Mayombe

Mayombe Pepetela




Resenhas - Mayombe


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Biblioteca Álvaro Guerra 29/06/2018

Os bravos guerrilheiros confrontam-se não somente com as tropas portuguesas, mas também com as diferenças culturais e sociais que buscam superar em direção a uma Angola unificada e livre.

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site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788580446876
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Phelipe Guilherme Maciel 05/06/2018

Este livro conta a história de Ogum. O Prometeu Africano. Será?
"O Mayombe começa com um comunicado de guerra. Eu escrevi o comunicado e...o comunicado pareceu-me muito frio, coisa para jornalista, e eu continuei o comunicado de guerra para mim, assim nasceu o livro." - Pepetela.

Mayombe é o primeiro romance de Pepetela, nome de guerra de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos. Pepetela foi guerrilheiro do MPLA (Movimento Pela Libertação de Angola). É curioso o fato deste livro se chamar MAYOMBE.... Poderia ter um nome muito mais revolucionário, idealista, que traduzisse o esforço de guerra, a bravura dos guerrilheiros, ou o mote da revolução. Porque este livro se chama Mayombe, e não: Morte aos Tugas!?
Acredito que o principal motivo seja que a Mayombe, a grande floresta onde boa parte da trama acontece, é o personagem principal do livro, e a força de onde tudo nasce. E também é importante citar que este é um livro sobre guerrilha que não fala de guerrilha.

Neste livro veremos principalmente a relação dos personagens com a floresta e seus dilemas pessoais, tribais, e a luta dos intelectuais para se encaixar aos ideais revolucionários comunistas. Ações de guerra são raras, Os portugueses e angolanos se enfrentam em duas batalhas durante todo o livro, e os Angolanos fazem algumas poucas ações de guerrilha para desmoralizar o inimigo em outros episódios. Eles estão muito mais em guerra com seus interiores do que com o inimigo.

O foco desse livro é desnudar os personagens. E o mais cômico é que os personagens são desnudados até a alma, e não sabemos o nome real da maioria deles. Todos são apresentados com seus nomes de guerra. Sem Medo, Muatiânvua, Comissário, Das Operações, Teoria, etc. Raros são os personagens que saem do nome de guerrilha e sabemos seus nomes reais. Mas através de um narrador onisciente e de pontos de vista em Primeira pessoa onde o escritor dá voz aos principais personagens, saberemos o mais profundo da alma de cada um deles. Por isso acredito que a guerra pela libertação de Angola contra Portugal é apenas um cenário, e como disse o próprio Pepetela, o livro surgiu de uma obrigação sua de passar um telegrama de guerra. É apenas o rastilho de pólvora que deu origem a tudo. Pepetela atuou na guerra como Comissário, era um dos Intelectuais.

