Tribo do Livro 26/04/2014
Resenha por Ver Sobreira
Então, a primeira coisa a dizer sobre Como Viver Eternamente é que ele não é uma "cópia" de A culpa é das estrelas, até porque é um relançamento. Os personagens tem sexo, idades e tipo de câncer diferentes, Sally Nicholls tinha 23 anos quando escreveu e hoje caminha para 31 anos. As perspectivas de um está muito longe da, do outro, ou seja, Sam antecede Hazel. Mas há uma pergunta que cremos paira sempre no ar: O que nos leva a ler livros da chamada "sick-lit"?, termo aliás um tanto quanto pejorativo, só por se tratar de romances que focam doenças como um dos protagonistas. Porque em parte é disso que se trata, por menos que se fale ela está lá como fio condutor da trama.
Sam tem 11 anos, está doente, tem leucemia e sabe que vai morrer. Ele adora fatos, coisas, filmes de terror e resolve fazer listas. Ele tem um amigo, Felix, que conheceu em uma das vezes que estava internado. Felix também está doente e ao que parece em um estado mais grave que Sam. Os dois se tornaram tão amigos que estudam juntos, em casa, fazem revezamento de casas. A professora deles, a sra. Willis incentiva-os a escrever e Sam decidi escrever um livro sobre ele, sua doença e as reações de sua família. Mesmo sob o protesto de Félix, que só dá ideias e escreve apenas uma linha do livro, ele segue. Porém um acontecimento previsto, mas não tão aceitável vai abalar profundamente Sam. Com isso seu pai que até então tentava negar as verdadeiras condições de saúde de Sam, fará tudo que estiver ao seu alcance para tornar os dias do filho os melhores possíveis.
Passei o dia inteiro escrevendo sobre Felix, a aula e o recorde. Às vezes, que fiquei doente da última vez, eu fico cansado. Tudo o que quero fazer é me enrolar na cama e assistir filmes, ou ficar olhando um livro, ou escrever e escrever e não ter de pensar. (...)
Bem, esta é uma história de ficção, não tão ficção assim. Particularmente nunca convivi ou tive contato com quem tem uma criança com câncer na família, mas penso que deva ser doloroso. O curioso dos livros que abordam estes temas é que sempre é pior para quem está ao redor da pessoa doente. Por isso, é possível pensar que é a pior parte mesmo. A irmã de Sam, Bella, parece ter uma vaga noção dos acontecimentos, mas ao lermos percebemos que ela sabe o suficiente para sentir sua falta quando o momento chegar. Seu pai, Daniel tenta todo tempo mascarar a dor e não toca no assunto quando ele se torna sério demais, tenta tratar Sam com se tudo estivesse normal, e quando se dá conta de que o filho está morrendo não perde mais tempo e encara. E a mãe, bem, esta é a sempre guerreira, mas que chora compulsivamente nos braços do filho e às vezes quer brigar com Deus.
O curioso na narrativa de Sally Nicholls é que decididamente ela não quer nos fazer chorar e talvez sim compreender a dimensão da doença na visão de uma criança de 11 anos. É muito diferente do adulto, horas ela se revolta e vez por outras ela pensa que é isso mesmo, a vida é assim. Algumas pessoas não deveriam morrer cedo, porém morrem. Sam fez onze listas durante o período que escreveu seu livro e na décima primeira lista tem duas passagens interessantes:
Acho que um enterro tem de ser divertido. As pessoas não devem usar preto. Contem só as histórias engraçadas, e não as tristes sobre mim.
Podem ficar tristes, mas não é permitido ficarem tristes demais. Se ficarem tristes toda vez que pensarem em mim, então como vão poder se lembrar de mim ?
É isso. Recomendado.