Lucas T 22/04/2022
Mais uma do King
Tripulação de esqueletos (Skeleton Crew, 1985): é uma renomada coletânea de contos do mestre do horror Stephen king, a segunda publicada por ele, em 1985, após "Sombras da Noite" (Night Shift). Ao todo são 22 histórias, que exploram o mais puro terror; passando por divagações sobre vida e morte, horror trash e fantástico, e até mesmo ficção científica, incluindo uma novela e dois poemas. O livro é muito rico em conteúdo, são histórias que representam a segunda década de trabalho do King, considerada a época de amadurecimento do escritor.
Vários contos foram adaptados para filmes e séries de TV, incluindo a renomada "Além da Imaginação".
Os contos apresentados aqui conseguem prender o leitor do início ao fim, não é atoa que Tripulação de Esqueletos é considerada, por muitos, a melhor coletânea de contos do King.
1 ? O nevoeiro (The Mist, 1980):
Uma enorme tempestade chega causando muita destruição numa cidadezinha do Maine, assustando David Drayton e sua família. Na manhã seguinte, os estragos eram muitos, e David precisa ir com seu filho até o supermercado atrás de alimentos e suprimentos.
Mas, com a tempestade, chega um espesso nevoeiro, carregando consigo medonhas criaturas vindas de outra dimensão. Agora, presos no supermercado e ameaçados pelo infinito nevoeiro e suas bizarras criaturas, David tem a difícil tarefa de proteger seu pequeno filho, enquanto o fanatismo cresce entre as outras pessoas que estavam ali, alimentando a tensão dentro do supermercado.
Até que um deles vai exigir um sacrifício de sangue ao "todo-poderoso", argumentando que só assim eles seriam salvos.
Nota: 5.0
A história é envolvente e muito tensa. Prende o leitor já nas primeiras páginas. O mistério que ronda o nevoeiro é muito interessante, os monstros variam entre aranhas gigantes, tentáculos assassinos, enormes pássaros carnívoros e muitas outras criaturas Lovecraftianas. O autor não vai de dar muitos detalhes sobre esses monstros, então fica a cargo da sua imaginação tentar descobrir o que de fato se esconde dentro do nevoeiro.
2 ? Aqui há tigres (Here There Be Tygers, 1968):
O conto narra a história de um garotinho que está apertado e precisa muito urinar, mas tem receio de pedir para a mal-humorada professora deixá-lo ir "ao porão" (banheiro). Após passar muita vergonha, ele finalmente consegue a permissão para sair da sala. Mas, ao chegar no banheiro dos meninos, ele se depara com algo completamente insano e surreal, há um enorme tigre lá dentro.
Nota: 2.6
O conto tem cerca de 03 páginas, é uma história extremamente simples e sem muito desenvolvimento. Não tem explicação para o enorme tigre estar naquele banheiro (provavelmente fruto da imaginação do nosso protagonista), mas a leitura consegue ser interessante, pois nós temos uma história sob a perspectiva de uma criança.
3 ? O macaco (The Monkey, 1980):
Hal, ainda na infância, teve contato com o amaldiçoado macaco; o que era pra ser apenas um inofensivo brinquedo infantil, que consiste em fazê-lo bater seus pratinhos (basta girar sua chave para que as engrenagens possam funcionar), acaba se tornando o pior de seus pesadelos.
Hal vai descobrir que tem algo de muito errado com o macaco, sempre que ele bete seus pratinhos, alguém morre.
Anos depois, Hal pensava que tinha se livrado do maldito brinquedo, mas o macaco volta, como que puxado por uma força maligna, e agora Hal teme pela vida de seus familiares.
Mas como se livrar de um amaldiçoado brinquedo que se recusa a ir embora?
Nota: 4.0
Stephen King tem uma imaginação fascinante.
O conto foi publicado originalmente em 1980, quando a ideia de um brinquedo assassino ainda era uma novidade.