É maravilhosa a consciência política do autor, escancarada nos debates políticos protagonizados principalmente entre Sem Medo, o líder do grupo guerrilheiro e O Comissário de Guerra, que é o intelectual responsável pela educação política do grupo. Outros grandes embates de opiniões são protagonizadas com personagens secundários da mesma forma.
No decorrer das páginas 110 a 155, percebemos claramente que o autor não estava afogado na cartilha Marxista e conseguiu desenhar muito bem o destino fatídico de todo movimento popular que chega ao poder, e as demagogias e paradoxos no discurso mobilizador.
O livro passa a ideia clara de que o MPLA considerava que o MOVIMENTO suplantaria a CRISE TRIBAL complexa de Angola, que já estava desenhada na época da luta armada contra Portugal e que culminaria na sangrenta Guerra Civil Angolana, logo após sua independência.
Os vários pontos de vista dos guerrilheiros que já citei aqui que desnudam suas almas, também esclarecem que a questão tribal não poderia ser resolvida apenas com discursos sobre União Nacional.
O maior inimigo do povo angolano, portanto, não eram os Tugas, mas sim, o próprio povo, fragilizado por séculos de colonização e catequização depreciativa de sua própria história. Eram vítimas e algozes ao mesmo tempo.
Um ponto marcante a se observar é a deposição de André do posto de Líder geral da região, após a descoberta de seus crimes de desvio de verbas, e sexo com mulheres casadas. Em seus pensamentos, ele confidencia ao leitor que basta fazer uma autocrítica, e tudo se resolveria. Não iriam puni-lo como ele deveria ser punido. Além da firme convicção de seu próprio poder, ao ridicularizar o líder comunista Lênin, ele ridicularizava o próprio MPLA.
Esse flagrante caso de corrupção antes mesmo de o movimento se instalar no poder evidencia que o escritor, Pepetela, já percebia desde cedo que o movimento estava fadado ao fracasso de tentar levar a cabo um projeto utópico. Inclusive, já integrante do governo angolano pós Guerra Civil, Pepetela escreveu outros livros que criticam a fome de poder dos novos comandantes da nação, além de fazer uma autocritica a si próprio e aos intelectuais do povo. Pepetela também acaba por se afastar do poder e se dedicar somente a escrita e a profissão de Professor.
Mayombe é o grande personagem principal pois todos se utilizam dela para tudo. Ela é a maior aliada dos guerrilheiros, mas somente após eles próprios aprenderem a tê-la como aliada. Ela, que fornece abrigo e alimentação, também os maltratava e machucava quando estes eram estranhos. Eles a tratam como divindade: O Deus Mayombe. O Deus das matas para os Iorubás (Nigerianos) é Oxóssi. Para os guerrilheiros Angolanos, era Mayombe.
O narrador nos informa que contará a história de Ogum, outro Deus Iorubá, que é o Deus da Guerra, como se esse fosse o Prometeu Africano. Ogum é claramente sintetizado em Sem Medo, o grande guerrilheiro, mas cabe aqui lembrar que Ogum é um Deus Iorubá, ou seja, Nigeriano. Ogum é Ioruba e foi para o Brasil na rota dos escravos, em Angola não é conhecido. Isso é apenas um modo do escritor criar um legado cultural para a África.

Uma divagação afro-religiosa:
Questiono no título dessa resenha se Ogum seria realmente o prometeu Africano... Talvez não. Ogum pode ser Sem Medo. Mas o Prometeu Africano ao meu ver seria Exu. Este é o Orixá perfeito para desobedecer as ordens de outros deuses, seja em proveito próprio ou proveito da humanidade.
Mayombe seria Oxóssi. Sem Medo seria Ogum. Exu seria o Prometeu Africano.

Mayombe é um livro que deve ser lido. É a primeira obra angolana que dessacraliza os heróis. É também um livro contra o dogmatismo político. 9/10 estrelas.

"Angolano segue em frente o teu caminho é só um...
Se você é branco isto não interessa ninguém...
Se você é mulato isto não interessa a ninguém...
Se você é negro isto não interessa ninguém...
Mas o que interessa é a tua vontade de fazer Angola melhor...
Uma Angola verdadeiramente livre e democrática".
(Teta Lando - Musico Popular Angolano)
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Vicente Moragas 25/05/2018

Os caminhos da independência.
As guerrilhas que culminaram na independência da República da Angola sao refratadas em Mayombe ao mostrar apenas uma base de guerrilha. Quando o livro começa o Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA) já tinha certo avanço, e a história conta uma fatia do processo revolucionário.
Por ter sido escrito por um ex-guerrilheiro que participou da revolta, os anseios, os medos, as conquistas, as alegrias, as paixões, e as táticas de guerra são descritas com vigor e mostram a realidade das diferentes bases que lutaram pela libertação ao exemplificar a base de Mayombe.
Aliás, Mayombe é maior, é vivo, é personagem, em seu dinamismo de floresta fornece subsídios e dificuldades ao movimento, assim como acolhe as etapas da libertação do povo angolano. Mayombe serve mais do que base, é alimento, é esconderijo e labirinto, e só pode ser realmente desvendado por quem é cria da casa.
O tribalismo angolano originário das diversas etnias e línguas que compuseram a nação, se faz presente no livro como um obstáculo já ultrapassado por muitos em relação a um inimigo maior, os portugueses, vulgarmente chamados por tugas. E mostra como o processo de criar uma Angola única encontra entraves até hoje.
Destaque ao português angolano. Tão próprio, tão livre do português de Portugal e do Brasil. Tão vivo e charmoso. A língua acaba por virar, pra nós lusófonos, uma lição da riqueza do idioma que praticamos.
Um livro pra se ampliar o conhecimento do mundo e de si. Uma obra-prima.
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Silvia.Leticia 06/04/2018

