Karol Rodrigues 25/05/2013
Sabe aquele livro que você não tinha ideia de que ia te impressionar tanto? Pois é, A Resposta foi um desses livros para mim. Quando recebi o release do livro pela Editora Bertrand, eu nunca tinha ouvido nem falar da história, quem dirá que tinha um filme que estava concorrendo ao Oscar 2012. Pois é, recebi o livro e fiquei surpresa com a quantidade de páginas e com a sinopse. Claro que o fato de se tratar da história de uma jornalista me fez ficar mais interessada e passei a pensar "é, possa ser que eu goste". E surpreendentemente, foi o que aconteceu. Me apaixonei pela história, pela narrativa, pelos personagens e principalmente pela inteligência da autora.
"Limites entre pretos e brancos também não existem. Algumas pessoas inventaram que existiam há muito tempo. E isso vale para o lixo branco e pras madames da sociedade também. - Aibileen"
Skeeter (mosquito em português), como é conhecida Eugenia Phelan, uma jornalista formada recentemente, é uma daquelas garotas que podemos considerar muito avançada para sua época. Vivendo no Mississipi, no ano de 1960, ela se revolta com a injustiça e o preconceito que vê partir das suas amigas para com suas respectivas criadas e resolve fazer algo muito perigoso, que de início pode parecer singelo: escrever um livro. O que acontece é que esse livro será formado por histórias de empregadas domésticas, que na década de 60 não eram nada bem vistas pela sociedade branca.
"Negros e brancos não podem partilhar bebedouros, cinemas, banheiros públicos, estádios, cabines telefônicas, espetáculos de circo. Negros não podem usar a mesma farmácia nem comprar selos no mesmo guichê que
eu. - Srtº Skeeter"
O livro é contado pelo ponto de vista de três personagens: Skeeter, Aibileen e Minny. As duas últimas são criadas, negras e trabalham na casa das duas melhores amigas de Skeeter, e membros da tão conceituada Liga da cidade de Jackson. Elizabeth e Hilly são duas peruas da alta sociedade branca e pensam que o mundo gira em torno delas e das suas famílias ricas. Elizabeth, um pouco menos perigosa e mais simpática que Hilly, tem uma filha que recebe nada do amor de mãe e todo o carinho e atenção da criada negra: Aibileen. Mae Mobley é uma criança adorável, de dois anos de idade, que acaba encontrando o que não tem da mãe, na criada da casa.
"Toda a minha vida me disseram no que acreditar, em termos de política, sobre os negros, já que nasci menina. Mas, com o dedão de Constantine pressionado contra a minha mão, compreendi que, na verdade, eu podia escolher no que acreditar. - Srtª Skeeter"
A Resposta é um livro clássico. É emocionante, frustrante e além de tudo, histórico. Kath narra a tensão que se instala após a morte do presidente Kennedy e pior ainda, quando a marcha de Martin Luther King é acionada. Stockett é crítica, debochada, extremamente inteligente, sutil com as palavras, e ao mesmo tempo complexa e polida. A narrativa dela me fez mergulhar no cenário, na descrição dos personagens e nas cenas mais que emocionantes. Foram muitas as vezes que vieram lágrimas aos meus olhos. Tanto pela intensidade da narrativa, quanto pelo peso psicológico que certas cenas continham. A relação de Mae Mobley e de Aibeleen foi a principal causa da minha emoção.
O mais impressionante é que esse é o romance de estreia da Kath, e já foi parar nas telonas com o nome de Histórias Cruzadas. A adaptação, que concorreu, mas perdeu, como melhor filme no Oscar desse ano parece ser tão emocionante quanto o livro. Assisti algumas cenas e o arrepio, pela beleza da obra, percorreu meu corpo inteiro. A autora consegue fazer a gente se prender a cada personagem, a cada detalhe do cenário e a vida dessas três mulheres extraordinárias, que se tivessem existido de verdade iriam estar cravadas na história da humanidade. Guerreiras, corajosas e infinitamente atrevidas, elas conseguem o que querem, como querem e na época que querem.
"Vai ter então uma batida na sua porta, tarde da noite. Não vai ser a madame branca. Ela não faz esse tipo de coisa ela mesma. Mas, enquanto o pesadelo tá acontecendo, o incêndio ou as facadas ou o espancamento, você percebe uma coisa que você sempre soube, durante toda a vida: a madame branca nunca esquece. Ela só vai parar quando você estiver morta. - Aibileen"
Aprendi muita coisa com esse livro. Além de poder conhecer o sofrimento dos negros nos anos 60, pude me revoltar junto com a Srtª Skeeter e torcer para que na próxima página todos os brancos se tornassem menos ridículos e preconceituosos. Claro que essa visão não era possível naquela época por estarmos falando de pessoas com mentes fechadas e voltadas para o próprio umbigo. Kath soube conduzir o leitor àquela época e mostrar como era duro ser um negro quando todo o resto da sociedade lhe olhava torto e não era possível nenhum contato mais interpessoal. Lemos sobre sofrimento, felicidade, preconceito, amor, perseverança e coragem. Com certeza um dos melhores livros que já li.