Geder 15/05/2017
A magia da deusa na história da Bretanha
Em "As Brumas de Avalon", Marion Zimmer Bradley reconta a lenda do Rei Artur, descrevendo os seus esforços para unificar a Bratanha contra a invasão saxônica, a partir da perspectiva das poderosas mulheres do reino de Avalon e Camelot. Mesmo aqueles que normalmente não gostam das lendas de Artur irão se encantar com as mulheres por trás do trono. Morgana e Guinevere lutam pelo poder, usando Artur para promover suas respectivas visões de mundo. As intrigas e a política do reino de Camelot descritas em "As Brumas de Avalon" se passam quando o cristianismo começa a dominar a ilha-nação da Bretanha estabelecendo o conflito com os cultos pagãos.
A história se passa durante um período de aproximadamente 70 anos ou mais e é narrada principalmente por Morgana. Narra a formação do que conhecemos hoje pela Inglaterra, Grã-Bretanha ou Reino Unido, e como os diversos reinos que formavam este país foram obrigados a unir-se para combater os saxões que intentavam invadir e saquear suas terras e mostra também o conflito entre o cristianismo, que começava a ganhar força e os cultos pagãos que ainda tinham enorme influência nestas regiões.
A grande sede do cultos pagãos ficava na sagrada Ilha de Avalon (nome de provável origem celta - abal: maçã) e esta era comandada pela Senhora do Lago, ou Senhora de Avalon, Viviane, que era também a voz da deusa na terra.
No início, cristianismo e paganismo cultuavam lado a lado, respeitando-se mutuamente, pois o próprio Jesus passou algum tempo em Avalon para aprender sua sabedoria e após a sua morte, José de Arimatéia foi até lá e ficou, construiu um templo cristão e posteriormente enterrou diversos de seus seguidores na ilha sagrada. Porém com a institucionalização da Igreja Católica, esta passou a ter sede de adeptos e de poder distorcendo diversos aspectos da Doutrina de Cristo, e passou também a perseguir e marginalizar seus concorrentes, os ritos pagãos, associando aos seus deuses ao demônio e às piores desventuras vividas pelos cristãos.
A ilha, com o avanço da igreja, estava separando-se do mundo real e sumindo nas brumas devido ao esquecimento dos velhos ritos e crenças. No lugar onde antes era Avalon, já havia outra paisagem: a ilha de Glastonbury, ou ilha dos padres; e somente chegava a Avalon aqueles que conheciam o caminho e as sacerdotisas que tinham o poder de separar as brumas. Para que Avalon não se distanciasse ainda mais do mundo real, como aconteceu outrora com o país da Fadas, Viviane deveria garantir que a crença na deusa e os rituais em sua homenagem não mais fossem reprimidos pela igreja como estavam sendo até então.
Embora todos os reinos da Bretanha possuíssem seus próprios monarcas, eles submetiam-se voluntariamente ao comando superior do "Grande Rei", Ambrósio, que estava no final de sua vida e não havia gerado herdeiros. A decisão de quem deveria ser o próximo Grande Rei seria decidido em um conselho com todos os outros governantes e o próprio Ambrósio. Este último tinha o seu preferido, Uther Pendragon, seu Duque de Guerra. O atual comandante do reino era cristão e vinha permitindo e incentivando o avanço do cristianismo. Viviane deveria então, colocar no trono um rei não necessariamente pagão, mas menos condescendente à Igreja e que não deixasse reprimir os cultos à deusa. Ela tem uma visão do futuro e lá vê Artur, que deveria ser o herdeiro do próximo Grande Rei. Deveria correr em suas veias o sangue real de Avalon, obrigatoriamente gerado no ventre de uma filha da ilha sagrada, no ventre de sua irmã, Igraine, mãe de Morgana e casada com outro rei cristão, Gorlois, Duque da Cornualha (Cornwall), o qual não representa empecilho algum, podendo ser facilmente colocado de lado em benefício do futuro da grande Bretanha.
O texto narra, ao logo dos quatro volumes, os jogos de poder e planos maquinados para concretizar a visão de Viviane, a Senhora do Lago, e garantir um futuro de paz e liberdade para o povo; e os demasiados problemas de origem cristã, que insistem em atrapalhar essa utopia.
Embora seja um romance épico, que significa que existem diversos fatos históricos emaranhado com muita ficção e uma linguagem um tanto rebuscada; a leitura é incrivelmente fluente e atrativa, o que propicia ao leitor aquele euforia de ler mais e mais.
A título de curiosidade, em comparação com as demais lendas do rei Artur, nota-se que existem várias diferenças, das quais podemos citar como por exemplo a origem da Excalibur, o fato de que as expressões "Senhora do Lago" e "Merlim" são utilizados como títulos da matriarca e patriarca do povo pagão, respectivamente.