Intenso, incrível
Que livro incrível!! Os narradores vão se alternando no decorrer da narrativa e assim conseguimos perceber que os guerreiros são apenas humanos, com suas fraquezas e grandezas.

O Comandante Sem Medo é o intelectual, o que possui diversos pensamentos que nos fazem refletir sobre a nossa vida, mesmo que suas reflexões tenham sido feitas em um período conturbado de guerra.

Que livro sensacional! Tenho me surpreendido cada vez mais com a literatura africana. Recomendo mil vezes!
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André 01/02/2018

8º Livro, Fuvest 2017
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Wenn - Ddlynghtshd 13/09/2017

Eu, o narrador, sou Dark
No meio do mayombe, em mata fechada, numa base de revolucionários, encontramos os heróis dessa história. Cada um com seu nomr de guerra, dado por sua propria história de vida ou por alguma habilidade.

Acompanhamos a vida revolucionária no mayombe. As estratégias de ataque, de defesa, e de guerra. Mas também, e que é a parte mais importante, o questionamento de moralidades, de politica, de sistemas economicos, e de liberdade.

Os guerrilheiros com suas brigas internas por tribalismo, mas a união de um propósito. É extremamente humano.

Nos animamos junto com as vitórias, passamos apertos com as dificuldades, nos indgnamos com o descaso e com a má gestão de superiores, aprendemos com as lições de vida de camaradas, veteranos ou miúdos.

Nos apegamos de tal maneira com os personagens que quando eles pouco aparecem ou quando os perdemos, sentimos a falta dele.

Torcemos para que a luta deles tenha enfim sucesso. Para que a vida no mayombe melhore. Pra que a guerra tenha fim e que não volte a acontecer.

Por ser uma guerra idealista, como o próprio narrador principal Sem Medo nos conta, é uma guerra desumana. Lutam contra um ideal, porém matam-se pessoas, que outrora poderiam se juntar as suas causas.

Há momentos que a filosofia ou pensamentos (ou ate mesmo ideologias) de Sem Medo cansa. Se repetem ou se explicam demais. Ler a mesma história de vida duas vezes é um pouco maçante, apesar de ser incrível.

Mas tudo é compensado com a ação. E talvez tenha sido essa mesmo a intenção. Como no próprio livro se repete varias vezes: A teoria só pode ser justificada e apoiada quando vista na prática.
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Tati 15/08/2017

Contexto Histórico.

Para se entender o enredo, é interessante que antes da leitura se faça um estudo da participação do autor no MPLA, e do contexto histórico em que a libertação de Angola se deu, visto que a obra é muito fiel a esses detalhes. Um dos pontos verídicos mostrados no livro, são os nomes de guerra que cada participante do Movimento obtém. O nome real do escritor, é Carlos Maurício Pestana dos Santos, mas quando serviu na guerrilha angolana, ganhou a alegoria de Pepetela, que curiosamente significa pestana -- assim como vemos na obra, com personagens nomeados como Teoria, Sem Medo, Verdade, Lutamos, Mundo Novo e Ingratidão.

Quanto ao serviço por ele prestado no MPLA, considerado um grupo anticolonial, socialista-comunista, sabe-se que no ano de 1971, Portugal era governado pela ditadura de Salazar, afetando suas colônias -- como Angola, que com o apoio do Movimento Popular de Libertação de Angola obtém sua independência em 1974, explodindo a seguir em uma guerra civil. As revindicações por uma nação mais justa e igualitária no pós-Segunda Guerra Mundial, têm seus ideais disseminados por intelectuais e artistas, como é o caso de Mayombe.

