Xanda 27/08/2021
Flerte em Chernobyl
Sério, porque eu vou atrás de livros famosinhos?
Conceito geral: Parece algo escrito por uma adolescente fã de divergente e x-men.
Resumo: Triângulo amoroso adolescente em ambiente distópico. As três pontas são uma menina sem graça com poderes meio vagos, um "amigo" de infância e um bad boy abusivo.
Sobre a narrativa: muito tosquinha e repetitiva. Só nos 5 primeiros capítulos a Juliette (narradora) deve ter romantizado o olho azul do Adam umas 15 vezes. Aliás, desde o começo da história tudo é sobre ele e sobre o Warner (principalmente a aparência deles). A escrita é simples, rápida, nada descritiva (a menos que seja sobre roupa e aparência física de todos os gostosões) e tem alguns momentos de filosofada poética da personagem principal. Essas metáforas que ela lança sempre não são muito boas, não. Essa decisão de repetir frases para desenvolver a saúde mental da Juliette é muito preguiçosa, vontade de xingar muito aqui. A autora mirou no poético e acertou no desleixado e insuportável.
Sobre o enredo: o começo é muito chato. Eu sei que era necessário para construir a atmosfera e o universo, mas tem que fazer o maior esforço pra ler. O resto da distopia é bem genérica e adolescente, não houveram reflexões relevantes ou acontecimentos surpreendes, nem mesmo cativantes. É formula atrás de fórmula. Tem tanto clichê e momentos de vergonha alheia que decidi nem começar a listar para evitar ter de reviver isso. O final é péssimoooo, muito brega, muito forçado, vontade de tacar na parede. Os plot twists são um pouco fracos e achei previsíveis, pouco instigantes. É um livro onde constantemente os personagens se revelam diferentes de como originalmente se apresentaram, mas pelo menos pra mim estava fácil de adivinhar todas as mentiras e farsas, não foi ruim, mas já vi melhores. O desenvolvimento é muito preguiçoso, ao invés de mostrar, criar diálogos e situações para construir os personagens, ela te conta que passaram semanas onde tal personagem insistiu nisso ou naquilo, mudou, fez ou deixou de fazer tal coisa, etc. Os “poderes” da Juliette não vem com justificativa (de repente em um dos próximos livros?) e o mais estranho dos poderes dela no enredo é que se tirar isso da equação, não tem mais plot nenhum no livro, ao mesmo tempo que parece não ser dada a devida importância para a origem disso, a lógica ou como funcionam. Muito má costurada também a questão desse bando de adolescente "contratado" pelo governo. E é tão, mas tão barato a forma como ambos governo e rebeldes querem que a Juliette seja literalmente a super heroína deles - acho muito forçado e aleatório. Desse ponto eu já atesto que achei a intriga política do enredo muito rasa, genérica, um 1984 (referências descaradas) voltado para adolescentes com doses de ambientalismo (que até achei interessante como a vegana que sou) e temperado com momentos hot leves (só o temperinho, nada explícito).
Sobre a construção do universo: Péssima. Digo isso por exemplo porque a autora frisa bastante importância sobre o apocalipse desta distopia ter sido um colapso ambiental mas 1) em nenhum momento a instabilidade ambiental em que eles vivem os atinge de verdade; 2) a autora não se posiciona a respeito disso, um tema sério e atual; 3) não são dadas muitas informações sobre esse acontecimento apocalíptico além de memórias genéricas da Juliette, e, nesse caso, achei que era necessário esse desenvolvimento que não ocorreu, pois a personagem principal conhece esses fatos e a princípio era para os mesmos terem consequências mais graves; 4) Esse pode vir a ser um spoiler até o fim do parágrafo, mas achei sem noção a autora primeiro dizer que por conta de um colapso ambiental a narradora tem lembrança factuais de pessoas e animais morrendo, passando fome e sendo realocada em abrigos, mas no final do livro terminar com um personagem dizendo "a situação do clima não estarão ruim assim, eles mentem para gente". Ok. Tudo bem ser uma farsa. Mas dai faz o que com as lembranças reais da Juliette? Justifica o fato grave que levou ao surgimento de um governo totalitário como?
