Debs 08/09/2020"Os que não constroem precisam queimar"Não estou encontrando as palavras certas para definir esta obra. E olha que isso é um assombro, pois raramente me faltam palavras para comentar um livro.
Creio que seja um desses livros que todos deveriam ler.
Por muito tempo várias pessoas me falaram dele. Inclusive, meu pai teve uma banda com o nome de "Fahrenheit 451". Ele era jornalista, músico e maluco por livros.
Não nego, meu receio sempre foi a premissa básica do livro, ou seja, a ideia de queimar algo tão precioso.
Só isso me fazia perder a coragem de ler. Até que meu marido me deu de presente depois de descobrir o nome da antiga banda do meu pai.
E não acho que deveria ter lido antes, eu li exatamente quando precisava ler.
Concordo com a maioria das resenhas que vi, é um livro atemporal.
Me peguei refletindo sobre questões que poucas vezes refleti. Me peguei comparando as passagens com cenas da minha realidade que já observei ou senti.
Me doeu o estômago! Não apenas pela queima dos livros, mas por entender que isso acabou sendo imposto pela sociedade. Por entender a merda que o mundo acaba se tornando sem os livros.
Porém, a escrita não me agradou tanto e sinto que faltou profundidade nesse universo distópico.
Não consegui interagir muito com o mundo criado.
Gostei do protagonista, simplesmente pq senti com ele cada descoberta, cada pensamento angustiante.
Não tem romances amorosos. Não tem vilões. Tem pessoas.
Pessoas que tomaram decisões ruins, pessoas que se tornaram tão superficiais que não percebem mais a própria tristeza. Que não percebem a própria angústia e desolação. Pessoas tão soterradas no buraco que nem lembram mais que existe terra acima.
Esse foi o choque. Pq é fácil imaginar um louco queimando livros, é fácil imaginar um político autoritário querendo calar o conhecimento e a imaginação. Difícil é imaginar que isso ocorre entre os indivíduos comuns... Os amigos, os vizinhos. Que ocorre no trabalho, na escola e dentro de nossas casas.
E ler isso foi tão real que chegou a doer.
Me peguei refletindo diversos momentos se eu já estaria nesse nível de "alienação" ou se demoraria muito para chegar. Me peguei refletindo, inclusive, qual seria o livro que eu escolheria para guardar na minha memória para sempre.
Fahrenheit 451 é mais do que um romance, é meio que um tapa na cara. E um alerta. Afinal, como diz no posfácio existem muitas maneiras de queimar um livro.