Pedro3906 26/09/2023
"[...] não sei ainda como me consolar da verdade."
Com todo respeito não entendi esse livro, emprestando termos que Clarice usou em Uma aprendizagem, humildemente tentei lê-lo e de início cogitei soberbo ser eu criatura de alma formada. Eu, que me espanto com qualquer coisa, com a mediocridade. A impressão que me dá é de necessidade sincopada ao ritmo e somente se absorve quando mergulhamos no livro, e não ao ler. Só que o fim sempre justifica os meios e como todo fim de Clarice ? que é nada mais do que renascimento ao invés da pós-morte ? despenquei na linguagem crua e alguns parágrafos tocaram feridas abertas, chagas estas de tratamento reconhecível e no entanto ilusório, desconhecido.
Ainda iniciante e primário na obra da autora, consigo perceber meandros de suas fases e este sendo dos anos 1960 diz mudamente por de lá ser. Não sei, acho que ela descobriu a vida na natureza sólida de Uma aprendizagem, A paixão e creio outros trabalhos e, mesmo vívida, é desconexa dos demais trabalhos. Se algum desafortunado ler as minhas palavras e puder relatar se Um sopro de vida possuo traços similares com Uma paixão, ficarei tocado (de nada lembro). Porque ela me ensinou o sujo e agora me cobra o limpo, tive de assustar-me com Macabéa e ser invadido e nunca mais desocupado, e mesmo que faça sentido o coração neutro da coisa, o estado de graça e a paixão furtivamente se encaixam na vivência dos inquietos. Me falta coragem e determinação humana com algum leve despudor em troca do segredo da vida, da junção (se é que ela existe, pois desconfio que não) siamesa de diferentes escritos de Clarice. Nada mais posso dizer, deixarei fragmento de anotações que fiz durante a leitura. Amém para nós todos.
"Começo a sentir desconforto sobre citações do livro, parece-me que ele me atinge e eu não vejo, que ele toca as atitudes insossas que levo como verdade absoluta. Não posso admitir por enquanto porque significaria abrir-me ao mundo visceral e não aguento, estou ocupado demais para aguentar.
Talvez me assustasse com o livro se Clarice fosse direto ao ponto ao invés dos rodeios e metáforas que de nada captei, mas se me contentasse do caminho, o qual eu tenho filosofia própria de perdição absoluta ao invés da linearidade ensopada de tirar carta por carta e revelar-lhe, mantivesse o corpo e a filosofia na antiga perdição, na mentira que acreditei."