Giulendo 21/12/2023
Terra Sonâmbula
Terra Sonâmbula não é um livro fácil de ler, e isso não se dá apenas por conta do português moçambicano. Mia Couto narra como nos sonhos, em que cada elemento da história tem vida e cor, imitando a realidade de forma sentimental e mutável. É um livro que se deve ler com calma, prestando atenção às dicas da paisagem para a história. É possível demorar-se horas pensando no significado de cada palavra para a narrativa, porque é claro que cada uma delas foi colocada com intenção.
A história de Tuahir e Muidinga, um velho e um jovem que caminham juntos em uma terra sem vida assolada pela guerra, é extremamente triste. Não só por conta da situação em si, mas porque Mia Couto descreve a miséria em todos os arredores, dando a sensação de impotência ao leitor. Paralelamente, a dupla lê os cadernos do falecido Kindzu como forma de passar o tempo, uma narrativa diferente e, apesar de também ser melancólica, viva e cheia de sonhos tristes. É preciso paciência para a leitura, já que acompanhamos duas linhas narrativas diferentes, o que às vezes torna cansativo.
Quanto aos personagens, digo que são muito realistas e bem trabalhados. Porém, acho que o personagem principal é o cenário, Moçambique, que tem tanta essência, mutabilidade e sentimentos quanto os humanos da história. É uma terra mãe que chora, e que toma todo o protagonismo da triste história. Prepare-se para uma narrativa diferente de tudo que já leu antes.
Recomendo "Terra Sonâmbula" para aqueles que têm interesse em entender a dor das mães de guerra, da corrupção e, em especial, para aqueles que ainda sonham.