Dida 21/09/2023
Cada vez que leio um livro ?clássico? me recordo da frase de Calvino que fala ?Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.? Tinha interesse muito grande em ler esse livro a muito tempo, e agora, ao terminá-lo, entendo o que Calvino queria dizer. O livro é escrito de uma forma muito simples, é um daqueles que você consegue ?ler em uma sentada?, mas não significa que ele não te cause um impacto e que você fique pensativa depois. Mesmo quando você sabe o que vai acontecer - o que a sinopse já te diz - , ainda sim não tira absolutamente NADA da experiência dessa leitura. Você passa o tempo todo se questionando se gosta ou não do personagem, se concorda ou não com ele, fica confusa em como a mente dele funciona. Várias vezes tracei algum paralelo com Bartleby, o escrivão, e com o contemporâneo Amêndoas, da sul coreana Won-pyung Sohn, pelo fato de Meursault não expressar muitas reações ao longo de todos os acontecimentos ao longo da história - desde a morte da mãe até o assassinato que comete - e pela forma que ele reage ao que lhe acontece e a como as demais pessoas reagem a ele.
Apesar dele ser um narrador-personagem, a sensação é de que ele não tenta enviesar sua narrativa, conta tudo como de fato ocorre e sem se preocupar em despertar nenhum sentimento de quem está lendo.
A vida e os sentimentos - ou a falta destes? - de Meursault (que nunca sabemos seu primeiro nome) o tornam o verdadeiro estrangeiro do livro. Ele é um forasteiro em relação ao que as pessoas esperam dele, ao que se tem como ?normal? para a maioria das pessoas.