O voo da guará vermelha

O voo da guará vermelha Maria Valéria Rezende




Resenhas - O Voo da Guará Vermelha


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Caramuru 11/02/2009

Não posso dizer melhor
Não posso dizer melhor do que disse a Profa. Marisa Lajolo, num artigo que escreveu no Estadão, que eu achei na net, copiei e guardei e está aqui:



A bela metáfora de um país de extremos - (O Estado de S.Paulo - Caderno 2 - 08/01/06)

O Vôo da Guará Vermelha celebra a vida, sem pieguice

O Vôo da Guará Vermelha, de Maria Valéria Rezende, é um livro sóbrio e envolvente. Um hino à vida, à beleza e ao amor, completamente desprovido da pieguice em que geralmente se banham romances que fazem desas matérias inconsúteis (amor, beleza e vida) a carpintaria da história que contam. Um belo livro! O enredo é simples: um homem e uma mulher se encontram nos extremos da vida e se juntam. Extremos de pobreza, de solidão e de doença, fundidos, se transfiguram. Transfigurados, parecem dar sentido à vida e até à morte. Pois embora celebre a vida, o enredo é entremeado de mortes, de desencontros, de sofrimentos. Seu enredo é entremeado sobretudo de histórias, que se destacam graficamente da fala do narrador, elaborando os entremeios. Nos títulos dos capítulos, engenhosamente dispostos na frente/verso das páginas, mencionam-se cores que se acentuam com o desenrolar da trama e que com ela dialogam: Cinzento e Encarnado, Ocre e Rosa, Verde e Ouro. Pairando na história, sabores e cheiros que arrematam o forte substrato sensorial do texto, onde é recorrente a imagem de um sagüi e de uma guará, lembranças fundamentais na vida das personagens centrais. Ela é Irene, ele é Rosálio da Conceição. Ela é prostituta, ele é servente de pedreiro. As humildes profissões deles, no entanto, são quase irrelevantes. Vivem ambos uma vida cinzenta e áspera como as pedras com que Rosálio marca -no início de sua trajetória - o itinerário pela cidade inóspita, mergulhada num silêncio estéril e letal. A história se narra pela boca de um narrador sofisticado, que ora empresta a voz para suas personagens, ora fala delas em terceira pessoa. Sempre de olho no leitor, a voz que narra não poupa artimanhas para envolver esta instável figura - nós, leitores! - em sua solidariedade para com Irene e Rosálio. Filho de mãe solteira, Rosálio começa por ter de adotar um nome: era conhecido como Nem Ninguém, nome sugestivo da negatividade quase absoluta de sua existência; depois passa a ser Curumim e, finalmente, Rosálio da Conceição na documentação que lhe dá existência civil. Esta invenção de um nome para si mesmo é o primeiro gesto pelo qual Rosálio começa a construir-se como sujeito de sua própria história. Esta história cifra-se em sua incansável busca por alguém que o ensine a ler os livros que herdou do falecido Bugre, índio desgarrado que terminou de criá-lo, depois de ser por ele salvo de morrer de febre, fome e sede. Os caminhos do aprendizado são tortuosos e cheios de curvas: com o protagonista, o leitor perambula por madeireiras, garimpos, canteiros da construção civil. Finalmente Rosálio se encontra com Irene. Irene é uma prostituta barata: doente e envelhecida, mal consegue os clientes necessários para o dinheiro que precisa levar semanalmente para a velha que lhe cria o filho. Embaixo do colchão deformado, um caderno e um lápis aguardam a história que ela acredita que um dia vai escrever. No passado, Romualdo,um grande amor desaparecido. E no futuro muito próximo, a morte inevitável por doença terminal. Finalmente Irene se encontra com Rosálio. Aos poucos, linguagem, escrita, livros, papéis, lápis e histórias de boca e de leitura vão crescendo no enredo, construindo o ponto de encontro dos protagonistas. Daí para frente, multiplicam-se e ficam cada vez mais encorpadas as formas de linguagem de que se valem as personagens. Aliás, a linguagem e os diálogos que ela engendra representam, talvez, a idéia fundadora e a tese do livro, se é que se pode falar de tese a propósito de um livro sutil como O Vôo da Guará Vermelha. Rosálio aprende a ler com Irene e juntos, na cama velha e estreita, decifram as letras dos livros herdados de Bugre. No caderno de Irene, ela registra a lápis as histórias que Rosálio conta. Homem e mulher que se fazem um na linguagem e no texto. No corpo e na cama, na vida e na morte. E que por isso podem alçar vôo para o azul sem fim, bela metáfora-título do último capítulo do livro. O leitor, ao fechar o livro, talvez tenha olhos e ouvidos mais abertos para o mar de histórias que se desentranham da história. No caso deste livro, da história anônima deste País de Rosálios e de Irenes e que um Poetinha, um dia, chamou de Pátria minha, tão pobrinha...

Marisa Lajolo é professora titular do Instituto de Estudos da Linguagem (Unicamp) e autora, entre outros títulos, de A Formação da Leitura no Brasil

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Guilherme 14/09/2010minha estante
ALgo me chama a atenção nesse livro. Mas eu não sei dizer o que é.




Luisa 06/02/2009

Nunca tinha ouvido falar desse livro até olhar a lista de leituras para o meu vestibular. Não imaginava que fosse gostar tanto dele, mas amei! A história é cativante, a narração é daquelas que prendem e a divisão de capítulos é muito legal! O nome dos capítulos são sempre duas cores que aparecem no meio do texto, é bem divertido! Virou um dos meus livros favoritos, rendeu dois posts no meu blog e me apaixonei por certos trechos!

"Não diga tanta besteira, que o amor não é assim, o amor é como menino que não sabe fazer contas nem de perda nem de ganho, vive descautelado, não tem lei, não tem juízo, não se explica nem se entende, é charada e susto, mistério."
(Esse trecho foi até usado numa redação que eu escrevi sobre o Amor, e uma das minhas aulas do curso onde eu estudava...)
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