Craotchky 31/10/2023O teorema John GreenDefinitivamente gosto de John Green; Alasca me marcou muito quando o li em outubro de 2014. Lembro como eu devorei o livro e o quanto foi impactante o principal acontecimento da história. Eu simplesmente não acreditava e fui até a última página do livro esperançando que algum artifício de roteiro iria fazer com que aquilo fosse mentira... Alasca me pegou de jeito na época...
Em 2016 li Cidades de papel, livro que, diferentemente de Alasca, não foi marcante, ainda que eu tenha gostado também. Agora, 2023, após vários anos, posso dizer que a experiência de leitura foi um pouquinho diferente daquelas duas, embora mesmo assim satisfatória. Fato é que John Green desenvolve suas histórias sem tanto refinamento narrativo, de tal maneira que elas são bastante adequadas para um público mais jovem. Nesse sentido, para leitores(as) um pouco mais maduros(as), certamente seus livros podem soar um tanto clichês, bobinhos e ingênuos.
Por outro lado, é difícil não gostar dos personagens que o autor cria (principalmente as femininas!), com suas dúvidas existenciais e seus maneirismos particulares (para citar dois: em Alasca, Miles coleciona as últimas palavras de grandes personalidades da história e aqui em Katherine, Colin tem a mania de criar anagramas). Em outra frente, o autor insere referências culturais interessantíssimas; um prato cheio para quem gosta. (Nesse sentido, aqui em Katherine ele faz um uso curioso das notas de rodapé...)
Com isso, os livros de Green se tornam deliciosos de se ler; irônicos, divertidos e engraçados. Seu consumo é fácil e sua digestão é leve. O mais legal é que, mesmo nesse contexto, Green encontra formas de abordar assuntos socialmente relevantes. Ele consegue mesclar momentos bem humorados, recheados de pequenas piadas, com trechos em que toca em tópicos como saúde física e sobretudo saúde psicológica (Green sofre com o transtorno obsessivo-compulsivo).
Assim, com desenvoltura, leveza, mas também sensibilidade, Green consegue inserir temas pertinentes ao trazer doses de representatividade no que diz respeito a determinadas condições patológicas ou minorias culturais (não é incomum Green trazer personagens imigrantes de culturas periféricas). No caso de O teorema Katherine temos as implicações na vida de um indivíduo com super dotação (condição que se traduz em uma dicotomia: por um lado Colin é considerado um prodígio desde criança, por outro lado sofre pressões destrutivas para se tornar alguém a altura de suas competências intelectuais muito acima da média) e as implicações de se ser um muçulmano no seio de uma sociedade ocidental.
Em todos os livros que li do autor uma temática universal se faz constantemente presente: a busca de um lugar no mundo, em outras palavras, a busca de um sentido para a vida. Em Alasca, Miles, inspirado pelo poeta francês Rabelais, persegue o seu "Grande Talvez"; em Cidades de papel, Margo parte em busca de si mesma; em Katherine, Colin busca encontrar seu propósito enquanto se sente sufocado pelas expectativas cultivadas pelas pessoas que o cercam e por ele mesmo...
Assim como em outro livros, o autor competentemente tece aqui um desfecho no qual ecoa uma mensagem reflexiva, positiva e otimista. Enfim, gosto do John Green e do que ele faz, e creio que gostaria ainda mais quanto mais novo eu fosse ao ler. Ele próprio parece ser tão legal quanto seus livros. No YouTube você encontra uma entrevista dele, bastante descontraída, conduzida pelo Pedro Bial. E para quem não sabe, em parceria com o irmão, o autor mantém um canal no YouTube chamado "vlogbrothers".