Brenda @caminhanteliterario 02/10/2023Esse foi um daqueles livros que já foi um fenômeno no passado, amplamente elogiado e acarinhado pela pelas pessoas, despertando assim minha curiosidade. A ideia de A ser uma pessoa diferente a cada dia, habitando corpos diversos, é extremamente intrigante. Isso nos permite explorar como seria viver sem as características definidoras típicas, tais como raça, etnia, gênero ou orientação sexual. Além disso, nos permite imaginar como seria crescer sem uma criação fixa. Essa premissa leva A a ser um espírito desencarnado, desprovido das características com as quais os seres humanos geralmente se definem. No entanto, é relevante observar que as regras impostas são um tanto convenientes: A sempre mantém a mesma idade e está sempre dentro de um raio de quilômetros.
Vejo essa história como a personificação da empatia, na qual A é literalmente transportado para o lugar de outra pessoa. É fascinante notar como cada experiência trás um peso pra cada atitude de A. Isso nos faz refletir sobre como somos moldados tanto por nossas ações quanto por nossas vivências. Então, as diversas vidas que A experimenta ao longo do livro abordam uma ampla gama de tópicos interessantes, incluindo família, religião, gênero, relações entre irmãos, depressão, homofobia, imigração, luto e o que nos torna únicos uns dos outros. Destaco, em particular, as histórias da menina depressiva, da garota mexicana, do viciado em drogas e do obeso mórbido. O autor faz um excelente trabalho em expressar os sentimentos que motivam (ou não motivam) cada uma dessas pessoas. Tambèm gosto muito da maneira como o autor trabalha genêro na história, como algo fluido e livro.
No entanto, é aqui que está o maior defeito, pois o foco deveria estar no relacionamento do casal, algo que e eu não poderia me importar menos. Compreendo que A anseia desesperadamente por conexão, mas é difícil acreditar na profundidade dessa paixão que surge em um único dia. Outra questão que não me convence é a personalidade de Rhiannon. A razão pela qual A se apaixona por ela é que ela é gentil e capaz de enxergar as pessoas, mas é difícil não a ver como algo um menina qualquer coisa. A construção em torno dessa personagem me faz enxergá-la como uma adolescente bobinha em busca de aprovação.
A partir desse ponto, acho que A adota atitudes invasivas e até mesmo obsessivas em relação a Rhiannon. O fato de estar por perto dela sem que ela saiba não deixa de ser uma forma de manipulação, tornando difícil estabelecer uma base sólida de confiança dessa forma. Além disso, A chega a comportamentos questionáveis em sua insistência em provar que Justin não a merece. Ele acaba desrespeitando o relacionamento entre eles, menosprezando o vínculo que se forma quando compartilhamos uma história, mesmo que as coisas não estejam bem no momento. O ápice da imaturidade ocorre quando A usa o corpo de uma jovem atraente para tentar seduzir Justin.
A partir dessa fixação em Rhiannon, A começa a quebrar suas próprias regras morais, usando as vidas dos hospedeiros de forma egoísta para manter seu relacionamento com ela. Mesmo que se sinta levemente culpado, A não demonstra um verdadeiro cuidado pelas consequências de suas ações, pricipalmente com Nathan. Mais tarde, quando A acorda no corpo de um obeso mórbido e demonstra mais preocupação com o impacto disso em seu relacionamento do que em sentir empatia pela pessoa em questão, é difícil de ler.
A redenção de A finalmente ocorre quando ele faz a coisa certa, optando por agir de maneira ética, mesmo quando tem a oportunidade de continuar em um único corpo. No entanto, não posso deixar de pensar que o arco das histórias de Nathan e do Reverendo Poole é pouco explorado e parece desconectado, servindo principalmente para fornecer uma lição moral ao protagonista. Chama minha atenção quando Nathan diz a A que está preparado e conseguiria identificar o diabo em qualquer lugar, mlostrando nossa tendência humana a ser arrogante e nossa dificuldade em enxergar a realidade.
O final do livro surpreende, já que A escolhe abrir mão de Rhiannon para fazer o que é certo. No entanto, ainda acho invasivo o fato de A decidir com quem ela deve ficar. No geral, este é um livro repleto de reflexões profundas sobre diversas experiências humanas, mas deixa a desejar no que deveria ser o seu foco principal, ou seja, o relacionamento do casal. Em vários momentos, perdi o interesse na história e terminei o livro com uma leve sensação de decepção.