Sobre os personagens: A Juliette é o modelo exemplar de personagem principal genérica de livro adolescente com todos os clichês possíveis: vazia, insegura, teimosa e impulsiva para acelerar o desenvolvimento do plot e romantizar a suposta não submissão dela, not like other girls que se recusam a usar vestido, nenhuma personalidade além disso e de alguns traços de trauma emocional que levam ela a narrar de forma brega e ter momentos de paranoia leve. Inclusive, a saúde mental da Juliette é um dos esgotos que a autora criou. Não passa de mais uma história onde a personagem está demonstrando algum sintoma de ferida emocional (que é coerente para personagem, mas que acaba atrapalhando o enredo) sendo magicamente resolvida com outro personagem falando coisas do tipo "não fique assim, não há mais motivos pra isso" e dai como se fosse mesmo uma questão de escolha, a personagem decide "ficar bem" e segue a vida, agindo como se nada tivesse acontecido. Os outros personagens também são meio vazios e genéricos, com desenvolvimentos péssimos (talvez nenhum) e sempre de maneira óbvia e atirada. O James é um personagem que existe só para que a presença dele impeça a Juliette e o Adam de transarem num livro que possivelmente a editora queria vender para faixa etária mais baixa e o Kenji é atirado como solução dos problemas, pois a presença dele se desenrolou muito rápido. Pelo menos os adolescentes se comportam como adolescentes nesse livro, não estão infantis nem maduros de mais, acho que sou eu quem estava sem paciência pra aguentar mimimi teen. Também tem uma questão que pesou para mim que foi que durante a leitura eu senti como se a única personagem mulher nesses livros fosse a protagonista.
Sobre o romance: É o ponto principal do livro, a principio, mas é bem forçado e um tanto problemático. Eu sei que a posição da Juliette é de carência por ela ter passado tanto tempo trancada longe da sociedade, mas se apaixonar pelo menino basicamente porque ela acha ele bonito e porque ele não fazia bullying com ela no colégio foi muito vago e chato de ler, até porque a autora não pôs tanto destaque assim nessa questão da carência dela, acho que poderia ser melhor trabalhado e vir em primeiro plano. O outro interesse amoroso é um personagem melhor construído no sentido de que pelo menos ele tem uma personalidade, já que o Adam é muito sem sal e tão vazio quanto a Juliette, mas infelizmente o Warner (que expôs um bebê à dor e pôs a vida da criança em risco, vale lembrar) caiu no plot básico de cara obcecado pela menina desde antes de conhece ela oficialmente, aparentemente sem motivo nenhum pra essa paixão, e que na verdade tem interesse mesmo é em se aproveitar da sua carência e usar o poder dela, sendo controlador e possessivo (com romantização da autora pra isso). Alina e Darkling de camelô, sem o mesmo nível de química ou de sutileza no desenvolvimento da dinâmica dos personagens. Algumas cenas entre os dois, no meu entendimento, não tem outro nome possível além de abuso. Eu realmente não sei como as adolescentes de hoje conseguem passar tanto pano para esse homem, mas fico seriamente preocupada. Falo "de hoje" 2021 porque quando esse livro foi lançado EU era adolescente e não li porque lembro que muitas outras adolescentes da época falavam mal do romance horrores, sobre como era péssimo e problemático - estavam certas. E não, eu não quero saber se o Warner melhora nos próximos livros, pois ele teria que melhorar TANTO que seria até aleatório no desenvolvimento do personagem. Além disso, assim como a Juliette só pensa nos dois meninos, ambos tem uma obsessão nada saudável por ela e constantemente passam dos limites do bom senso. Parece que ninguém faz mais nada da vida. Não me incomodaria o romance ser o ponto central da série, antes de política, por exemplo, mas eu preciso ver os personagens fazendo qualquer outra coisa e terem hobbies/interesses/obrigações além de ficarem em cima um do outro ou pensando constantemente um no outro para conseguir acreditar neles. Outro ponto sobre o romance é que foi extremamente conveniente (baratíssimo) que as duas únicas pessoas que pudessem tocar na Juliette sem serem afetadas pelos poderes dela fossem os interesses amorosos dela.
O último comentário que tenho para fazer é que o audiobook narrado pela Kate Simses é bem interessante porque eles adicionaram o som de algo sendo riscado, tipo o som de fricção do fósforo na caixinha, ao invés de avisar sobre todos os pensamentos que a Juliette riscou. Achei mais poético que as analogias bizarras da personagem descrevendo os acontecimentos. A narradora também fez essa voz de adolescente insuportável que combina com a Juliette. Insuportável mesmo, tinha que tirar pausas pra não ter dor de cabeça.
Sinceramente não sei se terei forças para continuar. Esses livros me lembraram não só que eu já sou adulta, mas me fizeram ser a adulta com rancinho de adolescente que se comporta como adolescente emocionado.