Atualmente, o MPLA tornou-se um partido que comanda a Angola.


A Obra.

O enredo é dividido em seis capítulos -- A Missão; A Base; Ondina; A Surucucu; a Amoreira e o Epílogo. Além de contar detalhadamente o cotidiano dos guerrilheiros contra as tropas portuguesas, e de possuir uma boa análise psicológica de seus personagens, em que conhecemos os motivos que levam cada um a lutar por tais ideais de libertação -- e em alguns casos, acompanhar até mesmo a falta dos ideias apesar da participação no Movimento -- é interessante notar a democratização da voz por meio do narrador personagem com foco múltiplo, o que faz jus a igualdade pregada pelos guerrilheiros até certo ponto, visto que Ondina, a única mulher citada no livro, não possui voz na narrativa, mostrando assim a desigualdade de gênero durante a luta.

A crítica as lutas de grupos que mesmo com ideais comuns, participam cada um a sua maneira sem se preocupar em obter um consenso, causando desproporções enormes e distorções aos olhos daqueles que ainda não os seguem se faz presente do início ao fim.

"— Vocês ganham vinte escudos por dia, para abaterem as árvores a machado, marcharem, marcharem, carregarem pesos. O motorista ganha cinquenta escudos por dia, por trabalhar com a serra. Mas quantas árvores abate por dia a vossa equipa? Umas trinta. E quanto ganha o patrão por cada árvore? Um dinheirão. O que é que o patrão faz para ganhar esse dinheiro? Nada, nada. Mas é ele que ganha. E o machado com que vocês trabalham nem sequer é dele. É vosso, que o compram na cantina por setenta escudos. E a catana é dele? Não, vocês compram-na por cinquenta escudos. Quer dizer, nem os instrumentos com que vocês trabalham pertencem ao patrão. Vocês são obrigados a comprá-los, são descontados do vosso salário no fim do mês. As árvores são do patrão? Não. São vossas, são nossas, porque estão na terra angolana. Os machados e as catanas são do patrão? Não, são vossos. O suor do trabalho é do patrão? Não, é vosso, pois são vocês que trabalham. Então, como é que ele ganha muitos contos por dia e a vocês dá vinte escudos? Com que direito? Isso é exploração colonialista. O que trabalha está a arranjar riqueza para o estrangeiro, que não trabalha. O patrão tem a força do lado dele, tem o exército, a polícia, a administração. É com essa força que ele vos obriga a trabalhar, para ele enriquecer.”

site: https://limaoquenada.blogspot.com.br/2017/08/mayombe-mli2017-beda-09.html
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Colégio Evolução 22/07/2017

A Guerra de Independência de Angola também conhecida como Luta Armada de Libertação Nacional foi um conflito armado entre as forças independentistas de Angola e as Forças Armadas de Portugal, que até dominavam a colônia angolana.
Pepetela, que foi militant na guerra, publicou vários romances durante o período de luta, destes romances Mayombe é o mais conhecido. O romance retrata a vida guerrilheira do autor nos anos 70, e explora os pensamentos e as dúvidas dos personagens, além de ilustrar as ações dos guerrilheiros.
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Guilherme.Marques 17/04/2017

Mayombe vive
Um livro que começa lento, com uma linguagem tipicamente "socialista", mas que logo toma forma através das lentes de seus interessantíssimos personagens, notadamente Sem Medo, Comissário e Ondina. Pepetela soube tratar aqui, como ninguém (ao menos que eu conheça), das dificuldades de uma verdadeira revolução socialista, não só por questões práticas, como falta de comida, armamentos, conflitos internos (o tribalismo dentro do próprio MPLA), etc, como mesmo ideais (o amor, a saudade). De fato, como eu disse antes, começa lento, ruim até, mas não desistam: é uma leitura que começa logo a fluir, e com ela a recompensa de algumas boas discussões entre suas personagens, que tão bem evoluem ao longo da obra. Uma obra prima da literatura angolana.
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Vi 02/12/2016

