lailaoliv. 24/08/2023
As Virgens Suicidas
Eu já fui uma menina de treze anos!
Num típico subúrbio dos Estados Unidos nos anos 70, cinco irmãs adolescentes se matam em sequência e sem motivo explícito. A tragédia, ocorrida ao redor de uma família que vive em sob severas restrições morais e religiosas, é narrada por um grupo de jovens fascinados de sua vizinhança.
Quando comecei esse livro me custou uma noite, uma madrugada e uma manhã para terminar, mas mesmo depois disso tudo, e assim como o narrador, eu também não consegui tirar as garotas Lisbon da cabeça.
?Acompanhamos? a vida dessas meninas, tão iguais fisicamente, mas extremamente diferentes em questão de personalidade. Mas oque traz o diferencial é o livro ser narrado na visão dos meninos de sua vizinhança e de sua escola, com raras vezes a aparição de uma narração feminina.
Com isso não sabemos exatamente oque estava se passando com as jovens e somos direcionados a uma explicação muitas vezes sexualizada (mas mesmo assim com certa pureza)
Um livro que me deixou sem palavras e em extrema melancolia. A história das meninas entrou em minha mente de uma forma tão fascinante e viciante que me identifiquei muitas vezes com essa jovens. Acho que um homem nunca entenderia esse livro como uma mulher.
Os gritos silenciosos, a solidão e a falta de compreensão é expressa de uma forma tão dolorosa que em alguns acontecimentos a minha única reação era me calar e focar meu olhar no teto sem saber como reagir.
Com pais rigorosos, as garotas não tem muita liberdade para ser quem são e se descobrirem. E o pouco que sabemos sobre seus contatos com o mundo exterior consegue ser suficiente para nos importar e identificar com elas.
Para mim as garotas Lisbon conseguem representar tudo que acaba rápido demais: um amor, a sensação de liberdade repentina, um acidente fatal, aquela prova que você estudou por semana e sabe que se saíra super bem, mas um dia (ou horas antes) algo terrível acontece e você não pode fazê-la, os anos que passam, a perca de algo importante, uma amizade, a angústia presente de coisas que não conseguiremos concluir, sonhos que não conseguiria realizar e partes do mundo que nunca será possível conhecer.
De alguma forma a narração desses meninos me fez próxima dessas garotas de alguma forma. Li trechos de seus diários, ouvi suas músicas favoritas, senti o cheiro do quarto em que dormiam e quase fomos íntimas. E então por intervenção do destino, elas morreram e nunca saberei suas ânsias, seus medos e suas motivações.
Mas no final das contas esse livro me ensinou muito sobre o olhar masculino. Eles não amavam aquelas meninas, eles adoravam olhar para elas, eles amavam a ideia delas, eles ignoraram seus gritos de socorro e eram cegos demais para ver o que estavam passando porque estavam muito focados em todas as coisas erradas, mesmo em suas mortes, tudo o que os meninos fizeram foi sentir pena de si mesmos e romantizá-los.
Lux tinha tantos gritos claros de socorro e o Trip a tinha apenas como um acessório, e tudo o que os outros se preocupavam era observá-la no telhado e depois que morreram continuaram a não se importar com o verdadeiro motivo de tudo isso.
Não foi uma leitura maçante, pelo contrário, foi fascinante e muitas vezes emocionante.
O impacto silencioso desse livro é uma coisa que você sente em sua alma.
A única coisa que não me agradou muito foi a falta de desenvolvimento na história das irmãs mais velhas (Bonnie, Mary e Therese).
Porque diferente delas as duas mais novas (Cecilia e Lux) foram faladas em muitas partes e tendo um desenvolvimento muito maior e tivemos muito mais consciência de suas histórias do que das histórias das outras irmãs que continuam sendo incógnitas em minha mente.
Mas mesmo com esse detalhe foi um livro muito bom!
Agora eu preciso MUITO assistir o filme com a direção da Sofia Coppola, ela deve ter feito um trabalho incrível com essa história incrível nas mãos!
?O suicídio é como uma roleta russa. A arma tem apenas uma bala. No caso das meninas Lisbon, estava totalmente carregada?