Lu 13/11/2014
Resenha
Para começar, preciso dizer que sou muito, muito, MUITO chata e exigente com livros/filmes que prometem recontar uma história antiga de um jeito melhor ou diferente do original.
Comecei a ler Veneno porque a sinopse é bem chamativa e promete um livro fantástico, sem finais felizes e muito diferente dos contos de fadas que estamos acostumados a ler. Pensei que seria algo ainda melhor que Once Upon a Time (era uma vez), mas me decepcionei bastante.
"Veneno" começa com uma conversa entre o Rei e Lilith, a rainha má, falando sobre Branca de Neve e como ela deve ser, como deve se vestir e como deve se portar. O capítulo também traz uma descrição sensual de Branca de Neve. Até aqui tudo bem, o livro promete uma leitura agradável.
A rainha não parece ter raiva de Branca de Neve só porque ela é linda e jovem. A mim, pareceu que a raiva da rainha emanava da liberdade que Branca de Neve tinha e ela não podia ter. Me pareceu que a Rainha tinha inveja da liberdade que Branca de Neve tinha de andar, falar, fazer e vestir o que quisesse enquanto ela foi obrigada a se casar cedo e ser uma esposa "obediente".
Ok, Branca de Neve não tem nada de moça casta e inocente, não é nada discreta ou pudica, mas e daí que ela é sexualmente ativa antes do casamento? E daí que ela surpreendeu o príncipe sendo ousada na cama? E daí? Esse seria somente um detalhe picante na história repaginada de Sarah, mas infelizmente´Branca de Neve se torna um personagem raso, ainda mais raso do que no conto de fadas original. Ela parece uma garota ingênua que gosta de despertar desejos nos homens e, no final, não lhes dá nada. Em certo ponto do livro, comecei a torcer pela rainha e desejar que Branca de Neve sofresse bastante.
Tudo bem, a autora adicionou pitadas de sensualidade na história, mas não era só isso que eu esperava do livro, porém é só isso que o livro nos trás, infelizmente. Tenho a impressão que a autora se perdeu entre as tarefas de recontar a história de uma maneira totalmente diferente ou ser fiel à detalhes originais. A Rainha se torna um personagem totalmente secundário, vazio e fraco, uma adolescente deprimida e invejosa, e Branca de Neve não parece se preocupar com mais nada além de comer e beber, seguindo a vida conforme os acontecimentos aleatórios da história.
O espelho não tem sequer um papel de destaque. Da maneira que foi colocado na história, se ele não aparecesse, não faria falta alguma, mas as poucas vezes em que é citado, não faz jus ao espelho manipulador e cínico da história original.
A autora se prolonga em algumas cenas que não deveriam ter tanto destaque ou cuidado e, em outros momentos importantes, ela parece correr com a narrativa, como se aquele momento não fosse importante ou crucial na história. O capítulo em que o caçador vai arrancar o coração de Branca de Neve é um desses momentos sem dedicação e que são cruciais na história.
Há tanto "Afinal de contas" no livro que peguei um certo ódio pela frase "Afinal de contas".
E o que dizer do príncipe? Aparenta ser um boboca apaixonado, mas não é. O final do livro deixa isso bem claro. Acho que ele é o personagem mais bem trabalhado de todo o livro, o único personagem que parece ter ganhado um pouco de dedicação por parte da autora, tornando-se o meu personagem preferido do livro.
Talvez, eu esperasse muito do livro por ser uma adaptação de um conto de fadas famoso, mas fiquei decepcionada com a maneira que a autora conduziu a história. Se você vai recontar um conto de fadas famoso como "Branca de Neve e os Sete Anões", você tem que ter algo muito fantástico e incrível para contar e prender a atenção do leitor e não achei que a autora conseguiu fazer isso.
Esperava vilões ainda mais cruéis e sem escrúpulos, anões com características mais reais, princesas sofridas e alguma descrição de um reino macabro abalado pela disputa de forças entre Branca de Neve e a rainha. Esperava algo mais puxado para o terror e suspense. A ideia de reescrever um conto como esse é ótima, mas a autora não chegou lá.
Enfim, fiquei bastante decepcionada com o livro, mas até que o final foi satisfatório. Não é um livro de todo ruim, afinal consegui ler até o fim. A narrativa é leve e fluída, fácil de ler. Quem sabe, em "Feitiço", o segundo livro da série, a autora consiga colocar um pouco mais de liga em toda essa história.
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