Mayombe
Um dos melhores livros que já li. Chorei muito além dos sustos, risadas e revoltas. Um livro ótimo e de leitura rápida para quem gosta de ler, pois você literalmente se envolve e desenvolve uma relação única e íntima com cada personagem
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Alaska 12/11/2016

Mayombe não é apenas um livro, mas uma obra de arte !
sse livro é muito espetacular , é literalmente uma obra de arte ! A obra abre uma janela em relação a visão que temos e o que realmente aconteceu durante o período de guerra da independência de Angola. Durante o período do desenvolvimento da escrita do livro, Pepetela está em guerra como guerrilheiro do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), e é nítido no decorrer da leitura de que o autor não diz a respeito da guerra em si, mas enfatiza o viver de cada personagem na guerra, destacando os medos, angústias, sonhos, de cada uma, além de relacionar períodos do passado de grande impacto na vida dos guerrilheiros e refletindo no presente momento de guerrilha. O que torna esta obra literária extremamente interessante, é o fato do narrador se passar por quase todas as personagens, mostrando em cada uma delas o caráter humano se manifestando de diversas formas, fazendo o leitor ter uma visão diferente do que realmente é lutar em uma guerra. De narrativa muitas vezes arrastada, Pepetela introduz uma interpretação complexa, porém completa de muitas personagens, denominando-as até mesmo não por seus nomes, mas por codinomes ? como querendo caracterizar cada uma pelo que realmente é em seu ?nome?-, por isso, quase todas as personagens não são denominadas por seus verdadeiros nomes. No livro, o autor expõe atos de conflitos internos entre o grupo de guerrilheiros (tribalismo), mas todos com um único objetivo, libertação de seu país. Apresenta também o racismo, em que a personagem Teoria dentro do movimento sofre por ser mestiço. A obra traz também com as personagens Ondina e Leli em questão o papel da liberdade feminina, em que reforça o papel das mulheres em seus direitos, ou seja, quebrando o machismo contra as mulheres.
Em relação a narrativa, pode-se dizer que a escrita é um tanto densa, trazendo assim um glossário nas últimas páginas do livro para facilitar no entendimento de algumas palavras, além de expressões de origem angolana utilizadas muito pelas personagens. É interessante ressaltar o porquê do título Mayombe, já que trata de uma história que se passa em um período de guerra, porém é definido pelo autor como uma obra de gênero romântico, o fato é que todo o contexto está ligado ao sentimento de viver esse período, em que o cenário onde se passa os maiores, fortes e mais dramáticos episódios é dentro da floresta Mayombe, pois a mesma abraça os guerrilheiros, servindo de refúgio, esconderijo, escudo e também campo de guerra, em que as personagens não só lutam contra a colonização portuguesa mas também contra o seus próprios conceitos auto aceitação em relação a certas atitudes, sentimentos e nacionalidade. Assim como Pepetela disse em uma entrevista: ?Os grandes heróis desta guerra são seres humanos, são heróis, mas também são frágeis?.
Mayombe é um livro muito rico culturalmente, além de trazer uma visão social abrangente, e principalmente o fato de mexer com o intelecto dos leitores ao interpretar os sentimentos e angústias humanas de forma tão sábia. Mais que um livro .. uma obra de arte !
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Rafael Iglesias 04/06/2016

Em busca da terra do talvez
O Mayombe é uma grande floresta tropical com grande concentração de montanhas que localizada em Cabinda, em Angola, mas também abrange o Congo e o Gabão. É esse local o cenário principal que dá nome a um dos livros de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, o Pepetela.

Vencedor do Prêmio Camões, o mais importante da literatura de língua portuguesa, o escritor retrata no livro especialmente os problemas internos do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do qual ele próprio participou, e que é o grupo que conduziu a revolução pela independência do país e o governa desde então.