O conceito do macaco, que já consegue ser assustador sem qualquer influência sobrenatural, funciona muito bem aqui, gostei do conto, apesar de não ser exatamente o que eu esperava, imaginava algo mais aterrorizante. A história é trash e remete muito aos anos 80, o que pra mim, é um ponto positivo.
4 ? Caim Rebelado (Caim Rose Up, 1968):
O Jovem Curt fica muito abalado após não ir bem nas provas do final de semestre. Ele decide então seguir até seu apartamento na universidade, e muito calmamente pega seu rifle 352 e passa a atirar em todos que estavam passando no jardim, naquele momento.
Nota: 2.5
Esse conto é extremamente curto, com apenas 04 páginas de história. Foi escrito quando o Stephen King era muito jovem, e provavelmente estava passando por maus bocados no colegial. Não há qualquer desenvolvimento de enredo e personagens, posso dizer que achei divertido, e nada mais.
5 ? O Atalho da Sra. Todd (Mrs. Todd's Shortcut, 1984):
Homer é um homem de meia-idade que vai narrar uma história muito interessante sobre a Sra. Todd, sua antiga patroa viciada em pegar atalhos.
Os atalhos da Sra. Todd são inacreditáveis, uma vez que ela consegue percorrer de cidade para outra em pouquíssimos quilômetros, economizando vários minutos de viagem.
O que, pela lógica, é impossível.
Quando ela o convida para pegar um desses atalhos, Homer descobrirá que a Sra. Todd, na verdade, está atravessando outras dimensões, um fenda no tempo, que a permite percorrer por caminhos que nenhuma pessoa jamais pensou que pudessem existir.
Nota: 5.0
Excelente conto do King. Com bom desenvolvimento de enredo e personagens. Essa história possuí um clima impagável de Além da Imaginação e o final é incrível. Simplesmente perfeito.
6 ? A Excursão (The Jaunt, 1981):
Num futuro distante, o teletransporte é uma realidade, essa tecnologia é conhecida como "a excursão". Mas, quando a única regra é quebrada (Você só pode fazer a excursão quando está dormindo), coisas bizarras podem acontecer.
Nota: 4.0
Gostei muito desse conto, embora tenha achado enfadonha as inúmeras explicações que o autor deu ao explicar a origem do teletransporte, e o porquê de só podermos utilizar a excursão quando estamos dormindo. Mas o final salvou tudo, apesar de não ser surpreendente, é incrível!
7 ? A Festa de Casamento (The Wedding Dig, 1980);
Um grupo famoso de Jazz foi convidado para tocar na festa de casamento da irmã de um mafioso. Durante a festa, acontece um conflito entre a facção rival, e os músicos ficam perdidos em meio a tanta violência e troca de tiros.
Nota: 3.0
Sinceramente, achei esse conto bem fraquinho. E um tanto problemático, pois a noiva, irmã do mafioso, é uma mulher bastante gorda e não muito bonita, por causa disso ela foi depreciada durante toda a narrativa, pelo autor e pelos personagens da história. Achei ofensivo. O principal conflito é resolvido de uma forma bem rápida e sem muita emoção. Para mim, faltou algo a mais.
8 ? Paranóico (Paranoid: A Chant, 1985);
Escrito exclusivamente para essa coletânea. Conta a história de um homem esquizofrênico que vai descrevendo em seu diário, suas visões e seus delírios durante os surtos de esquizofrênica. O principal delírio, e o mais assustador, é com um homem fumante, usando uma capa de chuva amarela, que o observa pela janela do quarto.
Nota: 2.0
Mais uma daquelas histórias extremamente curtas e mal desenvolvidas. Não tenho muito a dizer a respeito. Não chega ser ruim, mas também não é bom.
9 ? A Balsa (The Raft, 1882);
Grupo de amigos universitários partem em uma viagem para Cascade Lake. Chegando ao lago, eles nadam em direção a uma balsa, enquanto se divertem. Mas eles percebem que não estão sozinhos no lago, pois uma enorme mancha oleosa, parecendo estar viva, segue na direção deles, comendo tudo pela frente, deixando-os encurralados na plataforma da balsa, em meio ao lago, sendo impossível de fugir.
