Camille 18/05/2013http://beletristas.com/resenha-o-pessegueiro/O Pessegueiro é mais que uma história de amor, mais que uma história de amizade e descobertas ao acaso que transformam completamente a vida de pessoas que antes mal trocavam palavras. É um livro cujas palavras para descrevê-lo nunca serão capazes de corresponder ao que de fato se sente ao lê-lo.
Bem vindo a Walls of Water, uma cidade na qual os ventos sussurram, fantasmas armam suas brincadeiras para mostrar presença e sinos tocam mesmo quando portas não são abertas. Não precisa temer ao entrar nela, a magia vai te envolver e levar a um universo realístico.
“Recentemente ela tinha começado a tingir o cabelo de ruivo e, embora todos lhe dissessem que sentiam falta do cabelo castanho, a verdade era que ela ficava melhor ruiva. Mas ela provavelmente voltaria ao castanho em breve. O que as pessoas pensavam significava muito para ela.”
— página 26
É nela que Paxton mora. A mulher perfeição agora planeja a comemoração do 75º ano de Clube Social Feminino e reformar a Blue Ridge Madam é seu dever. Seus planos, todavia, vão ser questionados quando, ao retirar o pessegueiro que tinha por perto da enorme casa, alguns objetos a princípio aleatórios começam a aparecer.
Seu melhor amigo, o único por sinal, é Sebastian, um homem que ela não exatamente esqueceu desde que viu uma cena durante o ensino médio. Hoje, ele é o único a ver além da roupa incrível, o cabelo impecável e do fato de, aos 30 anos, ela ainda morar com os pais.
“Como poderia alguém, com uma vida dessas, sentir-se tão vazia?”
— página 89
Quando Colin, irmão gêmeo de Paxton, volta para a cidade por um mês a pedido dela, uma das primeiras pessoas que ele vê é Willa Jackson, a Piadista da Escola Walls of Water, que permanecera secreta até ser pega tocando o alarme de incêndio. Só então ele deixou de ser culpado pelas “intervenções” elaboradas por ela.
Willa trabalha com Rachel, uma mulher que acredita que a escolha do café e a quantidade de cubinhos de açúcar colocados nele definem o humor de qualquer pessoa. E que não acredita no sobrenatural. É ela que faz Willa sair do conforto e arriscar um pouco com Colin. Afinal, felicidade é correr riscos.
“Mas uma coisa em que ela acreditava era o amor. Acreditava que era possível sentir seu cheiro, seu sabor, que ele podia mudar toda a trajetória de uma vida.”
— página 171
É com essa história que Sarah Addison Allen nos prende a atenção e nos conquista desde o princípio. Não pela primeira vez nos apaixonamos por suas personagens bem construídas, o desenvolvimento bem elaborado e pelo o detalhismo nem sempre notado ou ressaltado por elas.
Ela nos mantém na linha tênue que separa o natural do sobrenatural, permitindo que escolhamos acreditar em um dos dois e entender alguns acontecimentos como mero acaso. Ela também nos leva a dois romances de certa forma profundos, levando-nos a acreditar no puro e simples amor, o sentimento que muda vidas todos os dias.
“O destino nunca lhe conta tudo de cara. Nem sempre lhe é mostrado o caminho de vida que você deve seguir. Mas se havia uma coisa que Willa aprendera nas últimas semanas era que, quando você realmente tem sorte, encontra alguém com o mapa. Felicidade significa correr riscos. Ninguém nunca dissera isso a Paxton. Era como se fosse um segredo que o mundo estava lhe escondendo. Paxton não corria riscos, ao menos não quando estava sóbria. [...] O fato de todas as mudanças que ela fizera nos últimos dias a assustarem tinha de ser um bom sinal.”
— página 217
Como não gostar da delicadeza da história? Ou da narrativa interessante? Ou das situações geradas por ações que, a princípio, não demonstram nada? É com esse jogo que a magia se faz presente, tornando o livro leve, mas necessário de se ter na estante porque com certeza iremos querer reler em algum momento, certamente encontrando outros detalhes que nos escaparam na primeira leitura.
Ela é única em todos os sentidos, o que encontramos em seus livros não está presente em mais nenhuma obra que já li, recente ou antiga. A cada página eu me sentia diferente, repleta de sentimentos bons, de calma, de conforto. Estive junto às personagens durante todo o tempo e, por incrível que pareça, não foi difícil deixá-las ir. De certa forma, parece que são reais, e que posso encontrá-las a qualquer momento.
“Cheguei ao ponto de simplesmente me cansar de tentar me defender. A forma que as pessoas vivem suas vidas e por quem se apaixonam jamais deveria precisar de defesa. [...]”
— página 221
É isso que Sarah nos faz sentir também em O Pessegueiro. É uma leitura altamente recomendada, para qualquer momento da vida. Vale cada centavo.