"O Mayombe tinha aceitado os golpes dos machados, que nele abriram uma clareira. Clareira invisível do alto, dos aviões que esquadrinhavam a mata, tentando localizar nela a presença dos guerrilheiros. As casas tinham sido levantadas nessa clareira e as árvores, alegremente, formaram uma abóbada de ramos e folhas para as encobrir. Os paus serviram para as paredes. O capim do teto foi transportado de longe, de perto do [rio] Lombe. Um montículo foi lateralmente escavado e tornou-se forno para o pão. Os paus mortos das paredes criaram raízes e agarraram-se à terra e as cabanas e tornaram-se fortalezas. E os homens, vestidos de verde, tornaram-se verdes como as folhas e castanhos como os troncos colossais."

Continue lendo: https://reticenciajornalistica.wordpress.com/2016/06/04/a-terra-do-talvez/

site: https://reticenciajornalistica.wordpress.com/2016/06/04/a-terra-do-talvez/
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Nat 29/05/2016

Mayombe não é meu estilo de livro e talvez eu nem tivesse dado chance para ele se não fosse por querer conhecer um pouco mais os escritores africanos.
Como o Pepetela foi guerrilheiro, imaginei que esse seria um livro político, que contasse a história da libertação de Angola de Portugal, mas não foi isso.
O livro fala sim da MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) mas esse é só um pano de fundo, e não foi muito trabalhado. A história principal é são as tribos e as diferenças entre elas, preconceitos e discriminação, bem como relações humanas, como namoro e sexo.
Em primeiro lugar, o que é Mayombe? É uma floresta, uma região montanhosa, onde eles se escondem. Eles quem? o grupo de guerrilheiros que acompanhamos durante o livro. Quando uma pessoa nova entra no grupo, ganha um apelido, que vira seu novo nome, ex: Teoria, Sem Medo, Milagre. Então, não sabemos os nomes reais dos personagens.
Temos também muitos diálogos tentando explicar o socialismo, o facismo, enfim, as ideologias deles, mesmo muitos sendo de tribos diferentes e acabarem ali por se juntar num lugar comum.
O personagem principal é o Sem Medo, gostei muito dele, é o que mais fala (e pratica) o socialismo. E o final dele no livro é tocante!
Tem também poucas mulheres, mas dentre elas tem a Ondina: ela é bem forte e decidida, e tem todo um episódio que acontece por causa dela.
Outra característica é que o narrador muda. Vários personagens se colocam como narrador, se revezam nesse papel, o que dá uma visão mais ampla da história. Mas é preciso prestar atenção para não se perder com isso!
Acredito que Pepetela usa esse recurso para expressar mesmo o socialismo que o Sem Medo prega durante o livro, então muitos se revezam narrando!
O livro é bom, mas senti dificuldade para engrenar na narrativa. Por isso, pretendo dar uma nova ao autor.

site: https://www.youtube.com/c/PilhadeLeituradaNat
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Rosa Santana 19/06/2014

