Cláudio Dantas 15/04/2020De abandonado à favoritoEssa foi minha segunda tentativa de ler Nárnia. Na primeira vez, eu decidi ler na ordem cronológica, como vem organizado nessa edição, e que é indicada pelo próprio autor. Porém isso foi um erro (mais adiante vou explicar o porquê), tanto é que este livro estava há anos constando no meu Skoob como abandonado. Eu cheguei a me desfazer da minha edição.
Eis que um belo dia eu vi esse livro dando bobeira na estante de um amigo e o peguei pra folhear, enquanto justificava pra ele o motivo de eu ter abandonado. Enquanto falava, me veio uma coceirinha (certeza que foi o espírito da páscoa kk) que me instigou a dar uma segunda chance, desta vez lendo na ordem de publicação. E, meus amigos... que decisão acertada!
Esse texto é um pedido de desculpas à todas as vezes que eu desdenhei/debochei de quem gostava desse livro kkk
Dito isto, seguem as minhas considerações sobre cada um:
O leão, a feiticeira e o guarda-roupa (1950)
Uma aventurinha deliciosa que trouxe um sentimento legal de nostalgia, com uma trama simples, mas bem amarrada e empolgante. Poréeeem, não foi capaz de me sugar totalmente, ou me fazer entender o fenômeno Nárnia. Faltou algo. Mesmo assim, nota: 4 estrelas.
Príncipe Caspian (1951)
O tempero que eu procurava ainda não estava nesse. Pelo contrário, esse é o pior dos livros pra mim. Não que ele seja ruim, mas o excesso de personagens secundários e a falta de mais informações sobre o vilão me fizeram não sentir tanta urgência na história. Em contrapartida, gostei da “politicagem” e das cenas de batalha. Nota: 3.5 estrelas
A Viagem do Peregrino da Alvorada (1952)
Neste sim, encontrei o tempero que faltava, e ele veio transbordando. Não costumo gostar de histórias episódicas, mas aqui tudo funcionou pra mim, para minha surpresa. A história desse livro é a mais “adulta” até então. As tramas políticas que haviam me agradado em Príncipe Caspian estão ainda mais presentes aqui, sem falar na EXCELENTE expansão de mundo. Eustáquio, apesar de irritante, soberbo e muitas vezes maldoso kkk, é com certeza o personagem com a melhor evolução dentro desta história. Mesmo que a trama dele nos traga certa semelhança com a de Edmundo no primeiro livro, a forma com que acontece aqui traz uma originalidade muito bonita. O capítulo 7 é um dos meus favoritos de todos as crônicas, tamanha delicadeza com o qual é escrito. E o final dessa história.... vou deixar minha reação no instagram: “Meu deus, amei muito puta que pariu!!! Que coisa mais linda, que coisa linda, que lindo aaaaaa. Que final!! (emoji de choro)”. O nível de engajamento que esse livro me trouxe acabou sendo um efeito em cascata com as leitura seguintes. Por isso, nota: 5 estrelas + favoritado.
A Cadeira de Prata (1953)
A expansão de mundo continuou excelente, a aventura foi uma delícia. Os personagens são super carismáticos (destaque para o paulama Brejeiro com seu pessimismo e falas autodepreciativas. Nota: 5 estrelas.
O Cavalo e seu Menino (1954)
E então chegamos ao primeiro spin-off da história principal. Minha experiência com esse livro e com o próximo seriam decisivas pra saber se minha decisão de ler na ordem de publicação seria acertada. E, como evidenciado no começo desse texto, foi. O interesse nessa história já nos é despertado n’A Cadeira de Prata, onde ela é mencionada. Isso por si só já nos dá uma contextualização que, lendo na ordem cronológica, nos passaria batida. Não que essa história não se sustente por si só, pelo contrário. Mas você saber o porquê de ela existir, antes de ler, proporciona uma maior empolgação em conhece-la. Na primeira vez que eu a li, ela não me despertou tanto interesse, justamente porque eu ainda não havia tido um background sobre o mundo de Nárnia, e ele é essencial pra você não se sentir perdido aqui. Sem falar que, de outra forma, a nostalgia sentida ao reencontrar certos personagens simplesmente se perderia. No geral, essa foi uma aventura muito gostosa, com temas, de certa forma, pesados e importantes. Nota: 4 estrelas
O Sobrinho do Mago (1955)
A essa altura, eu já estava tão imerso nesse mundo que nada mais justo do que agora eu dar uma pausa e ter disposição pra saber como ele surgiu. E é exatamente essa sensação que eu tive lendo na ordem de publicação. Cronologicamente esse livro é o primeiro e eu sou testemunha que lendo ele antes de conhecer o mundo, não te dá a mesma satisfação de pegar os easter eggs e as referências que, de outra forma, passariam batidos. O jeito como C.S. Lewis conseguiu amarrar todos os pontos com as outras histórias, me surpreendeu pelo nível de criatividade, (que só seria superado no livro seguinte), sem falar na escrita: neste ele chegou em seu auge. Não que os outros tenham deixado a desejar, mas aqui está um primor à parte: belíssima, delicada, e especialmente engraçada. Nota: 4.5 estrelas.
A Última Batalha (1956)
Criatividade é a palavra que define esse livro. Ele é o livro mais visual, desde A Viagem do Peregrino da Alvorada, e cada descrição (principalmente no terço final) te enche os olhos só de imaginar. É visualmente poético. Uma conclusão épica, com uma batalha digna do título da história, com resoluções satisfatórias e com uma cena final belamente escrita. Nota: 5 estrelas.
---Considerações finais---
Outro detalhe que me fez abandonar esse livro, no auge dos meus 13/14 anos, foi meu pretenciosismo de achar que essa história tinha uma escrita infantil demais, era boba demais. Não poderia ter estado mais errado. A escrita supostamente “infantil” que eu havia identificado é usada aqui de forma a esconder um subtexto belíssimo e muito importante, não somente sobre religiosidade, como gostam tanto de frisar, mas por questões profundamente humanas.
É um livro imprescindível. Por isso, mesmo que a média das notas que eu dei para todos os livros, se você fizer as contas rs, não chegue a 5 (na verdade deu 4.43), a experiência se sobrepôs e eu não posso dar menos que 5 estrelas.
Fui feliz lendo Nárnia, e eu espero que você também seja :)