Nota: 5.0
Gostei muito desse conto. Ele é trash na medida certa. Sendo um pouco clichê ao mostrar um grupo de jovens que são atacados por uma força sobrenatural, quando eles só queriam diversão; já vimos isso várias e várias vezes, mas a escrita única do King fez esse conto ser muito divertido de ser lido.
10 ? O Processador de Palavras dos Deuses (Word Processor of the Gods, 1983);
Richard ganha de aniversário um processador de palavras feito manualmente por seu sobrinho, Jonathan. Não demora para ele descobrir que pode deletar coisas em sua vida, basta escreve-las no processador e apertar a tecla "DELETE" e aquilo simplesmente irá desaparecer, como se nunca tivesse existido. Richard usará essa habilidade para tentar mudar os rumos de sua vida, que não é das melhores.
Nota: 5.0
Esse conto é um dos destaques dessa coletânea. Gostei muito. Eu esperava um final trágico, e ganhei algo incrível e apaixonante. Essa história é outra que possuí um clima impagável de Além da Imaginação.
11 ? O Homem Que Não Apertava Mãos (The Man Who Would Not Shake Hands, 1981);
Um dos membros do misterioso clube 249, local onde magnatas se reúnem para contar histórias assustadoras durante o inverno, falará sobre um estranho homem que não apertava mãos, pois, foi vítima de uma terrível maldição e todos que tocam em suas mãos, acabam morrendo.
Nota: 5.0
O Clube presente nesse conto é o mesmo que aparece no livro "Quatro Estações" (Different Seasons, 1982), provando mais uma vez que todas as histórias do King estão conectadas. Confesso que eu gostaria de saber mais sobre esse Clube e os homens que o frequentam. Penso em quantas histórias incríveis são contadas nesse lugar.
12 ? Um Mundo de Praia (Beachworld, 1984);
Astronautas caem em um estranho planeta, composto apenas por enormes dunas e um imenso deserto. Agora, entre a loucura e a solidão, eles descobrirão que esse mundo de praia pode estar vivo e, certamente, é muito perigoso.
Nota: 4.0
Conto muito criativo, com vários elementos que eu aprecio muito numa história; ficção científica, mundo misterioso, fantasia e realismo fantástico. Mas, o desenvolvimento não foi tão bom, acho, talvez por seu uma história bem curta e pouco detalhada.
13 ? A Imagem do Ceifeiro (The Reaper's image, 1969);
Em um museu de antiguidades, há um estranho espelho, um item de colecionador que é uma raridade. Existe uma lenda que diz: a pessoa que enxergar nele uma criatura encapuzada a sua esquerda, irá desaparecer misteriosamente.
Nota: 4.0
Gostei desse conto. Ele tem uma atmosfera soturna que eu aprecio muito. O espelho e sua maldição é muito interessante, de fato, considero os espelhos deveras assustadores, misteriosos, e por isso morro de medo de encontrar algo neles além do meu próprio reflexo. Achei essa idéia do King macabra e muito criativa.
14 ? Nona (Nona, 1978);
Um prisioneiro vai narrar uma história de amor estranha e assustadora que teve com uma mulher misteriosa chamada Nona.
Nota: 2.5
Sinceramente, achei essa história bastante chata, há um excesso de detalhes que poderiam ser retirados do texto integral que não fariam a menor falta. Existe um plot twist perto do final, mas que não será uma grande surpresa para o leitor, pois eu mesmo matei a charada bem antes.
15 ? Para Owen (For Owen, 1985);
Poema escrito especialmente para essa coletânea. Trata-se de uma homenagem do King para seu filho, Owen.
Nota: 2.0
Não sou a melhor pessoa para avaliar um poema, pois não entendo desse tipo de literatura e nem tenho referências para dizer se algo é bom ou ruim. Aqui nos temos o King narrando o mundo segundo a visão de seu filho Owen, que é uma criança, então essa perspectiva fica muito interessante.