MAYOMBE - Pepetela, Dom Quixote, 290 páginas

Esse é o terceiro livro do autor que leio. O primeiro, O Cão e os Caluandas, me deixou encantada com a forma com que o autor montou a narrativa. Fui ao segundo - A Sul. O Sombreiro - que, por outros motivos, tb me encantou. E, agora, vamos a Moyombe! De conteúdo histórico e revolucionário, o romance conta a história da luta do MPLA, Movimento Popular de Libertação de Angola contra os dominadores, portugueses.
Apesar de seu conteúdo um tanto "político", o livro não se encaixa na chamada literatura engajada, aquela panfletária, porque traz valores universais para a discussão. Como por exemplo, as reflexões de Sem Medo, um dos personagens que assume o comando do grupo. Elas são de uma coerência e de uma lucidez que me encantaram. O personagem vive, realmente, o que prega acerca do socialismo, não medindo esforços para demonstrar isso. Gosto muito de personagens assim. São difíceis de ser construídos porque lógicos e, conseqüentemente, necessitam de muito estudo por parte de quem os constrói. O nome dele (ou apelido de guerrilheiro) já diz: o que não teme a opinião dos outros, as convenções sociais que estão cristalizadas no inconsciente coletivo! E essa ausência de temor se revela claramente no final da história, na íntegra.
Outra característica do autor de que gosto muito é a variação do foco narrativo. Aqui várias personagens se colocam como narrador, "revezando-se" nesse papel. E isso fornece ao leitor um leque mais amplo, dado serem as análises e ponderações provindas ora de um, ora de outro, e tendo cada um suas peculiaridades, uns mais práticos, outros mais sensitivos e idealistas. Parece-me, na prática, o socialismo que o autor prega: todos tem os mesmos direitos, inclusive o de se constituírem narradores de sua história e da de seus companheiros!
Os nomes que os guerrilheiros recebem quando são aprovados no MPLA tem carga semântica reveladora, já que, por si só, apresentam dados importantes à caracterização dos seus donos, ganhando, assim, bastante relevo. Como o Sem Medo, há o Teoria, o Novo Mundo, entre tantos outros a desfilar diante de nós, com seus conflitos internos, suas carga de humanidade e sua adesão a um movimento que lhes dará um poder muitas vezes questionado.
O romance faz, principalmente, a análise do tribalismo e da diversidade de mundos o do intelectual, o do homem do povo, o de seres humanos tão distintos, por valores tribais - que fazem uma revolução...

Trechos que destaco:

"Trago em mim o inconciliável e é este o meu motor. Num universo de sim ou não, branco ou negro, eu represento o talvez. Talvez é não para quem quer ouvir sim e significa sim para quem esperava ouvir um não. A culpa será minha se os homens exigem pureza e recusam as combinações? Sou eu que devo tornar-me em sim ou em não? Ou são os homens que devem aceitar o talvez? Face a este problema capital, as pessoas dividem-se aos meus olhos em dois grupos: os maniqueístas e os outros. É bom esclarecer que raros são os outros; o mundo é geralmente maniqueísta." - 07

"...A certeza de que estava perdido foi tão grande que decidi que o inferno não existia, não podia existir, senão eu estaria condenado. Ou negava, matava o que me perseguia, ou endoidecia de medo. Matei Deus, matei o Inferno e matei o medo do Inferno. Aí aprendi que se devem enfrentar os inimigos, é a única maneira de se encontrar a paz interior." - 37

"Ele tem uma Bíblia... Toda a verdade está escrita, gravada em pedra, nem dois mil anos de história poderão adulterá-la. Felizes os que creem no absoluto, é deles a tranquilidade de espírito! Não queres ser feliz, seguríssimo de ti mesmo? Arranja um catecismo..." - 141

"Tornar-se homem é criar uma casa à volta, cheia de picos que protejam, uma casca cada vez mais dura, impenetrável. Ela endurece com os golpes sofridos." - 153

"Queremos transformar o mundo e somos incapazes de nos transformar a nós próprios. Queremos ser livres, fazer a nossa vontade, e a todo momento arranjamos desculpas para reprimir nossos desejos. E o pior é que nos convencemos com as nossas próprias desculpas, deixamos de ser lúcidos. Só covardia. É medo de nos enfrentarmos, é um medo que nos ficou dos tempos do em que temíamos a Deus, ou o pai, ou o professor, é sempre o mesmo agente repressivo. Somos uns alienados. O escravo era totalmente alienado. Nós somos piores, porque nos alienamos a nós próprios. Há correntes que já se quebraram mas continuamos a transportá-las conosco, por medo de as deitarmos fora e depois nos sentirmos nus." - 208

"Acho que o que nos separa é a linguagem. Não temos a mesma linguagem. " - 235

"Raciocinamos em função da cultura judaico-cristã europeia,em que o homem tem de ser ciumento, porque é o bode do rebanho, e a mulher, sua propriedade." - 212

"Sempre quis ultrapassar o meu lado humano. Ser Deus ou um herói mítico." - 253

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