Pri | @biblio.faga 28/12/2020
Eu sou uma pessoa tímida e introvertida, com uma tendência a me isolar. Hábito que é reforçado com a proximidade do final do ano - época de esperança e alegria, mas que também tem um certo tom de tristeza.
Acredito que isso tenha contribuído incisivamente para a minha relação com o livro “A Elegância do Ouriço”, pois me identifiquei bastante com a vida secreta e “clandestina” das protagonistas Renée e Paloma, verdadeiras outsiders do edifício número 7 da Rue de Grenelle.
Eu gostei da forma como o sentimento de inadequação é compartilhado por personagens tão díspares, mas, ao mesmo tempo, tão semelhantes. É reconfortante perceber como vivências tão variadas [uma concierge de meia idade e uma pré-adolescente] podem gerar frutos tão similares. Afinal, toda solidão é única, porém também é compartilhável.
Embora a suposta “prepotência” ou “arrogância” das personagens tenha incomodado alguns leitores, a meu ver, essas características servem para humanizá-las e, assim, torná-las críveis. Como é sabido, cada um de nós se cerca das barreiras que nos parecem mais resistentes ou adequadas, podendo a “superioridade” intelectual ter tal função.
Outro aspecto que me agradou muito foi a abordagem filosófica e irônica do livro. Apaixonadas pelas artes em geral, temos diversas menções a livros, filmes, além de profundas reflexões sobre a vida, tais como o seu sentido e sua efemeridade.
Crítico, o livro chama atenção para a conduta subversiva de Renée, destacando como são construídos os ingratos estereótipos, bem como ainda vivemos em sociedade excludente com pouca [ou quase nenhuma] mobilidade social.
A propósito, não é sem porquê que o livro ocupa o 986º lugar na popular lista do 1001 livros para ler antes de morrer.
Obs.: Quem é que não ficou com mais vontade de ler Anna Karênina ou mais livros do Tolstói?
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