16 ? O Sobrevivente (Survivor Type, 1982);
Um cirurgião de Nova Iorque, sobrevivente de um naufrágio, se vê preso numa pequena ilha a deriva no meio do mar. Não há recursos básicos para sobreviver, nem água potável, nem comida, então ele terá de cometer uma loucura enorme para poder alimentar-se e continuar vivo; comer partes de si mesmo.
Nota: 5.0
Esse é um dos destaques deste livro. Uma história maluca sobre um cara que tem de comer a própria perna para não morrer de fome. Mais "king" que isso, é impossível. O conto é incrível e muito agonizante.
17 ? O Caminhão do Tio Otto (Uncle Otto's Truck, 1983);
Uma história sobre um caminhão mal-assombrado que parece ter vida própria e durante muitos anos passou a perseguir um homem velho, muito rico, chamado Otto. Essa história sera narrada por seu neto.
nota: 3.5
Gostei desse conto, pois ele remete a outra história muito famosa do Stephen King que também envolve veículos mal-assombrados, "Christine - O Carro Assassino" (1983), esse se tornou um grande clássico da cultura pop.
18 ? Entregas Matinais (Morning Deliveries, 1985);
Um excêntrico leiteiro faz a entrega matial de leite nas casas de uma pequena cidadezinha, mas ele também vai deixando pequenos "presentinhos" para seus clientes, são objetos perigosos, macabros e peçonhentos.
Nota: 3.5
Interessante. É mais um daqueles contos minúsculos, onde não há desenvolvimento de história e personagens. Mas eu gostei da ideia e acho que podia render mais, se fosse um conto maior.
19 ? O Carrão: Uma História de Lavanderia (Big Wheels: A Tale of the Laundry Game, 1980);
Dois funcionários de uma lavanderia viajam bêbados no veículo da empresa, até que um deles encontra a oficina de um velho amigo de infância. Eles bebem muito e passam a conversar bastante, passam a tarde toda nisso, até ficarem tão bêbados que uma enorme confusão se instala entre eles.
Nota: 2.0
Sinceramente, achei esse conto horrível. Um dos piores dessa coletânea. Ele começa do nada e vai para lugar nenhum, uma pena, pois teve um tamanho bom, são quase 10 páginas de história. Contos muito melhores não chegam a ter nem 05 páginas, então...
20 ? Vovó (Gramma, 1984);
Um garotinho é obrigado a ficar sozinho em casa com sua velha e decrépita Avó, acontece que seu irmão quebrou a perna e sua mãe teve de ficar no hospital cuidando dele, e sobrou-lhe a tarefa de cuidar da vovó. Mas, ao que parece, além de maluca e assustadora, a velha também guarda muitos segredos.
Nota: 4.0
Gostei dessa história. É medonha e até assustadora. Esse conto acabou virando um episódio de Além da Imaginação.
21 ? A Balada do Projétil Flexível (The Ballad of the Flexible Bullet, 1984);
Um escritor a beira da loucura passa a acreditar que estranhas e pequeninas criaturas estão vivendo dentro se sua máquina de escrever, são elfos, ele os chama de "Fornits".
Nota: 5.0
A criatividade do King nesse conto me impressionou bastante, é uma metáfora para a loucura e a perda total da razão. Mas claro, ela escreve a história de um jeito bizarro e intrigante, que só ele sabe fazer.
22 ? O Braço de Mar (The Reach, 1981);
Essa história gira em torno de uma mulher de 95 anos, Stella Flanders, que passou a vida toda em Goat Island, um ilhota no Maine. Stella jamais cruzou o Braço de mar, que é uma linha d'água que separa a ilha do resto do mundo, de modo que ela jamais viu como é a vida no continente. Mas, agora, ela já está ficando muito velha e doente, por ser que ela finalmente tenha que fazer essa passagem.
Nota: 5.0
Última história dessa coletânea, e eu gostei muito do que o King fez aqui, mais uma vez, claro, ele usa de metáforas para falar sobre vida e morte; a linha que separa a ilha do continente, conhecida como "braço de mar", também é a linha que separa a vida da morte, e Stella se vê obrigada a cruzá-la. Excelente história.