spoiler visualizarMarcelo 23/04/2017
Gosto muito de Harlan Coben, mas Desaparecido para sempre foi uma decepção.
Adorei o livro "Silêncio na Floresta" do mesmo autor, e devido à unanimidade dos comentários aqui do site em relação ao "Desaparecido", mergulhei na leitura de mais um suspense escrito por HC com a certeza de que teria uma nova boa experiência. Eu estava enganado.
Antes de mais nada, todo o respeito e admiração que tenho por Harlan Coben não foram abalados com a leitura desse livro. Continuo achando que o autor possui um talento extraordinário para contar histórias, e certamente lerei mais livros dele.
Tanto é que, mesmo não gostando desse livro, eu confesso que fiquei envolvido na história, curioso para descobrir o desfecho daquela teia de acontecimentos, graças à capacidade instigante que o autor possui ao descrever os acontecimentos e diálogos.
O livro começa com o personagem principal recebendo a confissão de sua mãe, no leito de morte, que o seu irmão, outrora dado como desaparecido (ou possivelmente morto), na verdade está vivo. O personagem então decide ir a fundo em busca da verdade. Ate aqui, tudo muito bom, tudo muito bem, mas o livro então começa a arrastar o leitor para uma cansativa descrição de sentimentos negativos, mágoas e ressentimentos acerca das circunstâncias do desaparecimento de Ken, o irmão do protagonista.
As famílias dos envolvidos na tragédia, por alguma razão, não conseguem prosseguir com suas vidas, e capítulo após capítulo os lamentos pela tragédia ocorrida há 11 anos parecem não ter fim, o que só piora quando a namorada do protagonista desaparece e é dada como morta.
Em determinado ponto da história somos apresentados a um médico arruinado financeiramente (viciado em jogo) e que vive recluso. Ele presta socorro a uma mulher gravemente ferida, e quando a mesma parte embora do seu consultório clandestino, ele visualiza uma pessoa com ela no carro. A visão dessa pessoa dentro do carro deixa o médico seriamente perturbado. Muito adiante na história, somos informados de que essa pessoa "a mais" no carro era uma menina de 12 anos, filha de Sheila, a mulher ferida. Depois somos informados que Sheila não é quem todo mundo pensava que era. Sheila morre, mas o protagonista descobre que Sheila, o amor de sua vida, na verdade não é a mulher que esteve ao seu lado. No fim, descobrimos que a menina vista pelo médico não é filha de Sheila, mas filha do protagonista com uma outra mulher assassinada 11 anos antes. Ah, e afinal, qual era a ligação do médico recluso com as famílias, ou com os acontecimentos trágicos, a ponto de o perturbar tanto a visão da garotinha dentro do carro? Essa resposta nós nunca descobrimos. Entendemos que ele é informante do ocorrido para um personagem perigoso, e só.
Como se pode notar, a história tem camadas e camadas e camadas de mentiras a serem desvendadas e cada personagem tem um motivo escuso, o que tornou a leitura do enredo bastante cansativa pra mim. A cada verdade descoberta, logo descobríamos que a tal "verdade" não passava de uma mentira, e um novo fato surgia para desmentir o que outrora havia sido dado verdade, fazendo o leitor se sentir um fantoche nas mãos do escritor.
Reviravoltas são essenciais, mas talvez Harlan pecou pelo excesso, e pela falta de plausibilidade em algumas delas.
Em vários momentos da história o leitor é informado que Ken, irmão desaparecido do personagem principal, se envolveu com o alto escalão da máfia no passado. Num dos "plot twist" finais, temos a confirmação de que Ken é mesmo o bandido que se envolveu no crime e enganou sua família sem pensar nas consequências. Mas como assim? O autor esperava que Ken ser um dos vilões fosse uma grande revelação? Para mim não foi.
A última surpresa está reservada ao personagem John Asselta, homem terrivelmente violento e impiedoso. Na ultima cena, descobrimos que dentro daquele homem capaz de infligir torturas monstruosas, morava um garoto injustiçado pela família e sociedade. Porém, dois capítulos antes, Harlan narrou uma cena onde o suposto vilão despacha provas incriminadoras, essenciais para a prisão de um chefe do crime pelo FBI. Essa cena escrita anteriormente à revelação de sua real personalidade foi um indício de que John Asselta teria mais adiante uma cena de perdão, quebrando o clima da surpresa final.
Eu adoro reviravoltas. Mas algumas "surpresas" finais não foram inesperadas para mim.
Finalizo repetindo: a história manteve o meu interesse, mesmo não gostando inteiramente do que estava lendo. Talvez o problema seja comigo, já que todos parecem adorar o livro.