Perto do coração selvagem

Perto do coração selvagem Clarice Lispector




Resenhas - Perto Do Coração Selvagem


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m.bóttica 25/02/2024

?A eternidade é o não ser, a morte é a imortalidade.?
Fui numa papelaria com amigos no horário de almoço da escola, suada como nunca pelo sol ardente do meio dia, a fim de fugir do meu namoro perto de terminar e porque estava sem grafite. Nessa papelaria tem uma grande variedade de livros, e lá vi Clarice Lispector.

Quem não conhece? Eu conhecia, e queria ler fazia anos. Só não sabia onde começar, e tinha medo de realmente tentar descobrir. Só que minha mente já tava confusa, e gastar dinheiro sempre me deixa feliz, então vi três livros dela enfiados no meio de infinitos outros: Água Viva, A Hora da Estrela, e Perto do Coração Selvagem.

Fiz Uni-Duni-Tê. Caiu em Perto do Coração Selvagem. Comprei, e li o meu primeiro livro da Clarice.

Eu uso post-its para marcar, e não tem uma
página sem marcação no livro inteiro.

O livro conta a história da vida de Joana, e principalmente seus pensamentos sobre ela. O fluxo de consciência é fortíssimo e tão bem escrito que me sentia ela, como se tivesse dentro de suas entranhas.

E eu entendo Joana. O jeito que sua raiva ou apatia a deixavam confusa de o que era viver, a coisa indescritível que é a cabeça (Mesmo que Clarice tenha feito mágica em descrever), como se destoava do sistema patriarcal que vivemos, seus pensamentos tentando aprender como existir e o que a existência significa em si? Chegam a dar lágrimas nos olhos.

Cada parte da vida dela, cada descrição, cada pensamento? Nunca li algo tão bem escrito, e tão emocionante. Tem momentos nesse livro que eu consigo lembrar até frases, o que é muito raro para mim! Dá até vergonha dar outros livros 5 estrelas depois desse, mas sei que não tem como julgar outros em patamar da perfeição.

Seu final me deixou tão emocionada que não sei nem descrever. Fiquei o resto do dia em um tipo de frenesi, pensando repetidamente sobre o que tinha lido e como tinha sido escrito. Nada, absolutamente nada, se compara ao jeito que Clarice sabe usar as palavras não só para contar a história, mas dar vida a ela.

Para as pessoas que dizem que não conseguem entender a história, não acho que precise entender tudo. Não é sobre o que aconteceu na vida da Joana, mas sobre o que a Joana sentiu na vida dela, e o que o leitor vai sentir lendo. Palavras difíceis? Pesquise. Não compreendeu? Leia de novo. Não tenha um pé atrás só porque parece difícil, aprenda a explorar e amar a dificuldade nesse estilo de escrita tão único.

Me dá medo dizerem que esse é o livro mais ?infantil? da Clarice! Mas também me convenceu a comprar o box inteiro de primeira, então acho uma ótima obra pra começar a se aventurar na mente de uma autora tão importante pra nossa história.
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Manu 24/02/2024

Para Clarice, não há medo em ser visceral.
A maneira como a história se desenvolve é inovadora para a época (1940) e arrebatadora para a atualidade (2024).

Clarice não possui medo algum, em escrever. Parágrafos? Não há limites para seu tamanho e seus devaneios poéticos. São pensamentos transcritos, não há linearidade na poesia escrita com tanta subjetividade que saem dos dedos de Clarice.

A história vai e vem e volta, como se seguisse tudo aquilo que a personagem pensa. A vida pode até ser cronológica no tempo, mas tudo o que sentimos não tem cronologia e se recusa a caber naquilo que conhecemos como tempo linear e cronológico.

Clarice te arrebata aqui, ela te rasga em corpo, mente e espírito. Foi preciso muita coragem pra ser visceralmente subjetiva nessa escrita. Clarice sabe usar o português, sabe usar as palavras, inova no significado delas e as coloca em frases que vão abrir fendas em sua cabeça.

Sensível. Imaginário. Visceral. Irônica. Caleidoscópica.

