hiyosilver 20/04/2023
Esse livro me pegou de surpresa, e eu não poderia estar mais grata por isso. Com uma escrita arrebatadora e a capacidade de ressignificar a banalidade da existência humana em uma experiência transcendente, Maya Angelou se desnuda para o leitor em todas as suas facetas: uma criança solitária e traumatizada, uma irmã dedicada, uma mulher negra em busca de seu lugar no mundo.
Nunca vamos entender completamente como é ser outro alguém, mas esse livro nos leva próximo o bastante para sentirmos com a autora toda a confusão, a indignação, a raiva, a doída resignação e o crescente orgulho de existir enquanto mulher preta em um mundo que, quando a enxergava, era apenas para se impôr, subjulgar e ferir. O florescer de uma menina violentada (física e mentalmente), de quem não se esperava nada de excepcional ou grandioso, em uma mulher que marcou e marcará gerações nos leva a questionar quantas pessoas, igualmente excepcionais e grandiosas, não sobreviveram às injustiças lhes impostas antes mesmo do nascimento. Pois foi isso que Marguerite fez, ela sobreviveu. Em suas próprias palavras, "O fato de que a mulher Negra americana adulta surge como um personagem formidável costuma ser visto com surpresa, aversão e até beligerância. Raramente é aceito como resultado inevitável da luta vencida por sobreviventes que merece respeito, se não aceitação entusiasmada".
Na busca pelo seu valor em uma sociedade que a rejeitava de todas as formas possíveis, Maya é uma história física: uma história de violências, sim, mas, acima de tudo, uma história de superação (por mais clichê que isso seja), uma história que nos mostra que, não importa tempo ou lugar, somos todos dolorosa e maravilhosamente humanos.