Liz 12/07/2011Desafio literário 2011 - Julho - Novos autores - resenha 3“Aproximava-se o réveillon da virada do milênio. Ou pelo menos um dos réveillons da virada do milênio, já que havia discórdia generalizada sobre a real data da mudança de vinte para vinte e um. Uns defendiam que seria mesmo no final de 1999, período em que começa essa história. Outros, que realmente a virada seria só no final de 2000. De qualquer forma, o comércio aproveitava para vender a idéia de que o milênio viraria mesmo naquele ano, já sabendo que dali a um ano venderia a idéia do ‘Agora sim! A verdadeira virada! Esqueçam tudo o que dissemos ano passado! ’. Capitalização em dobro, pela febre consumista de pessoas ávidas por bugigangas comemorativas que em poucos meses achariam de péssimo gosto.”
Conheci este livro em um dia de tédio, enquanto passeava pelo Skoob. Com o enorme número de resenhas positivas, a alta nota média e a disputa por ele no sistema de trocas, logo fiquei muito curiosa para lê-lo. Quando finalmente o consegui fiquei meio desapontada, porque não gosto muito de histórias românticas e não esperava que o livro fosse desse gênero. Porém, com a ótima história e o maravilhoso humor de Gomyde, a decepção virou uma grata surpresa.
Os protagonistas da história são pessoas muito distintas. Ela é bem-sucedida na carreira, muito bonita e cheia de amigos. Ele não é muito atraente, odeia seu emprego e não é nada sociável. Um encontro no metrô – que na verdade nem foi um encontro – foi o suficiente para fazê-lo se apaixonar loucamente por ela. A partir desse dia, ele, que nunca havia se arriscado de verdade na vida, faz tudo e mais um pouco para se conseguir se aproximar dela.
Como é possível ver, o enredo da história não é o mais original. O desenvolvimento dele, porém, é tão bom que é impossível se importar com esse fato. O livro nos mostra uma história de amor bem realista, ao contrário de outros desse gêneros, que costumam ser extremamente fantasiosas. Acrescentando a ótima narração, leve e muito bem-humorada, deixa o livro difícil de ser abandonado.
Infelizmente, em algumas vezes, uma situação ou comentário do narrador tenta ser engraçado, mas fracassa por parecer ser produto de uma fórmula. Ou seja, algumas piadas são repetidas, com a mesma estrutura, mudando somente as situações. Outra coisa que me incomodou um pouco foram as cenas que se passam no mundo de vidro citado no título. São lindas, mas tão melosas que admito ter pulado alguns trechos. Porém, a única coisa que eu realmente não gostei foi que todos os personagens têm nomes em inglês. É algo idiota, mas para mim, uma vez que a história se passa no Brasil, pelo menos um deveria ter nome em português.
Falando em nomes, o fato de os protagonistas não terem seus nomes citados foi uma das melhores sacadas do livro. A história não é uma fútil comédia romântica – os dois têm profundidade, e o desenvolvimento deles foi muito bem feito por Gomyde. E todos os outros personagens também são ótimos, a maioria bem caricata. Também gostei muito do final – ele é meio vago, dando liberdade para o leitor imaginar o que aconteceu depois.
Eu não recomendo o livro para quem não tem senso de humor. Para quem tem, é totalmente recomendado, não importando a idade, sexo, se gosta ou não de romances. “O mundo de vidro” é um excelente começo da carreira literária do autor, e espero ansiosamente para o seu novo livro, “Infelizes para nunca”. Espero que seja tão bom quanto o primeiro.