Matheus Lins 05/12/2009
http://omegageek.com.br/oneuromancista/2009/12/05/batman-o-longo-dia-das-bruxas/
O Longo Dia das Bruxas , maxissérie escrita por Jeph Loeb e desenhada por Tim Sale, dois pesos-pesados da indústria dos quadrinhos, é uma das histórias mais importagens no universo do Homem-Morcego, responsável por definir o canon da transição de Harvey Dent no vilão Duas-Caras, além de certos elementos de sua premissa terem inspirado os irmãos Nolan em O Cavaleiro das Trevas – a ponto dos dois escreverem um prefácio para um encadernado de luxo da história.
A ambientação é o que chama logo a atenção e é, sem dúvida, o grande destaque da obra: Sale veste Gotham com uma roupagem noir, fazendo bom uso de sombras e de uma paleta de cores rica em contrastes, enquanto Loeb pinta um competente retrato da máfia local, claramente inspirado no trabalho de cineastas como Coppola e Scorcese, que encontra-se acuada pela onda crescente de super-vilões a assolarem a cidade desde o surgimento do Cavaleiro das Trevas – um dos temas emprestados pelos Nolan para seus filmes.
Infelizmente, contudo, Loeb não abre mão do recurso do “whoddunit?“, elemento onipresente em sua carreira. Aqui, o mistério gira em torno de um assassino conhecido como Feriado, que, como o próprio nome já denúncia, ataca apenas em feriados, sempre mirando em membros da família de mafiosos que controlam submundo de Gotham. A questão é bem conduzida até o final, quando Loeb, na necessidade de chocar o leitor, vacila feio na revelação da identidade(s) do personagem, cuja alegada ambiguidade é uma mera desculpa para justificar os muitos furos que se evidenciam numa análise mais atenta.
Na edição definitiva publicado por aqui pela Panini – cujo tratamento arrojado a editora só viria a reproduzir com Watchmen – há, entre os extras, o esboço do roteiro original escrito por Loeb que passou por acentuadas mudanças, a principal deles pertinente ao tal do Feriado: originalmente, ele seria o assassino conhecido como Calendário, um obscuro nome da galeria de vilões do Batman. Na versão final do roteiro ele foi rebaixado a um coadjuvante a quem o morcegão busca assistência para lidar com o Feriado.
No frigir dos ovos, trata-se de uma história com méritos óbvios e inegáveis – tal como ser a pioneira em retratar Dent como um promotor cada vez mais amargurado com um sistema corrupto e ineficiente – mas que se mostra frustrantemente insatisfatória no fim. Sua relevância história é inegável, mas eu não a poria de jeito algum no roll das melhores histórias protagonizados pelo Cavaleiro de Gotham. E tampouco pagaria os R$95 cobrados por ela.