largar o livro até ter todas as respostas, e espere grandes surpresas nas revelações.
"Alex então sorriu, uma coisinha, um vislumbre da garota à espreita dentro dela, uma garota feliz, menos assombrada. Era aquilo que a magia fazia. Revelava o coração de quem você fora antes que a vida tirasse sua crença no possível. Devolvia o mundo pelo qual toda criança solitária ansiava. Fora o que a Lethe fizera por ele. Talvez pudesse fazer isso por Alex também." pág. 76
Com reviravoltas atrás de reviravoltas o final é cheio de impactos. Pela organização das ideias e dos conceitos, se espera que esse fim traga respostas, e nesse quesito não desaponta — aliás, arrisco a dizer que ele acaba sendo bem mais. São descobertas que mudam os rumos finais e até mesmo mexe com o que pensamos ser a verdade, e a constância dessas confissões pode chocar. Quando pensamos que tudo estará resolvido, sinto-lhe dizer que não estará. Ademais, ele deixa um ótimo gancho para um próximo, e que eu particularmente estou agoniada a sua espera!
De uma forma geral, é perceptível o quanto recomendo Nona Casa! É uma fantasia sensacional, completa e única nas suas características. Não é a toa que foi a ganhadora do prêmio Goodreads 2019 na categoria que concorria. Tenho a impressão que a sinopse e nem qualquer resenha consegue resumir o apanhado que é essa narrativa, portanto vocês tem que conferir! Leigh Bardugo conseguiu me impressionar de novo, erguendo um pilar definitivo como uma das minhas queridinhas do gênero.
Na parte física só tenho elogios para a Minotauro ter mantido todos os traços da capa original, na qual sou apaixonada. A edição tem um mapa que auxilia quando pensamos em localização dos acontecimentos, e um glossário no final sobre As Casas do Véus — que só fui descobrir depois da metade da leitura, logo acho que poderia ter vindo no início para ajudar no melhor entendimento das mesmas. Não encontrei erros de revisão ou ortográficos. A narrativa é feita em terceira pessoa pelos pontos de vistas do Darlington e Alex, misturando ações no presente e um passado não tão distante — a diferença é de meses.
Espero que tenham gostado e deem uma oportunidade. O segundo volume tem previsão de lançamento em 2021 — lá fora.
site:
https://diariasleituras.blogspot.com/2023/03/resenha-nona-casa-leigh-bardugo.html