Michelle.Steinhoff 23/08/2023
O inferno do holocausto acontece(u) aqui também
Esse livro é um soco no estômago.
Como a própria autora escreve no posfácio ?a literatura é um dos caminhos para o reencontro com nossa humanidade?.
Por isso a importância desse livro, de escancarar esse tema e ver que o horror vivido por judeus nos campos de concentração, está sempre mais próximo do que se imagina.
O livro, resultado de uma ampla pesquisa da autora. São muitas histórias e por isso em alguns momentos o texto parece um tanto confuso.
Na leitura vemos o pior que humanidade pode demonstrar. Falta de comida, de roupa adequada ao frio da serra mineira, abandono familiar, junto com a falta de comida, higiene, cuidados básicos.
Alguns pacientes sobreviveram comendo bichos, bebendo esgoto. Eram torturados com eletrochoque, lobotomia, banhos de água gelada, abusos de todos os tipos.
Homens, mulheres, crianças juntas, vestindo trapos (quando não o haviam queimado numa pequena fogueira para se aquecer).
Estima-se que foram 60 mil mortes entre 1930 a 1980. Para ser internado, bastava um simples atestado emitido a pedido do interessado na internação. Ou seja, quem estivesse atrapalhando o caminho poderia chegar à Barbacena no ?trem de doidos? como ficou conhecido o trem que chegava lá (igualzinho aos que levavam a Auschwitz).
Muitos tentaram denunciar essa crueldade. Não foram ouvidos. Afinal, o Colônia era um ótimo lugar para os duros anos da ditadura.
Alguns, se calaram, mas lá de dentro tentaram fazer a diferença para as vidas que estavam no inferno na terra.
As fotografias tiradas nos anos de 1960, são doloridas. Pessoas em pele e osso, olhares sem esperança, vestidas em trapos (ou nus), urubus sempre atentos e algo não dito, mas nítido nas imagens, quase sempre negros.
Uma dura realidade, mas necessária, pois como escreve a autora ?os campos de concentração vão além de Barbacena. Estão de volta nos hospitais públicos lotados que continuam a funcionar precariamente em muitas outras cidades brasileiras.
Multiplicam-se nas prisões, nos centros de socioeducação para adolescentes em conflito com a lei, nas comunidades à mercê do tráfico.?
O holocausto ainda existe e nós continuamos fingindo normalidade