Luís 07/04/2023
No começo, eu não estava levando muita fé na leitura. Soava tudo como uma fantasia de adolescente, meio sem destino, "olha que incrível essas duas mulheres atraentes na minha vida". Mas o final me pegou bastante; a segunda metade do livro é fenomenal.
É uma história de "coming of age", e o livro deixa isso bem claro, fazendo até referências a outras obras literárias de "coming of age" tipo O Apanhador no Campo de Centeio e A Montanha Mágica. O personagem principal do começo é totalmente diferente do final. Ele se torna muito mais maduro, menos egoísta, de coração mais aberto; como diz a Lana del Rey, ele precisou deixar o coração quebrar um pouco, pois é entre as rachaduras que a luz entra. A própria maneira que o sexo se apresenta muda, e esse livro tem bastante sexo; no começo é meio predatório, por diversão, e no final é a consumação das intimidades.
Dito isso, tem algumas questões na escrita do Murakami que já haviam me incomodado em 1Q84. Primeiro, a maneira com que ele narra mulheres é bem inverossímil. É mais gritante no outro livro, mas nesse também, a gente está ciente o tempo todo que o livro foi escrito por um homem. Não necessariamente um defeito nesse caso específico, mas é bem nítido.
Também acho curiosa essa afinidade que Murakami, um japonês, tem com os produtos culturais do ocidente. Todos os livros e músicas citados são ocidentais; no único momento em que o livro cita outros autores japoneses, é meio como se fizesse pouco caso deles. Enfim, observações.