spoiler visualizarVitória 27/02/2022
Só dor e sofrimento
Tá sendo difícil demais pra mim falar desse livro. Essa leitura me abalou muito. Pensei que o primeiro livro dessa trilogia já tinha sido pesadíssimo, mas esse se revelou ainda pior que o anterior nesse quesito. São tantos sentimentos dentro de mim em relação a ele que eu não sei como organizá-los.
A estrutura desse livro é um pouco diferente da do primeiro. Senti que, enquanto em queda de gigantes, a gente tinha uma história muito focada nos personagens, aqui a gente tem ela mais centrada na narrativa. O mais incrível é que o Ken Follett consegue desapegar um pouco dos personagens sem, de fato, deixá-los de lado. Todos são muito bem desenvolvidos e, mesmo que alguns passem centenas de páginas sem aparecer, quando voltam, é como se não tivessem passado tempo algum longe da gente.
Também ao contrário do primeiro livro, aqui nós temos alguns personagens completamente odiosos. Tinha dito que senti falta um pouco disso no outro volume, já que o vilão totalmente mau é um clássico do autor, mas aqui ele traz essa figura de volta. Cheguei a pensar que o Macke foi um pouco inspirado no Javert, de Os Miseráveis. Tudo bem que pode ser só coisa da minha cabeça, já que o Javert foi um personagem tão marcante que eu provavelmente nunca mais vou conseguir ver um policial odioso sem lembrar dele, mas fiquei com essa impressão.
Fiquei impressionada com o quanto eu gostei dos capítulos do Woody. Tudo bem que eu já gostava do Gus e da Rosa no primeiro livro, mas eles estavam bem baixo na minha lista de personagens favoritos. Eu me apeguei com o Woody logo de cara, e amei a história dele tanto com a Joanne, quanto tudo o que aconteceu depois. Me afeiçoei demais a ele, e ver que ele teve um final feliz me deixou tranquila, o coitado sofreu demais. Aliás, todo mundo aqui sofre demais.
A Carla foi outra que me conquistou, mas por essa eu já esperava. Não tinha como eu não me apegar à filha do Walter e da Maud, que eram os meus queridinhos em queda de gigantes. A história dessa personagem também foi a que mais me fez sofrer. Primeiramente, a morte do Walter me abalou muito, eu já tava esperando por um baque desses, mas o fato de eu estar esperando não diminuiu a minha dor. De toda forma, foi uma morte digna do personagem, ele morreu lutando por aquilo que ele acreditava, e isso é muito a cara do Walter, ir até as últimas consequências pelos seus ideais. Nesse e em vários outros momentos aqui eu fiquei desejando um capítulo pelo ponto de vista da Maud, que infelizmente não chegou. Eu entendo que ela já não é mais o foco nesse volume, mas acho que o meu apego por ela era muito forte. Mesmo assim, o Ken consegue, de certa forma, passar os sentimentos dela pra gente, de uma forma bem sutil.
A cena de estupro com a Carla também me abalou demais. E exatamente por isso eu tenho que aplaudir o autor. Já tinha lido uma cena praticamente igual em Toda Luz Que Não Podemos Ver, um livro do qual não gostei nem um pouco. Lembro que, na ocasião, eu achei a cena extremamente exagerada, como já estava achando todo livro, eu sentia que o autor estava colocando tudo aquilo no livro apenas pra chocar os leitores. Aqui isso não aconteceu. O autor conseguiu passar muito bem os sentimentos da Carla naquele momento, e eu acho que ainda não consigo falar muito bem sobre essa cena exatamente por isso, porque me pareceu muito real.
No comentário do livro anterior eu tinha reclamado do fim do Grigori, que tinha ficado um tanto quanto aberto. Aqui isso também foi resolvido, e o melhor de tudo é que não teve um capítulo em que o autor simplesmente disse "ok, agora vamos sanar as dúvidas sobre o que aconteceu com o Grigori". Não, tudo foi sendo elucidado aos poucos, de uma forma muito natural. Tanto que, quando dei por mim, eu nem precisava de mais informações sobre ele.
Por fim, tenho que dizer que amo o Werner, e chorei rios na cena em que ele reencontra a Carla depois da guerra. De todos os personagens, tirando o Macke, que não vou contar aqui porque foi criado pra ser odiado, o que menos gostei deve ter sido a Daisy. Eu entendi a redenção dela, e realmente comprei tudo o que o autor apresentou ali, mas, mesmo assim, ela não me ganhou. O importante é que, mesmo não gostando tanto da personagem, o autor conseguiu me manter prendida à história nos capítulos dela.
Aqui o livro termina com um final um pouco mais aberto que o do anterior, não no sentido das tramas dos personagens, mas sim no da trama política. Como o terceiro volume é sobre a guerra fria, acho que isso se deve ao fato de que vamos ter um intervalo menor de tempo entre esse volume e o próximo. De qualquer forma, não vejo a hora de ler. Só não consigo escolher ainda o meu volume favorito dessa trilogia.