Esse livro é uma víbora, e vai te engolir.
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Valena.Monteiro 23/02/2024

Sou apaixonada pela escrita da clarice lispector. Amo a forma como ela descreve seus personagens. Clarice faz nós amar seus personagens como uma pessoa real.
Joana é simples, tem uma quietude e uma ternura imensa. Lia as suas palavras e sentia uma grande compaixão do que sentia. Consegui me colocar no lugar de Joana.
O livro é tão denso e complexo, mas de uma forma boa, que o leitor consegue se apaixonar pela leitura e entender o que é o coração selvagem da vida.

"ajudai-me, eu só tenho uma vida e essa vida escorre pelos meus dedos e encaminha-se para a morte
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Vic 22/02/2024

Clarice nunca foi amadora.
Perto do coração selvagem foi o primeiro romance de Clarice, publicado em 1943, e muito me choca que ela tenha conseguido tamanha complexidade já no seu primeiro livro. O que, para mim, só mostra o potencial gigantesco que ela carregava e que explorou sem medo. Clarice nunca foi amadora.

Eu demorei um tempo para conseguir me envolver com a história, tive muito mais dificuldade com o estilo de escrita, mas depois que ultrapassei essas barreiras a história parecia estar ali, me esperando desde o início. Ainda bem.

Tem um trecho que ficou reverberando em mim, diz ?aceito tudo que vem de mim porque não tenho conhecimento das causas e é possível que esteja pisando no vital sem saber.? Isso me fez pensar na importância de aceitar tudo o que somos, sem demonizar nossos lados mais obscuros, porque eles também integram quem somos. Porque eles podem ser parte vital da nossa construção.

Ler Clarice é sempre um momento de autoconhecimento, de confrontar-se, desafiar-se e, sobretudo, respeitar-se pelo que se é, não pelo que gostaria que fosse. Mais uma vez estou aqui pra dizer que ler Clarice é (quase) fundamental.
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claracoutorosa 21/02/2024

? ?é exatamente da minha natureza nunca me sentir ridícula, eu me aventuro sempre, entro em todos os palcos?
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rafa moreno 21/02/2024

Abstrato
Me dá um pouco de pena não gostar de um livro da Clarice. Mas com pena mesmo eu não gostei.

Foi difícil seguir o enredo com esse estilo de escrita tão figurado, tanto que não sei se entendi tudo. Muitas palavras desconhecidas que parecia que eu não sabia português tão bem.

Ainda assim, houve momento geniais, com frases que eu marquei e que tatuaria (se eu ao menos tivesse coragem).

Talvez eu só não estivesse na vibe desse livro agora mesmo.

Desculpa aí, Clarice.
edu basílio 21/02/2024minha estante
eu compreendo você ?




maria 21/02/2024

Estava abandonado, feliz, perto do selvagem coração da vida.
Perto do coração selvagem foi o primeiro romance de Clarice Lispector e, diz muito, de forma geral, sobre as outras obras dela. Um livro que usa da hipersensibilidade e ao mesmo tempo, do racional.
Joana, a personagem principal, chega realmente perto do coração selvagem da vida. Ela está em constante busca pelo sentido mais profundo das coisas, pela solidão que a conforta, por ela mesma.
Joana tem sua feminilidade, mas também não se importa de fugir desse enquadramento, visto que, por natureza, é uma personagem com forte espírito de aventura, audácia e independência, características que remetem tradicionalmente ao gênero masculino. Como o livro foi publicado em 1943, Clarice desfez o estereótipo feminino com Joana, pois desde muito tempo, mulheres tinham que ser mais submissas, dependentes aos homens, ?rendidas?. O contrário da protagonista, mas parecido com Lídia, outra personagem.
Perto do coração selvagem é um livro intenso, um livro de abandonos que libertam, um livro em que a solidão não é necessariamente ruim. Clarice, como sempre, descreve sensações e pensamentos que eu não conseguiria colocar em palavras. Mas a autora colocou tudo em palavras, até o som de objetos.
A voz e o som foram fatores importantes para a construção do raciocínio de Joana, que reflete diversas vezes sobre a mulher da voz e inclusive, nos traz o pensamento sobre como as vozes que escutamos durante a vida podem influenciar direta ou indiretamente em nossa própria voz.
A influência das vozes, o fluxo de consciência e inconsciência, os polílogos, as emoções, os cinco sentidos do corpo humano, o sentimento que dá e antecede o raciocínio, o próprio raciocínio, o que vai além do gênero feminino ou masculino, o que vai além do humano e não humano foram elementos trabalhados com excelência na escrita de Clarice. Certas partes me deixaram pensando por um longo tempo, e foi um prazer experienciar mais um livro dessa escritora que admiro tanto.
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Gabi 21/02/2024

