a.bookaholic 16/02/2014
Trilogia Divergente
Primeiramente, quero dizer que não vou focar na história em si (mortes, personagens, final, etc.), mas esse texto pode conter algumas informações reveladoras que são necessárias para o entendimento da minha percepção sobre a história.
Assim que comecei ler Divergente, confesso que não achei nada demais na distopia; nada contra, nada a favor. Inclusive, tive a impressão de que a distopia não era bem fundamentada, mas continuei a ler pelo fato de que a leitura decorre de forma gostosa e nem um pouco cansativa, de modo que te prende e, quando você se dá conta, o livro acabou. Então continuei a ler a saga. Em Insurgente, continuei com a mesma impressão até ler aquele final épico. Quando descobrimos a real intenção da distopia de Veronica, nos damos conta que é algo genial e que, de certo modo, nada tão “fora da realidade”, afinal, a violência é algo tão crescente que não faz a distopia ser fantasiosa.
A partir desse fato, obtemos um real entendimento da distopia. A violência torna-se algo tão incontrolável que o governo decide reeducar as mentes através de uma lavagem cerebral, implantando falsas memórias e criando cidades-experimento (no terceiro livro, descobrimos que existem várias sociedades isoladas com o mesmo propósito). Em Chicago, especificamente, os moradores devem escolher uma virtude, a qual acreditam ser a mais importante e dedicar suas vidas à ela (facção antes do sangue), o que é a intenção final do sistema de facções. Neste ponto é interessante tentar entender o porquê da separação da família. Na sociedade atual, a função de ensinar essas virtudes compete justamente à família. Levando em consideração que o mundo se tornou um caos, entende-se que a família não conseguiu exercer seu papel, sendo assim, podemos chegar a conclusão de que o governo apresentado na distopia considera a família um sistema fracassado, fraco e incapaz. Também é interessante nesse ponto ver como isso refletiu nesse sistema de facções. Ao longo dos livros, vemos que Caleb fez muitas coisas consideradas rudes, insensíveis e traiçoeiras contra a própria família; mas no ponto de vista de quem criou o sistema, ele estava agindo certo (facção antes do sangue). A Tris tenta a todo momento resgatar os laços familiares com seu irmão, mas ele não é capaz de entender porque ela age daquela maneira, o porquê ela age contra o sistema. Mas nós sabemos o motivo: Tris é divergente.
Os Divergentes são, em um primeiro momento, pessoas que conseguem exercer várias virtudes ao mesmo tempo. No terceiro livro, descobrimos que quando as pessoas são “dotadas” para mais de uma virtude, significa que são geneticamente puras, ou seja, os pesquisadores que criaram as cidades-experimento acreditam que a causa da violência descontrolada da humanidade dá-se em função de genes deficientes.
A trilogia de Veronica é, ao mesmo tempo, utópica e distópica. Utópica porque a sociedade criada foi implantada em uma cidade isolada do mundo para fazer com que os humanos reaprendessem a viver pacificamente. Distópica porque podemos observar que a violência conseguiu nascer até mesmo nessa sociedade isolada com cidadãos que nada sabiam sobre ela e dedicavam suas vidas a exercer os valores de suas facções (o que provavelmente aconteceu para mostrar como laços afetivos também são importantes na formação de uma pessoa, e de nada adianta fazê-la focar em algo que traria benefícios a todos se ela torna-se desprovida de sentimentos). Assim, paira em nossas mentes um questionamento: os humanos criam a violência ao longo da vida ou já nascem com ela?
Desde os primórdios, quando os primeiros grupos de humanos foram se formando, existiam conflitos. Como em qualquer grupo do reino animal. Mesmo tendo conseguido alcançar a plenitude da consciência, os humanos continuam sendo animais e cultivam seu lado irracional a espreita, só esperando o momento certo para passar por cima da mente racional. É um traço que a evolução nos deixou para que nos lembremos de nossas origens. É algo que a manipulação genética jamais conseguirá apagar.