Sensacional!!
Não tem como explicar a escrita de uma autora tão única quanto a Clarice. Nesse livro, assim como nos outros que eu li dela, pude perceber que as palavras que ela coloca devem ser sentidas em sua mais bela forma.
O talento de Clarice encanta e permanece por gerações pelo o que é capaz de causar no leitor, como a inquietação, reflexão e até mesmo certo desconto, dificilmente você encontra algo semelhante. Estou ansiosa para ler cada vez mais livros dessa deusa da literatura!!!
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Myllena 21/02/2024

Ela não encontrou a felicidade...
Esse é meu primeiro livro da Clarice e vejo que não é fácil entrar na cabeça dela, compreendê-la. Tem muitas coisas no livro que sequer entendi mas muitas eu senti, me vi próxima de Joana em suas reflexões sobre morte ainda vivendo. Queria conseguir entrar mais fundo na cabeça de Joana mas ela não permitiu.
Otávio é um safado. ?
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Ana 20/02/2024

Também eu. Nunca penetrei meu coração.
Joana é uma força da natureza, selvagem e indomável, compreensível mas inexplicável. Me apaixonei por tudo que conheci dela, mas mais ainda o que não pude conhecer e sempre será impenetrável. Esse livro é um daqueles em que mergulhamos profundamente na leitura e não conhecemos mas deixamos se conhecer, e não os personagens, mas a nós mesmo.

?A única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais.?
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Caroline.Jacoud 18/02/2024

perto do coração selvagem, não dentro. dentro é mistério
Joana é a força selvagem. passamos a leitura inteira tentando capitar a totalidade de Joana. em vão. ela é inalcançável a medida que desafia o sentido da moralidade. nos coloca em cheque a todo tempo ao ser inusitada, livre, crua.

ao acompanhar esse romance de formação, embarcamos na trajetória dessa personagem complexa que, na ausência de exemplos convencionais de "criação", segue intuitivamente o caminho do sentimento. espelha-se, de alguma forma, nas mulheres que atravessam o seu caminho, tanto para entender seus próprios limites, como também para descobrir o que deseja.

escrever sobre Clarice é uma eterna tentativa de se traduzir o abstrato, o subjetivo, o íntimo, o que toca, o que sente.

perto do coração selvagem, não dentro. dentro é mistério.

"Quando me surpreendo ao fundo do espelho assusto-me. Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida. Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma".
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MarcelleC. 17/02/2024

Joana e sua mente tagarela
Não foi uma leitura facil, meu 1o livro da Clarice. É um livro que aborda muito mais questões humanas, as reflexões e perguntas sobre a vida que acabamos em algum momento nos fazendo ao longo da vida, porém a história é contada como se fosse a mente tagarela de Joana e sua história de vida o tempo todo. Por várias vezes, precisava voltar algumas páginas no dia seguinte pra reler e relembrar o que já havia lido pra história fazer sentido. Uma grande autora, como escrita profunda, e um jeito de narrar uma história realmente diferente das padrões que estamos acostumados, talvez por isso tenha sido mais difícil de ler e terminar esse livro.
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Mano Beto 14/02/2024

Perto, mas longe de enxergar o meu coração selvagem.
Estava com certo receio de ler este livro por se o primeiro romance da Clarice e por eu ter começado a mergulhar no universo literário dela com o livro A Paixão Segundo GH. O livro pra variar, me deixou impressionado em vários aspectos. A começar, a forma fragmentada dele para época (ele foi lançado em 1943). É inacreditável que isto foi escrito nos anos 40. Um colega meu leu, mas sem saber da informação do lançamento, custou a acreditar. Se eu não tivesse conhecimento das informações da autora e do livro e fosse falado para mim que o livro foi lançado em Janeiro de 2024, acreditaria sem hesitar.

Mesmo sendo o primeiro livro, Clarice sempre tem pontos que falam conosco, tocando em nossos corações selvagens. Acho que cada um de nós, estamos perto do coração selvagem. Mas estar perto, é bem diferente de ver. Não é para qualquer um essa observação. Eu mesmo, por hora, ainda não tive contato visual meu coração selvagem. Se tive, provavelmente passou desapercebido por mim.

Joana é uma personagem forte e a frente do seu tempo. Mas nem a força é capaz de inibir o questionamento que a personagem tem durante o livro. "Ser feliz é para se conseguir o quê?".

Outro detalhe que o livro apresenta é a sociedade daquele tempo. Alguns momentos são talvez comum pela ótica contemporânea, mas se formos analisar a época original do lançamento do romance, chega a ser surpreendente o que Clarice via. O diálogo que o Pai de Joana tem com um amigo Alfredo falando a respeito da mãe de Joana, mostra esta lado observador da autora diante da vida. "Ela não precisava de mim. Nem eu dela, é verdade. Mas vivíamos juntos". E a conversa finaliza com este trecho: "Felizmente tenho a impressão de que Joana vai seguir seu próprio caminho..."

Além disso, os personagens proporcionam diálogos que ficam martelando na nossa cabeça e para quem ler o livro hoje como eu, provavelmente ficará pensando "mas como você pode pensar nisso Clarice?" Este trecho de uma conversa entre Otávio e Joana, é um dos momentos mais incríveis do romance:

"Não, não... — falou ela fragilmente. — Acredite, Otávio, meus conhecimentos mais verdadeiros atravessaram minha pele, me vieram quase traiçoeiramente... Tudo o que sei nunca aprendia e nunca poderia ensinar."

Realmente tem certas...coisas que não dá para ensinar, mesmo que há vontade em passar o conhecimento. Certos aprendizados são somente nossos. E o que Joana aprendeu, descobriu, viveu, é somente dela. De mais ninguém.

"...apenas assisto ao meu esgotamento em cada minuto que passa. Sou só no mundo, quem me quer não me conhece, quem me conhece, me teme..."

E assim fico cada vez mais fascinado por esta escritora (que finalmente me permiti ler em Janeiro de 2024).

Quanto mais me deparo com arte, mais tenho segurança de me gabar do meu talento - de apreciar arte. Fazer arte, aí eu deixo para outros se gabarem disso, como a própria Clarice, que faz arte com as palavras.



Craotchky 14/02/2024minha estante
Você destacou uma grande questão: "Ser feliz é para se conseguir o quê?". Não posso deixar de lembrar que abordei o viés utilitarista invocado por essa questão na minha resenha de Vamos comprar um poeta.
Estou ficando preocupado com você. Está devorando os romances de Clarice muito rápido! Logo você vai esgotá-los e ficar sem! Haverá abstinência!


Mano Beto 15/02/2024minha estante
Verdade né rs. Vamos para um Fernando Pessoa que você sugeriu depois a gente volta para a Maçã no Escuro rs. Mas de verdade, estou impressionado demais com Clarice rs.




mariajcruz 12/02/2024

?deus, como ela afundava docemente na incompreensão de si própria.?

causa impacto. vira do avesso sem piedade. joana parece não enxergar limites entre o bem e o mal. constantemente voltando-se para si em questionamentos constantes. uma viagem através da rejeição, da solidão, do abandono, da imortalidade, morte e felicidade.

durante a leitura somos aproximados da natureza humana. em certos momentos de forma tão poética que chega a dor chega a ser bonita. em outros, de forma tão dolorosa que arranha como farpa. e essa é joana. sem limite entre o bem e o mal. a morte e a vida.
o prazer de ser auto-suficiente e a solidão de não se sentir compreendida.
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